Aos 77 anos, Martim cria versos e declama poemas escritos desde 1959
Apaixonado por poemas de cordel, ele começou a escrever na infância e não parou mais
Martim Euclides de Carvalho, de 77 anos, é um poeta completo. Repentista experiente, ele improvisa versos sem dificuldades sobre pessoas, lugares e momentos. Filho de nordestinos, ele nasceu em São Paulo, mas fez de Mato Grosso do Sul o lar onde vive com a família.
A história do poeta Martinzinho chegou ao Lado B através do filho dele. Clislênio De Souza Carvalho comenta que o pai possui conhecimento sobre diversos temas mesmo não tendo concluído os estudos.
“Ele estudou até o terceiro ano e foi aprendendo com a vida. O terceiro ano é do conhecimento que ele teve, mas ele tem muito mais do que isso. Ele fala sobre política, história, fala de muitas coisas que as pessoas que têm esse conhecimento são doutores. Eu acho impressionante a capacidade que ele tem de retórica, argumentação”, afirma.
Veja o vídeo:
Durante a entrevista esse lado erudito de Martim fica evidente através da multiplicidade de assuntos abordados em incontáveis poemas que recitou. O poeta mostrou toda criatividade e talento e no final repórter e fotógrafa ganharam um poema bem rimado.
A data que iniciou o contato com os primeiros versos, ele não esquece. “Comecei a escrever no dia 3 de maio de 1959 e de lá para cá não parei mais. Fui escrevendo coisas que ficaram no passado, as atuais. Eu gosto muito, tenho dom da poesia, de memorizar e contar a história”, diz.
A paixão de Martim são os poemas de cordel, que tem como principal característica os versos rimados. O contato com essa literatura veio através do pai que levava folhetos para casa.
“Toda vida gostei de verso de cordel, eu sou paulista, mas meus pais são nordestinos e eu gostava de versos de cordel. Meu pai trazia os folhetos da cidade e para se divertir pedia pra mim ler ou cantar. Eu fazia as duas coisas”, comenta.
Martim também demonstra se divertir enquanto cria os poemas. Ele expõe toda essa habilidade ao se prontificar em criar um poema com qualquer palavra ou tema que fosse sugerido. "Eu nunca tive professor e aprendi comigo mesmo, fui aprendendo devagarinho. Hoje se vou escrever ninguém entende, mas eu gosto de poesia, de fazer versos. Se você quer que eu faça, faço na hora”, diz.
Na hora, o poeta declama versos inspirados no aniversário de Campo Grande no dia 26 de agosto. "Eu deixei o meu nordeste onde o meu céu é mais azul, montei em um jumento velho chupando manga e caju, vim conhecer as planícies de Mato Grosso do Sul’. Esse é um verso, é uma sextilha”, explica.
Após mostrar um dos sistemas, Martim aproveita para declamar mais poemas. Um dos que escreveu é sobre o período da pandemia do coronavírus. "Foi na China que surgiu esse tal coronavírus, começou a matar o ser humano, toda classe social, a doença no mundo deu um giro, quem pegou deu o último suspiro, agindo com toda a crueldade, fazendo a maior perversidade, mas não dominou a minha fé, esse tal coronavírus é inimigo de toda a humanidade", declara.
Outros poemas dele trazem temas ligados ao descobrimento do Brasil, abolição da escravatura, invasão ao Congresso de Brasília em 2023. Além de temas relacionados a história do País, Martim também escreveu casos policias emblemáticos, como da menina Isabella Nardoni e a atriz Daniella Perez.
A fé é outro tema abordado nos versos do poeta que fez um especialmente sobre Nossa Senhora Aparecida. "Ela tem uma história que contam uma parte, mas a outra é escondida que é a parte que a imagem foi para as águas", explica. Martim com sua liberdade poética criou uma narrativa com 37 estrofes onde diz misturar ficção e realidade.
Em outra produção, ele fala sobre Jesus Cristo. "Eu sou uma obra do Espírito Santo lá da minha terra de Jerusalém, do Espírito Santo mamãe engravida, numa manjedoura nascia em Belém, por isso, sou o ar que todos respiram, a visão completa e o som do seu canto. Eu sou o sorriso da humanidade, mas quando ela chora sou eu o seu pranto", declara.
As declamações seguem o ritmo e timbre de voz adequado de quem tem muita experiência como repentista. Há anos atrás, Martim rodava cidades fazendo essa arte. "“Já fui repentista também, já andei cantando de viola nesse Brasil afora, mas hoje gosto de escrever e declamar onde me chamam por prazer e para passar o tempo”, recorda.
Como queria formar família, ele saiu do grupo e tempos mais tarde voltou a vida de repentista. Antes da pandemia, ele integrava um grupo que se apresentava no Hospital São Julião, mas que hoje não está mais ativo.
Martim segue escrevendo, sempre anotando as inspirações no caderninho para não esquecer. Ele ainda tem vontade de ver todo o material publicado, mas para isso queria ajuda de algum empresário ou quem estivesse disposto em contribuir com a publicação da obra. "É claro que eu queria sim ter um livro para ficar na história e dentro disso você encontrar um monte de poemas”, destaca.
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