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Artes

“Corpus Christis” incomoda e lambe-lambe ganha tarja da censura

Feito por Poppy, obra nasceu para provocar a reflexão sobre padrões e está na parede do Centro Cultural José Octavio Guizzo

Alana Portela | 19/12/2019 07:35
Poppy Hoogesteijn Carpio ao lado do lambe-lambe original que colou na parede do Centro Cultural José Octávio Guizzo (Foto: Higor W. Bandeira)
Poppy Hoogesteijn Carpio ao lado do lambe-lambe original que colou na parede do Centro Cultural José Octávio Guizzo (Foto: Higor W. Bandeira)

A intenção de fazer as pessoas refletirem sobre gênero ganhou outro sentido e a artista plástica Poppy Carpio se viu transformando a própria obra de arte após alguns dias.  Autora do lambe-lambe que mostra imagens de diferentes corpos, fora dos padrões, incomodou quem foi até o Centro Cultural José Octávio Guizzo, na região central de Campo Grande. A obra está colada desde o dia 11 deste mês, mas autora teve de tapar a "nudez" com tarjas.

“Não é novidade que queiram esconder e impedir corpos trans, e corpos negros, gordos, etc. Não é só do tempo de agora com a nossa situação política e social. A arte vem como um meio de combate à isso, de questionamento, mas a censura da arte e da cultura está cada vez pior”, afirma.

Ela é artista plástica e comenta que recebeu uma ligação do professor informando que o trabalho não estava agradando. “Soube que o pessoal não gostou e ele me deu ideia de colocar a tarja. Voltei no dia seguinte, conversei com a coordenadora que sentiu-se mal por ter de fazer isso. Tem essa questão da sociedade ver o corpo de maneira sexualizada”, comenta.

A obra ganhou tarjas pretas para cobrir partes dos corpos (Foto: Arquivo pessoal)
A obra ganhou tarjas pretas para cobrir partes dos corpos (Foto: Arquivo pessoal)

Aos 21 anos, ela explica que a ideia era fazer quem visse a obra refletir sobre as diferenças e quebrar o “padrão”. Poppy comenta que boa parte da obra contém imagens de pessoas transgêneras, pessoas gordas, magras, sobreviventes de câncer, pessoas com nanismo e vitiligo. “Tem ainda gente com ginecomastia que leva ao crescimento das mamas nos homens, negras, brancas, orientais e indígenas, novas e velhas, algumas tatuadas e com piercings em sua extensão corporal”.

O trabalho tem 115 de comprimento e 80 de largura, e foi a primeira colagem digital grande feita por Poppy. “Transformei num lambe-lambe maior, com várias partes e é colado usando farinha e cola”.

O trabalho ganhou o nome de “Corpus Christis”. “O título advém do fato que a obra celebra o corpo e sangue de Cristo, assim como a festa de Corpus Christi, sendo todos nós filhos de Deus. Une e mistura todos em um mesmo espaço, no mesmo mundo. Apagando a vergonha em nossos corpos e na mudança deles para nosso bem-estar”.

“O objetivo falar da igualdade mostrando que todos somos humanos. Resolvi fazer isso por conta da reação dos outros, pois, pelo tempo que estamos vivendo, realmente as pessoas se chocam ao ver corpos diferentes”.

Sempre que pode, ela traz a temática gênero para ser debatida e a obra ainda tem uma conexão com os desenhos que está expondo no Centro, junto com os formandos de Artes Visuais da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). “O nome da mostra é ‘Magnético’”, conta.

A mostra apresenta produções da arte contemporânea e aborda a difícil relação entre sujeito e a sociedade, em respostas que vão do enigmático e do sublime às mais ásperas expressões poéticas. Além dos desenhos ainda conta com esculturas, fotografias, gravuras, pinturas, etc.

Aos que ainda não tiveram a oportunidade de ver o lambe-lambe na parede do Centro Cultural, o trabalho permanece no local até se deteriorar com o tempo. Então, não faltará oportunidade de ver a obra enquanto estiver passando pelo Centro da cidade.

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