Em Corumbá, Sesc fecha as portas e população cria abaixo-assinado
Sem avisar sobre a mudança, a unidade suspendeu as atividades por tempo indeterminado e setor cultural clama por diálogo
Após ter programação afetada pelo isolamento social, o Sesc Corumbá fecha as portas na cidade, 425 quilômetros de Campo Grande. O espaço estava sem funcionar desde que começou a quarentena e no dia 18 deste mês, a casa informou que as atividades estão suspensas por tempo indeterminado. Um abaixo-assinado virtual está rolando, contudo, a diretora regional da instituição, Regina Ferro garante que não é o fim.
“A gente está mudando a forma de trabalhar. Antes atuava sozinho e agora vai ser com o Moinho Cultural, que é numa enorme fábrica antiga e fica no Porto Geral. É uma instituição renomada e tem forte influência na cultura”, destaca.
O Moinho Cultural é uma instituição que exista há alguns anos em Corumbá, onde atende crianças e adolescentes também de Ladário, das cidades bolivianas de Puerto Suarez e Puerto Quijarro. A assistência é através da arte e educação, com oficinas de dança e música.
O Lado B questionou ao Sesc se o fechamento da unidade em Corumbá é consequência do corte de verba federal.
Há dois meses a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) havia divulgado em nota que o corte de 50% da verba federal durante 90 dias iria fechar 144 unidades do Sesc em todo País, além de provocar a demissão de mais de 6,6 mil funcionários.
A nota ainda cita estados mais afetados, e entre eles não consta Mato Grosso do Sul. Na relação estão Rio de Janeiro, Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Goiás, Piauí, Paraná, Amazonas, Minas Gerais e Acre.
O Sesc afirma que o fechamento da unidade de Corumbá não entra "nessa conta". "Estamos remodelando a operação em Corumbá em virtude do cenário sócio econômico provocado pela pandemia", afirmou a instituição.
A diretora Regina relata que a decisão foi tomada após o contrato de aluguel do imóvel, onde a unidade estava há cerca de três anos, vencer. “Venceu e entregamos, mas a ideia não é sair de Corumbá, até porque temos um terreno no local. A cidade tem atuação muito forte na cultura, ainda mais na literatura sul-mato-grossense que tem raízes fincadas ali. A proposta é fortalecer mais, com parcerias”, afirma.
A unidade Sesc Corumbá está implantada na cidade desde 2013. A primeira instalação foi no espaço de convenções que fica no Porto Geral, mas tempo depois mudou de prédio. A instituição já realizou vários eventos culturais, como cinema, shows, teatro e até feira literária.
Diálogo – A notícia pegou o setor cultural da cidade de surpresa e a presidente do Conselho Municipal de Política Cultural de Corumbá, Lívia Gaertner diz que faltou diálogo. “Enviamos um ofício no dia 19, após sabermos da suspensão das atividades. Queremos entender e clamamos pela conversa”, destaca.
Lívia relata que algumas pessoas viram o momento em que um caminhão estacionou em frente à sede do Sesc, durante a noite. “Acreditaram que estava chegado reforço de materiais, livros e não retirando as coisas de lá. É uma tristeza porque não sabemos o que levou a decisão”.
Sobre a questão da pandemia ter afetado o atendimento, Lívia é clara e comenta que outras unidades mantiveram o funcionamento, mas com todos os cuidados de segurança. “Por que essa é a única unidade suspensa? A biblioteca era para ser usada nesse momento, com pessoas emprestando livros”.
Ela afirma que o Sesc é sinônimo de cultura. “Envolveu a comunidade, atendeu diversas linguagens, nasceu para ser cultural, com cinema, biblioteca, literatura, era uma oportunidade de fomentar os artistas. Existia a chance de debater com pessoas de todo País que estão na cena atual, escritores, atores, realizavam workshops, espetáculo de dança, circo”.
Além disso, a unidade foi pioneira no FliSesc (Feira Literária do Sesc), que atingia vários públicos e abrangia diversos temas voltado a literatura. O evento deu tão certo por lá que em 2019, chegou a ocorrer em Campo Grande.
“Queremos a manutenção da unidade, a garantia das atividades. Que retomem os cafés literários, projetos nacionais. Queremos a biblioteca de novo, o cinema, arte, os eventos de talentos musicais que aconteciam. Que possamos agregar e não tirar”, frisa Lívia.
Sobre a parceria do Sesc com o Moinho Cultural, Lívia destaca. “Queremos entender em que pé está a união, a previsão de retorno das atividades porquê de promessa ninguém vive”, declara. “O conselho tem representantes da prefeitura e, inclusive, a gestora do Moinho Cultural também faz parte”.
Lacuna - O diretor-presidente da Fundação de Cultura e Patrimônio Histórico de Corumbá, Joílson Silva da Cruz diz que o Sesc revigorou a produção cultural da região e deu oportunidade de acesso gratuito às suas atividades, além de contratar artistas locais. Por isso, também pede diálogo.
“Obviamente, quando o Sesc se retira daqui, deixa uma lacuna. Por isso estamos na expectativa de que a unidade seja reaberta em breve e continue todo o trabalho que estava executando. A fundação não foi informada sobre o fechamento antes, mas esperamos poder dialogar e contribuir, naquilo que estiver ao nosso alcance, para o retorno das atividades”, destaca Joilson.
O abaixo-assinado tem recolhido assinaturas pela permanência do Sesc em Corumbá, até o momento da reportagem, mais de 1,8 mil pessoas assinaram. Veja aqui.
Outras unidades - Desde março que as atividades do Sesc no Estado foram afetadas por conta da pandemia do coronavírus. As cidades decretaram isolamento social para evitar a propagação do vírus e os eventos culturais tiveram de ser interrompidos. No entanto, conforme as autoridades dos municípios foram liberando, as ações voltaram a acontecer, mas de forma reduzida.
O Sesc Cultura da Avenida Afonso Pena de Campo Grande também teve atividades suspensas por tempo indeterminado na biblioteca, cinema, cursos e oficinas presenciais, programação infantil, shows e espetáculos presenciais, até o grupo trabalho social com idosos teve a programação cancelada.
Durante a pandemia a central de relacionamento funcionará de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h30 e das 14h às 17h30. A Galeria de arte da unidade está aberta de segunda a sexta, das 14h às 17h30. Entra apenas quatro visitantes por vez e é necessário usar máscara de proteção.
Tem shows por lives que, neste mês, ocorrem nas sextas, às 19h, através do canal do YouTube do Sesc MS. Em breve, a unidade contará com ações no ambiente virtual, com oficinas de cerâmica, pintura em tela, oficina de arte para criança, café literário e clube da leitura.
Morada dos Baís – A unidade da antiga Pensão Pimentel também teve as programações culturais suspensas por tempo indeterminado.
Sesc Lageado – Localizado no Parque do Lageado da Capital, o Sesc Lageado está com a central de relacionamento funcionando de segunda a sexta, das 13h às 17h. As aulas virtuais de música e dança ocorrerão a partir do dia 25 de maio, das 13h às 17h. Já o Projeto Fazendo a Diferença está suspenso por tempo indeterminado.
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