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Artes

Novo documentário investiga a memória e a identidade de MS

Obra traz perspectivas importantes de estudiosos e relatos de cidadãos que vivem a realidade fronteiriça

Thailla Torres | 26/08/2023 08:44
Rico em personagens e dados da realidade histórica e cultural sul-mato-grossense, o audiovisual investiga quais elementos que, social ou artisticamente, constroem o perfil deste povo.
Rico em personagens e dados da realidade histórica e cultural sul-mato-grossense, o audiovisual investiga quais elementos que, social ou artisticamente, constroem o perfil deste povo.

“A gente consegue perceber muito mais essa conexão com a América Latina do que quando está realmente no litoral. Eu acho que existem muitos Brasis na verdade”, define o pesquisador e professor Evandro Higa que com seu relato sábio e cirúrgico abre o documentário “Memória e Identidade”, da banda Projeto Kzulo. Rico em personagens e dados da realidade histórica e cultural sul-mato-grossense, o audiovisual investiga quais elementos que, social ou artisticamente, constroem o perfil deste povo que distante das praias está mais próximo dos “hermanos”, países que assim como o nosso formam a América do Sul.

Contexto esse que na poesia, música, de Geraldo Rocca foi definido com maestria como  “Litoral Central”. Ponto esse que foi destacado pelo amigo do artista e, também, músico Renato Teixeira dentro do documentário.

“A nossa música autoral tem base nos ritmos fronteiriços. Tem a ver com Assunção, não tem haver com São Paulo. Geraldo Rocca fala: Música do Litoral Central. Ele se refere à Bacia do Prata porque estamos no meio do continente, no final deste caminho das águas, que começa lá embaixo e vem subindo pelo Rio Prata, Paraná e Paraguai. A gente está no final dessa three way hídrica”, explica Renato, com a sutileza de um artista e pesquisador apaixonado pelo Mato Grosso do Sul, que deixa claro o quanto precisamos nos enxergar neste local transfronteiriço. “A gente fica muito ficcionado com São Paulo, Rio e tal. E o nosso vento é outro, nosso vento é Assunção, a Bacia do Prata, é o outro lado, entendeu?".

E para quem quiser compreender todas essas questões levantadas pelos pesquisadores, pelos oito músicos da banda Projeto Kzulo e tantos outros importantes convidados a fazerem parte do documentário, basta acessar o canal do Youtube (@projetokzulo). Em formato de websérie, a produção foi lançada na noite de quarta-feira (23), de forma híbrida - online e com show no Armazém do Campo, na Capital.

Para quem compareceu ao evento presencial como o professor de Sociologia e Filosofia da UCDB, José Manfroi, a abordagem proposta pelo projeto cultural desenvolvido pela banda Kzulo foi de extrema relevância.

“Foi muito importante porque trazer essa questão da cultura e da identidade reforça os elementos que a gente precisa trabalhar mais dentro da sociedade sul-mato-grossense. Aqui, existem muitos problemas de preconceitos e estigmas que devem ser superados. O vídeo mostra como um projeto cultural, por exemplo, pode mostrar e dar uma nova dimensão para isso”, disse o docente em tom de aprovação quanto a tudo que viu.

Lançamento do documentário.
Lançamento do documentário.

Outra que curtiu o conteúdo e vai recomendá-lo para amigos é a jovem formada em História, Lívia Mendonça. “É essencial essa importância que eles dão para essa memória e identidade de Mato Grosso do Sul. Uma banda consciente da sua condição, do seu papel, onde estão e para onde querem ir. Dá até um arrepio de falar disso”.

Com 30 minutos de duração, o documentário possui três episódios de 10 minutos e cada um traz relatos de pessoas que participaram das oficinas e shows do projeto “Memória e Identidade” que percorreu três cidades do MS (Dourados, Três Lagoas e Nova Andradina).

O próprio caráter itinerante do projeto traduz um pouco da essência do Kzulo que, formada por brasileiros e colombianos, tem em seu gene musical a vontade de integrar às riquezas culturais latino-americanas, como argumenta o baterista da banda, Alejandro Lasso, que ao final do documentário nos deixa um breve spoiler do que esses artistas estão por criar e, claro, encantar fãs e público em potencial.

“É um desafio. Nós estamos discutindo isso, com certeza, surgirá alguma composição que seja mais fiel aos ritmos da fronteira como, por exemplo, a polca, o chamamé - que tem outras métricas diferentes - ou o que a gente já explora  e alguma coisa virá por aí”, afirma o músico colombiano que por ser professor universitário contribui com seus anseios educacionais. “Tenho minha motivação de escrever artigos científicos que reflitam essa identidade e cultura e de como  uma troca artística pode ajudar e entender para que a arte e a cultura do MS avance, comunique, produza e se fortaleça”.

“Memória e Identidade” foi desenvolvido pela banda Projeto Kzulo. Um trabalho cultural contemplado pelo FIC - Fundo de Investimentos Culturais, da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), por meio da Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), do Governo do Estado.

Trabalharam na obra Thauanny Filmes (Produção audiovisual), Pâmella Rani (Pesquisa e desenvolvimento, roteiro de questionários), Duka Martins (Fotografia), Dayane Bento (Figurinista), Tatiana Tássia (Libras) e Ednilson Sacramento (Audiodescrição) juntamente com os integrantes da banda Projeto Kzulo - Marco Aurélio e Wellington Cháves (Nino), nos vocais; Lucas Rabelo, na guitarra; Ricardo José Lourenço, no contra-baixo; Claudio Alves, no trombone; Julián Vargas e Lana, na percussão e Alejandro Lasso, na bateria.

Documentário “Memória e Identidade”, da banda Projeto Kzulo disponível gratuitamente no Youtube pelo canal @ProjetoKzulo. Classificação livre.

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