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Comportamento

A tarefa não precisa ser uma tortura dentro de casa

É preciso conhecer os limites da criança e estabelecer uma rotina saudável dentro de casa, o estresse não vai adiantar

Thailla Torres | 12/05/2020 06:34
A psicopedagoga e mestre em Educação, Talita Rosa, afirma que o papel dos pais é inserir a criança ou adolescente em uma rotina consistente de estudo. (Foto: Kísie Ainoã)
A psicopedagoga e mestre em Educação, Talita Rosa, afirma que o papel dos pais é inserir a criança ou adolescente em uma rotina consistente de estudo. (Foto: Kísie Ainoã)

A hora da lição de casa pode ser uma tortura para os adultos e boa parte das crianças e adolescentes, principalmente quando a compreensão de que o momento é importante demora a acontecer, especialmente nos pequenos. O que acaba testando, e muito, a paciência dos pais. Em tempos de pandemia e a distância da escola, os momentos para fazer a lição de casa se intensificaram com as aulas on-line. E, mais uma vez, pais e filhos estão sendo desafiados. Mas como fazer a criança entender que, por alguns minutos ou hora do dia, será necessário deixar a brincadeira de lado, e se concentrar no que é importante?

Ana estabeleceu algumas regras e reorganizou toda a rotina dentro de casa. (Foto: Arquivo Pessoal)
Ana estabeleceu algumas regras e reorganizou toda a rotina dentro de casa. (Foto: Arquivo Pessoal)

A psicopedagoga e mestre em Educação, Talita Rosa, afirma que o papel dos pais é inserir a criança ou adolescente em uma rotina consistente de estudo, com tranquilidade, claro. “É necessário encontrar meios que facilitem o aprendizado na casa, para que o peso da tarefa não seja transmitido para os filhos. Quanto mais o adulto estiver nervoso, cansado e estressado, as crianças vão ficar assim também. É necessário explicar que agora eles estão numa rotina de tarefas dentro de casa, que é um momento, e que isso vai passar. Assim como eles estão achando tudo isso estranho, a escola também está. Então, os pais devem passar essa tranquilidade, mesmo que não estejam tranquilos”, pontua a especialista.

Profissional da área jurídica, Ana Paula Correia, é mãe e tem vivido uma rotina intensa nos últimos dias, desde que passou a conciliar o teletrabalho, com as tarefas domésticas, a rotina do filho e as lições da escola. “No começo, foi muito difícil. Eu estava angustiada e com vontade de chorar todos os dias”, lembra.

Ana mudou a rotina diversas vezes, escolheu trabalhar de noite para dar conta de todo o resto durante o dia, no entanto, a falta de descanso gerou um novo desgaste, e assim ela reformulou as atividades dentro de casa para acompanhar o filho em todas as lições. “Eu comecei a fazer trocas com ele, administrei os horários, criei um ambiente calmo e organizado para os estudos e busquei respirar em todos os momentos. Tem dia que não está bacana, ele não se sente à vontade. Entendo porque ele estava acostumado com o lar como cantinho de descanso, de repente transformamos a casa, que além de todas as regras, agora abriga as regras da escola”.

Mas para tornar tudo ficar mais leve, Ana abriu mão da cobrança excessiva e do estresse. E isso deu resultado, afirma. “Ainda acho difícil porque não tenho didática para ensinar, a gente ensina o básico em questões de conteúdo escolar, então busquei um meio de fazê-lo absorver de forma mais leve, para que o resultado não seja traumático”, explica.

Helena, filha de Mariana, está se adaptando a nova rotina de estudos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Helena, filha de Mariana, está se adaptando a nova rotina de estudos. (Foto: Arquivo Pessoal)

A jornalista Mariana Castelar compartilha do mesmo sentimento e da angústia de fazer a filha, de 10 anos, entender que a nova rotina dentro de casa não significa férias. “É muito difícil explicar isso, inserir uma rotina de estudos num ambiente que ela estava acostumada a viver com tranquilidade e menos compromissos. Acho que o maior desafio tem sido esse, explicar que neste momento essas horas de estudos são importantes, e não uma punição”.

Por isso, a psicopedagoga orienta que o diálogo é essencial. “Conversar com as crianças e adolescentes sobre essa mudança é essencial, eles devem entender o que está acontecendo e assumir junto aos pais esse papel de estudante”.

Em alguns casos, é preciso estar atento se as dificuldades que a criança tem estão relacionadas a ausência dos pais, o que pode acontecer, afirma a psicopedagoga. “As crianças fazem birras e tem comportamentos inadequados muitas vezes para chamar atenção de seus pais. Sempre digo que, por mais que tenham pouco tempo com seus filhos, procurem ter um tempo de qualidade com eles, fazendo brincadeiras e jogos que eles gostem, conversando sobre o dia-a-dia, os conflitos, e procurem não utilizar o celular ou outra tecnologia nestes momentos”, orienta.

Quando a criança começa a chorar, também é necessário entender os limites. “Se a mãe ou pai perceber que a criança está cansada e seu tempo de concentração se esgotou, penso que ela deve parar e tentar fazer em outro horário. Mas, caso ela perceba que a criança está fazendo apenas um jogo emocional, é preciso fazer combinados com esta criança e tirar algum direito dela, como assistir TV e brincar com algo que goste”.

Dicas para tornar a tarefa mais leve:

Rotina - A falta de rotina em casa, tanto para o estudo, quanto para alimentação e sono, é um dos fatores que influenciam na lição de casa. É preciso que os pais insiram a criança ou adolescente em uma rotina consistente. Eles devem ter hora para fazer os estudos, tarefas e atividades para que isso se torne um hábito, como na escola. Também é importante que se alimentem e durmam adequadamente para ficarem dispostos a fazer todas essas atividades.

Frequência - É preciso que todos os dias os pais proporcionem os momentos de estudos. Se a criança ou adolescente faz um dia sim, outro não, ou passa alguns dias sem fazer, ela percebe que isto não é tão importante para ela e acaba fazendo “jogo” com os pais. Ter uma frequência também é importante para que o conteúdo não se acumule.

Combinados - Os pais devem conversar com seus filhos sobre este momento atípico que estamos vivendo e expor a eles quais suas obrigações enquanto estudantes. É essencial que antes das aulas eles façam combinados e se prepararem antecipadamente para ela (usem o banheiro, comam...) para que tenham um melhor aproveitamento. Também é preciso que os pais sejam firmes e deem limites claros a eles.

Com a pandemia, as crianças e adolescentes estão sentindo a frieza e impessoalidade de aulas pela tela de um computador, por isso, Talita reforça que os pais mantenham a calma e busquem transmitir isso para os filhos. “Essa pandemia é algo atípico que tem acontecido. Nem os pais, nem a escola e nem os alunos estão preparados para isso. Então quanto mais tranquilos e buscando estratégias, sempre pensando positivo, será melhor para as crianças”.

Quando a pandemia tiver fim e as crianças retornarem às aulas em sala, Talita sugere que a escola faça uma atividade diagnóstica com todos os alunos para saber até onde eles conseguiram entender as aulas online, para depois retomar os conteúdos. “A escola tem essa obrigação de reorganizar esse calendário para quando as crianças voltarem.”

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