Brasileiro descobre o que é “situação ruça” ao perder cartão de migração
Além da fama de durões nas abordagens, os policiais russos parecem se multiplicarem por todas as partes
Com policiais que se multiplicam por todos os lugares durante o dia todo, também à noite e até de madrugada, andar sem passaporte pelas ruas de qualquer cidade da Rússia pode significar uma grande dor de cabeça para um estrangeiro desatento ou desavisado.
E não basta ter em mãos apenas o passaporte. Se você for abordado nas ruas sem o seu cartão de migração e o registro migratório, também estará em sérios apuros. Foi o que aconteceu com o pernambucano Moisés Lucas Santino, que nesta terça-feira à tarde estava em uma espera havia mais de três horas no escritório do sistema federal de migração em Rostov on Don.
“Agora eu pude entender o real significado de uma situação ruça. É isso. Eles falam com a gente como se a gente entendesse a língua deles, e quem entende isso? Só eles. Imagina a pressão que é isso. Você não entender o que falam, eles não entenderem o que você fala. É uma agonia”, disse Moisés, transbordando de suor sob o sol de quase 40 graus de Rostov.
O cartão de migração e o registro migratório são documentos de importância fundamental para provar que o estrangeiro não está ilegal, e como a Rússia é um país um tanto distante dos brasileiros, não apenas geograficamente, somente em um evento como a Copa do Mundo para tornar conhecidas tais exigências do Governo da Federação Russa.
Foi instituído pelo Governo da Federação da Rússia em 16 de agosto de 2014. Depois disso, ao entrar no país todo cidadão estrangeiro deve preencher o cartão migratório que deverá ser apresentado no setor de controle fronteiriço.
Se os seus dados no cartão de migração correspondem aos seus dados do passaporte, o funcionário carimba o cartão com a sua data de entrada no país.
Já o registro migratório ou Registro de Residência Temporária se faz necessário ao estrangeiro que permanecer mais de sete dias em uma mesma cidade russa. É providenciado pelo hotel em que estiver hospedado ou pelo seu anfitrião, no caso de ficar na casa de alguma família local. Em cada cidade em que a estadia for superior a sete dias será preciso ter o registro.
De acordo com a resolução governamental, no caso de danos ou extravio do cartão migratório, o estrangeiro tem prazo de 10 dias para comunicar o ocorrido ao escritório regional do Ministério do Interior da Rússia. Feito isso, mediante apresentação do passaporte, receberá gratuitamente a segunda via do cartão migratório, que deverá ser devolvido ao setor de migração ao deixar o país.
Na teoria parece de simples solução, mas não é bem assim. Só a dificuldade da comunicação por conta do idioma russo, mais a postura intimidadora dos policiais, torna tudo bem complicado. Além da demora no atendimento, o turista vive o drama de não saber o que virá pela frente, se advertência, multa ou deportação. O ideal é não perder nem danificar os pais da migração russa.
“Eu tinha sido avisado, mas é difícil ter consciência de tudo em uma viagem normal, e durante uma Copa do Mundo é bem mais complicado. Como qualquer brasileiro fico agitado, tenso, acelerado, e aí guardar aqueles papeizinhos é quase impossível. O ideal é você ter os papeis dentro do passaporte, mas eu não fiz isso”, lamentou Moisés, enquanto aguardava uma solução da polícia de Rostov on Don.
Agora no período da Copa do Mundo, quem tem ingresso obrigatoriamente precisa tirar o seu FAN ID para ter acesso aos jogos, um documento de identificação que vem com um cordão personalizado da Fifa. Além de vital para o acesso aos jogos, serve de visto de permanência no país, mas não exclui a necessidade de ter em mãos o cartão de migração e o registro migratório. Se escapar de uma abordagem nas ruas, com certeza não escapará do funcionário da migração no embarque de volta.
Se no Brasil é comum a polícia ser acusada de abuso de autoridade em casos de abordagens, aqui na Rússia isso é uma realidade plena, e isso faz dela uma instituição respeitada e temida pela população. Para a Copa do Mundo, o Governo criou a “polícia turística” com o objetivo de mudar a imagem durona da polícia, mas os agentes parecem fazer questão de mostrar autoridade, e com um detalhe: as abordagens acontecem no meio da rua, como no Brasil, só que em idioma cirílico.
POR DENTRO DA COPA – Com o enviado especial Paulo Nonato de Souza, o Campo Grande News estará nos passos da Seleção Brasileira e de todos os acontecimentos que vão envolver o Mundial da Rússia. Veja esta e outras notícias no Canal Copa 2018.