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Artes

Estátua chegou para comemorar os 101 anos de Manoel de Barros

Monumento de bronze agora fica na Afonso Pena, em um dos lugares que o poeta amava

Thailla Torres | 19/12/2017 11:00
Natielly Albuquerque chegou cedo para uma fotografia com o poeta. (Foto: André Bittar)
Natielly Albuquerque chegou cedo para uma fotografia com o poeta. (Foto: André Bittar)

Campo Grande agora tem dois locais para tirar foto com Manoel de Barros. O mais novo fica de frente para o por do sol que ele tanto amava. Em comemoração aos 101 anos de nascimento do poeta, o Governo do Estado entregou nesta manhã (19) a estátua do poeta em tamanho real, no canteiro central da Avenida Afonso Pena, no trecho entre as ruas Rui Barbosa e Pedro Celestino.

A obra pesa cerca de 400 quilos e foi feita para retratar um momento rotineiro da vida de Manoel, a partir de registros dele sentado no sofá de casa, com sorriso cativante e trajes simples. A inauguração se deu em meio às homenagens ao poeta que, embora mato-grossense, passou parte significativa de sua vida no Mato Grosso do Sul.

Quase um ano depois de pronta e depois de uma novela sobre decisão de onde Manoel ficaria, a obra recebeu sua primeira revitalização antes mesmo de ser instalada definitivamente na avenida. Isso porque o transporte feito para as comemorações de 40 anos de Mato Grosso do Sul, não foram feitos da maneira adequada, segundo o artista plástico Ique Woitschach, que assina a obra.

Maysa Barros, nora, representou toda a família do poeta. (Foto: André Bittar)
Maysa Barros, nora, representou toda a família do poeta. (Foto: André Bittar)
Ique agradeceu a oportunidade de homenagear Manoel. (Foto: André Bittar)
Ique agradeceu a oportunidade de homenagear Manoel. (Foto: André Bittar)

"Eu estive a semana toda ajustando com um novo enceiramento e proteção. Esse é um procedimento que eu faço para instalar todas as minhas peças, porque o bronze é um material dinâmico, ele vai oxidando com o tempo, sofre ações por conta do vento e da chuva. Mas quero sempre que ela esteja com aspecto de nova e protegida", diz.

Apaixonado pelo dom de Manoel com as palavras, o artista decidiu fazer uma homenagem e ficou honrado de ver o poeta em um dos lugares que sempre amou. "É o quintal do Manoel, em baixo de uma das figueiras que ele sempre admirou. A princípio, ele ficaria de costas para o por do sol, mas por conta da mudança de local, agora ele verá todos os dias a beleza do céu sul-mato-grossense", comenta Ique.

Dona Estela, a esposa do poeta, uma senhorinha de 97 anos, vira e mexe se emociona quando lembram de Manoel, por isso não foi à solenidade hoje. "Se toca no nome dele, ela chora", conta a nora do poeta, Maysa Barros, que representou a família e recebeu com emoção a réplica da estátua em miniatura. "Estamos muito felizes pelo reconhecimento. E realizar essa homenagem tenho certeza que é um presente para família, mas principalmente para Campo Grande", diz Maysa.

Com uma saudade que não cabe no peito, ela conta que dona Estela deve visitar o monumento em breve. "Vamos fazer o possível para trazê-la em um momento mais calmo, mas com certeza, ela fará questão de vir. Afinal, era disso que Manoel gostava, de receber os amigos, dessa hospitalidade, de ficar perto da natureza que sempre fez parte da sua vida".

"Nequinho me ensinaste a reler"... o verso faz parte da canção feita pelo compositor Zédu Novo, em homenagem a Manoel de Barros, também apresentada nesta manhã. "É uma música que nasceu em 2012 quando estive com ele. Pedi que me fizesse um texto para uma música, mas ele me disse para pegar um de seus inúmeros poemas. Por isso a música nasceu em um momento que Manoel estava muito presente na minha vida e isso é algo muito especial".

Estátua agora está no canteiro central da Avenida Afonso Pena, no trecho entre as ruas Rui Barbosa e Pedro Celestino. (Foto: André Bittar)
Estátua agora está no canteiro central da Avenida Afonso Pena, no trecho entre as ruas Rui Barbosa e Pedro Celestino. (Foto: André Bittar)

E para quem ficou do outro lado da rua, só observando a cerimônia, a alegria veio ao saber que o sorriso alegre do poeta agora promete encantar o Centro. "Eu fiquei muito feliz. Com tanta notícia ruim nesse mundo, ver a representação de um artista como ele aqui na rua, é pra deixar a gente feliz. Eu me lembro do dia que ele me cumprimentou ali na Calógeras, próximo a Casa do Artesão. Foi um homem muito simpático", conta Cícero Marco Pereira, de 58 anos, que diz ter visto Manoel há muitos anos.

Silvana Terena e a filha Natielly Albuquerque, chegaram cedo para prestigiar o aniversário do poeta que agora sorri em plena Afonso Pena. "Eu tenho muito orgulho, meus pais saíram de uma aldeia terena em Anastácio para viverem em Campo Grande e aqui conheceram Manoel. Ele que sempre reverenciava a natureza, assim como a gente, é um homem de dar orgulho".

O secretário estadual de cultura, Athayde Nery, falou sobre a preservação do local. "Nós vamos ter parcerias para manter o paisagismo e principalmente a manutenção da estátua. Mas quem precisa e tenho certeza que vai cuidar com carinho, é o povo. Porque esse é um presente muito especial para a família de Manoel de Barros e para toda cultura sul-mato-grossense".

Seu Cícero diz que conheceu Manoel de Barros na Calógeras, diz. (Foto: André Bittar)
Seu Cícero diz que conheceu Manoel de Barros na Calógeras, diz. (Foto: André Bittar)

A obra de 1,38 metro de altura e 1,60 de largura custou R$ 232 mil e foi financiado pelo governo do Estado. Além do monumento da Afonso Pena, outro local para fotografias com o poeta em Campo Grande fica bem próximo dali. Na Rua 25 de Dezembro, Manoel de Barros está há oito anos sentado na praça Pantaneira, próximo à prefeitura, lendo um livro, rodeado de animais.

A obra é do artista Levi Batista. Peixes, capivaras tuiuiús e carro de boi surgiram nas mãos do artista para mostrar que o poeta veio do Pantanal.

Outras homenagens - No mesmo local, hoje, a professora Flavia Rohdt lançou o livro "Em terra de Manoel...  do barro voam aldravias". O livro traz vinte aldravias escritas pela poetisa e ilustrações do artista plástico Guto Naveira. A autora explica que a aldravia é uma forma poética elaborada por Gabriel Bicalho composta de seis versos, seis palavras e, reunido as aldravias que produziu inspiradas nas poesias e próprio Manoel de Barros, veio a ideia do livro em sua homenagem.

Neste terça-feira, às 18h, na Leparole será lançado a obra “101 Reinvenções para Manoel". Livro que traz 101 diferentes releituras e pontos de vistas de  autores sobre o poeta. E trata-se do primeiro volume de uma trilogia onde o "102 Reinvenções de Manoel, além de escritores do MS, haverá texto de autores nacionais e o “103 Reinvenções de Manoel” deve incluir autores de todos os países que têm o português como língua oficial”.

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