Aos 53 anos, Joab constrói casas na árvore para quem sempre sonhou
Futuramente, Joab tem planos de viajar com o filho pelo país em motorhome e espalhar sua arte por aí
Por Idaicy Solano | 07/05/2024 06:44
Trabalho mais recente de Joab foi feito em Caarapó; casa de 30m² foi contruída em pé de manga (Foto: Arquivo Pessoal)
O artista visual Joab Pereira da Silva, 53, teoriza que, quando crianças, muitos adultos sonhavam em construir uma casa na árvore, mas não tinham a habilidade. Agora, ele realiza esse sonho para outras famílias. Em breve, o artista visual, que também é escultor e pintor, deseja levar esse sonho por todo o país e viajar o Brasil com o filho em motorhome, para espalhar sua arte por aí
O artista começou a construir as casas há dez anos, quando estava na faculdade de Artes Visuais. A primeira foi construída em Dourados, a segunda em Ponta Porã e a terceira em Caarapó. A quarta construção está em andamento, e será na cabeceira do Apa, na cidade Antônio João.
Sem endereço físico, o artista diz que seu “escritório” está embaixo das árvores. Ele viaja para atender os pedidos sob demanda, e brinca que os clientes pedem a casa para os filhos e netos, mas acabam se divertindo tanto quanto as crianças.
Eu faço casa na árvore para crianças de zero a 80 anos. É bem legal porque a gente se realiza, enquanto criança, e é mágico, eu não sei explicar. É imensurável a nostalgia em fazer uma casa na árvore, é muito legal, a gente volta a ser criança”, relata Joab.
As casas são feitas com madeira de demolição ou com reaproveitamento de material de desmonte de casas antigas. A madeira de demolição, segundo o artista, tem a vantagem de já estar bem seca, ou seja, não corre o risco de entrar em decomposição. Todo material é recolhido e levado para baixo da árvore, onde ele monta o ateliê para começar a colocar a mão na massa.
Casas são construídas sem danificar a estrutura original da árvore, e sem cortar nem um galho (Foto: Arquivo Pessoal)
Detalhe da varanda em úlimo trabalho feito por Joab; casa levou seis meses para ficar pronta (Foto: Arquivo Pessoal)
O diferencial do trabalho do artista, segundo ele, é que ele não modifica a estrutura original das árvores para construir a casa, e garante que nenhum galho é cortado no processo. As espécies mais resistentes para sustentar a construção, encontradas em abundância no Estado, são as mangueiras e as figueiras.
Ele explica que não é possível fazer um pré-projeto das casas antes de construir, pois cada árvore dispõe de um espaço e estrutura diferentes. Ele relata que faz uma vistoria, para identificar o centro da árvore e o galho mais firme para segurar a casa.
Eu uso a referência das que eu fiz para mostrar para o cliente, mas cada uma é diferente da outra. Mas fica bem bem resistente, bem seguro, não danifica a árvore, e é bem duradouro. Essa casa que eu fiz lá [há dez anos, em Dourados] está intacta, do mesmo jeito que eu fiz, até hoje”, conta Joab.
Primeira casa na árvore feita pelo artista, na cidade de Dourados (Foto: Arquivo Pessoal)
Primeira casa na árvore - Joab conta que, quando fez a primeira casa, ainda na faculdade de Artes Visuais, nunca havia tocado em um prego e um martelo. O primeiro pedido partiu de uma fazendeira, que ele conheceu através de uma colega arquiteta.
Ele relembra que precisou aprender do zero, mas que não demorou muito para entender como funcionava, pois todo o processo é bastante intuitivo. O artista explica que sua técnica foi subir nas árvores e analisar o espaço, os galhos, e então criar os projetos a partir de suas percepções do espaço.
“Como eu tenho uma noção boa de perspectiva, de desenho, essas coisas, daí eu topei fazer. Os galhos são todos aleatórios, você tem que criar e desenhar em um espaço imaginário, as linhas, para depois você construir. assim que eu subo na árvore, eu já sei como fazer tudo”, detalha o artista, sobre seu processo de criação
Além de construir casas na árvore, Joab também pinta quadros e faz esculturas; na imagem, ele segura seu quadro sobre a erva-mate (Foto: Arquivo Pessoal)
“Escritório” itinerante - Joab conta que sempre teve o costume de viajar para trabalhar e não tem pretensão de firmar um endereço físico. Há três anos, ele comprou um ônibus e está montando um motorhome para poder viajar pelo Brasil.
Ele conta que tem um filho autista, de 28 anos, e pretende levá-lo para conhecer o país, enquanto espalha sua arte por aí. O veículo já está rodando, e o próximo destino é a Cabeceira do Apa, onde ele irá construir sua quarta casa da árvore.
“A ideia é montar o motorhome para viajar pelo Brasil, fazendo outros tipos de trabalho, fazendo arte, fazendo casinha na árvore”, declara.
