Aos 94 anos, Manoel mostra que é "campeão" em carpir lote
Ele sempre inventa algo para fazer e não tem preguiça de carpir mais de duzentos hectares
Aos 94 anos, Manoel Gomes dos Santos ganha de muitos jovens quando o assunto é saúde e disposição. Para ele, a idade é somente um número que carece de relevância, mas não é desculpa para ficar parado. Apaixonado pela vida na zona rural, coragem é o que Manoel mais tem, por isso, vive pegando no cabo da enxada e mostrando que dá conta de carpir mais diversos hectares de terra sozinho.
Um dos quatro filhos, José Antônio dos Santos, 51 anos, admira a força e energia demonstrada pelo pai. Por esse motivo, José sugeriu que o Lado B contasse a história do senhor que é exemplo de como levar a vida.
Quem conhece Manoel não acredita de primeira na idade que ele tem. Eu mesma tive minhas dúvidas, mas a carteira de identidade não o deixa mentir. Nascido em 1928, Manoel é o quarto mais velho de 17 irmãos e um dos poucos da família que continua vivo.
Morador do Bairro Guanandi, Manoel contou para a reportagem as histórias vivenciadas ao decorrer de mais de nove décadas. Agricultor, professor de Matemática, corretor e ex-soldado que escapou por pouco de lutar na Segunda Guerra Mundial.
De acordo com o aposentado, as rezas e promessas feitas pela mãe na igreja foram o que causaram a dispensa do serviço militar. “Eu ia para a guerra, mas trabalhava na roça com os meus pais. Eu queria servir, porque queria ser aposentado como capitão, mas minha mãe fez promessa para que a Nossa Senhora da Aparecida não deixasse eu ir”, conta.
Diferente da maioria dos jovens da época, Manoel casou tarde, aos 29 anos. O motivo para ter demorado tanto para subir ao altar é porque quis ajudar na criação dos outros irmãos. “Quando ajudei o último a comprar uma terra, resolvi casar. Faltava quatro meses para fazer aniversário, caso tivesse completado 30 anos, não ia me casar mais não”, ri.
Natural de São Paulo, ele chegou em Campo Grande no ano de 1955. Agora, faz planos de ir para Manaus (AM). No município, Manoel comprou um pedaço de terra e não vê a hora de começar a trabalhar. “Eu estava aqui, mas por causa da família, porque gosto mais de lá. Aqui, fiquei muito tempo trabalhando, consegui fazer algumas coisas, mas diz que lugar bom pra gente é o lugar onde a gente é feliz”, afirma.
Estar sempre em movimento e trabalhando, segundo Manoel, é o segredo por trás da saúde e bem-estar. No jardim da residência, ele começou a limpeza da grama e ajeitou a muda de algumas plantas. Devido à chuva registrada neste final de semana, o projeto foi adiado temporariamente.
Questionado de onde vem tamanha disposição, Manoel explica que é um erro achar que a terceira idade deve ser vivida de forma preguiçosa. “Se a pessoa de idade fica parada, vai travando. Quanto mais luta, mais força tem. Aqui, se eu fico sem fazer nada, adoeço”, esclarece.
Além do exercício físico, ele também dá um jeito de exercitar a mente. Como foi professor de Matemática, no tempo livre, ele gosta de relembrar o passado e fazer alguns cálculos. Nos diversos cadernos que tem na residência, Manoel faz cálculos sobre os hectares da terra adquirida, somas sobre as plantações que cultiva e outras contas do cotidiano.
Na visão de José Antônio, o pai é um dos poucos homens que conseguem levar um estilo de vida ativo. Orgulhoso, ele conta a última façanha feita por Manoel. “Ele é fenomenal, ele é um homem que tem uma saúde de ferro. Há 15 dias, ele esteve na chácara do meu irmão e carpiu o lugar naquele sol terrível de três horas da tarde. Eu vejo poucas pessoas nessa faixa etária com essa disposição e mente”, ressalta.
Por ora, o quintal e a própria casa ficaram pequenos demais para a energia que Manoel esbanja. Animado, ele mal espera pelo momento que irá viajar para iniciar a próxima fase de vida em Manaus. “Eu vou plantar, mexer com gado, eu gosto muito da mata, me sinto muito feliz”, finaliza.
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