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Comportamento

Batizada de Felicíssima, senhorinha que faz jus ao nome procura prima xará

Paula Maciulevicius | 26/11/2016 07:05
Em homenagem à avó, do lado da mãe só ficou o nome Felicíssima. Mas nem isso tira a sorriso dela. (Foto: Alcides Neto)
Em homenagem à avó, do lado da mãe só ficou o nome Felicíssima. Mas nem isso tira a sorriso dela. (Foto: Alcides Neto)

Se a felicidade encontrasse pernas e braços, cruzaria com o sorriso desta senhorinha. Simpática desde o primeiro alô, dona Felicíssima faz jus ao nome que ganhou, em homenagem à avó materna. Aos 78 anos, ela encerra cada frase com uma gargalhada e até parece que cresceu protegida da tristeza. 

Quando o telefone chama, do outro lado a voz não nega. Se trata de uma avó - hoje já bisavó. Pergunto quem fala e ela responde com outra pergunta: quer falar com quem? "Dona Felicíssima". "Sim, pois não? Sou eu". Jurava que adiante viria uma negativa, de que era engano o nome. 

"Sou eu mesma. É porque foi minha mãe que colocou. Minha avó chamava Felicíssima", conta de imediato. A mãe, dona Felicíssima não chegou a conhecer. Ela morreu seis dias depois do parto e a associação que a família sempre fez para justificar, vem da morte repentina de uma sobrinha que caiu no poço.

Felicíssima de carteirinha. (Foto: Alcides Neto)
Felicíssima de carteirinha. (Foto: Alcides Neto)

"A gente morava na campanha, né? É fazenda, não tinha médico, nem nada", explica. Nascida na região de Ribas do Rio Pardo, Felicíssima foi criada pelos avós paternos. O pai se casou de novo e ela ficou sendo a mais velha de 10 filhos.

Da avó materna, ela não sabe de nada e nem tampouco da mãe. "Só sei que uma tia minha também colocou o nome de Felicíssima numa prima, mas eu não a conheço, porque a gente separou daquela família", lamenta.

Dia desses, ela até chegou perto de saber se a Felicíssima do cadastro da farmácia do bairro era a prima. "A moça puxou no sistema, eu falei meu nome, mas não era o meu e ela não quis falar o sobrenome", se chateia. Na verdade, o que faria Felicíssima ainda mais feliz, era conhecer a xará.

"Eu sempre fui felicíssima mesmo. Graças a Deus, sabe? Não me criei com mãe e nem com pai. Fui criada com meus avós e tias, mas muito bem criada e bem dengada", descreve. "Sempre que posso, independente do que estiver acontecendo, estou sorrindo", completa.

O motivo por trás de tanta alegria? Ter compartilhado das pequenas felicidades no dia a dia de alunos da primeira escola de Jaraguari. Quando adulta, Felicíssima se mudou para lá e foi secretária por 21 anos. Sabia de tudo e todos, endereço, nome completo e fisionomia. Mais que alunos, formou amigos.

A alegria é tanto dela que o documento vira um mero detalhe. (Foto: Alcides Neto)
A alegria é tanto dela que o documento vira um mero detalhe. (Foto: Alcides Neto)

A história dela passa pela posição que a mulher ocupava décadas atrás. Sem estudo, só foi para o banco da escola depois de grande. Se formar mesmo? Só aos 52 anos, em Pedagogia, uma de suas grandes realizações.

A mudança para Campo Grande se deu em 1996, depois de ficar viúva e para ajudar na criação dos netos. Hoje eles já são quatro e há uma bisnetinha.

E durante a vida toda, o que ela mais ouviu sobre o nome? "No telefone, as pessoas dizem: 'eu não estou de brincadeira, quero saber quem está falando'", reproduz. Em resposta, dona Felicíssima afirma que também não está e que este é seu nome. 

"Se a gente tem que fazer jus ao nome? Não sei, isso pra mim vem da natureza, não é?"

O nome escolhido pode ter sido a força que a família materna deixou em Felicíssima por saber que estaria longe. Do marido, dona Felicíssima consegue até rir quando era pra chorar. "Eu sempre gostei de trabalhar fora, de ter amizade com as pessoas. Mas ele, não... Eu cheguei a ir ao padre para saber o que fazer e ele me disse que se eu trabalhasse o dia todo, quando chegasse em casa ele estaria com saudade. Mas não, ele estava sempre era mais bravo", e emenda numa gargalhada. 

O documento está ali para quem quiser ver. Como se precisasse... Se o registro não lhe desse a felicidade, dona Felicíssima iria buscar ou então faria com que ele a encontrasse. Ela nasceu para ser feliz. 

Sobre mudar o nome? Nunca quis. "De jeito nenhum, porque era da minha avó e eu tinha aquela consideração. O que me fez feliz na vida? Trabalhar naquela escola, eu adorava mexer com criança. Eu era muito, como se diz, felicíssima", brinca. 

Já na despedida, perguntamos o que é a felicidade para quem carrega ela consigo há 78 anos. "Eu acho que é viver aquilo que a gente gosta. Eu adoro meus filhos demais, a gente é muito chegado na família. Nos dias de domingo, eles vem tudo para cá. Filhos, netos e aquilo para mim é a felicidade que eu tenho na vida. Dinheiro para mim? Não, eu não sou feliz com ele. Sou feliz vivendo junto dos meus filhos", ensina.

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O que é felicidade para a dona dela? A família. (Foto: Alcides Neto)
O que é felicidade para a dona dela? A família. (Foto: Alcides Neto)
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