Altar centenário é exemplo de que Paraguai acompanhou Juan até o fim
Filhos contam que o pai foi um dos primeiros moradores da R. Paissandú e um dos últimos antigos a se despedir
Nascido na cidade de Natalicio Talavera, no Paraguai, Juan Ramon Cristaldo manteve o Paraguai forte em si mesmo tendo vivido por 67 anos no Brasil. Em casa, desde um altar centenário trazido do outro país até ervas medicinais que fizeram parte de sua formação, um pouco de tudo permaneceu até seus 90 anos como um integrante orgulhoso do povo paraguaio.
Morador do Bairro Amambaí por mais de seis décadas, os quatro filhos contam que Juan foi um dos primeiros moradores da Rua Paissandú e também um dos últimos antigos a se despedir. E, mostrando que o lar nunca deixou de ser acompanhado pelo Paraguai, o filho Luiz Alexandre Cristaldo narra que os detalhes continuam até hoje.
Feito de madeira e com imagens tão preservadas quanto a estrutura, o altar é a lembrança mais antiga deixada por Juan. “Era do meu bisavô, pai da minha avó Ana e foi passado para o meu pai. Ele trouxe com ele do Paraguai e guardou desde então. Por isso sei que tem mais de cem anos, com certeza”.
Além da fé, Luiz narra que as lembranças do outro país se espalharam até mesmo pelo quintal da casa. Isso porque Juan não quis deixar de fora o estilo que se lembrava do Paraguai em conjunto às plantas medicinais que eram comuns entre a família.
“Nós temos o cocú e também o doutorzinho, os dois são medicinais. O cocú sei que é realmente paraguaio, muito comum lá e eles usam bastante para infecções, inflamações, é depurativo do sangue. Então todo dia, quando tomamos tereré, pegamos algumas folhinhas e colocamos também”, explica Luiz.
Também dentro de casa, que hoje se tornou um espaço ainda mais forte de memória, o orgulho de Juan se mostra até em homenagens recebidas. Isso porque ele foi um dos fundadores da Colônia Paraguaia, como comenta o filho.
Em uma das paredes, assim como fotos da família foram inseridas, uma placa de homenagem ao Dia do Povo Paraguaio é mantida firme. “Ele participou da fundação da Colônia Paraguaia aqui na cidade. Na época, eles tinham um grupo de amigos que se juntava para se reunir e confraternizar. Não falavam português direito, não tinham outros amigos, então ficavam ali entre eles”.
Por esse contato tão próximo com a cultura, Luiz comenta que a vida em família sempre foi embalada por muita polca paraguaia, churrascos e eventos na Colônia.
“Ele teve essa relação com a colônia durante a vida toda, foi conselheiro se não me engano. Na minha infância toda sempre estávamos nos bailes. Todas as famílias paraguaias estavam lá aos domingos, era um momento muito bacana”, relembra Luiz.
Hoje, recuperando as lembranças do pai, ele completa que a tristeza da perda é óbvia, mas saber que Juan viveu intensamente é o conforto.
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