Das regras à fibra do caraguatá, o quanto você conhece o Pantanal?
O Lado B trouxe curiosidades e práticas, que só falando com quem é nascido e criado no bioma para saber
O interior de Mato Grosso do Sul é um lugar que guarda inúmeras riquezas, não apenas na fauna e na flora, mas também nos saberes que não foram registrados em livros. Na "lida" do dia a dia, muito aprendizado é adquirido na prática e repassado entre as pessoas.
Passar um final de semana imerso na cultura local, com pessoas nativas da região, e voltar para casa sem nenhum conhecimento é praticamente impossível. Por isso, o Lado B trouxe algumas curiosidades e práticas da região que provavelmente só quem é nascido e criado por lá sabe.
Você conhece o ritual do almoço de comitiva?
Como as comitivas percorrem longas jornadas sem acesso a restaurantes ou algo semelhante, um dos homens se responsabiliza por preparar as refeições.
Como não há geladeira nem fogão nas viagens, é necessário montar toda uma estrutura de fogão à lenha e carregar os ingredientes, pratos e talheres nas brucas – caixas de couro de boi onde são guardados os utensílios de cozinha.
Os alimentos são preparados com cebola, alho, óleo e sal, e os pratos servidos são arroz carreteiro, feijão gordo, macarrão de comitiva, mandioca, peixe e, é claro, o bom e velho cafezinho.
Mas se você acha que é só sentar e comer, está muito enganado. Existem rituais tradicionais para servir a comida, e quem quebra as regras precisa pagar uma prenda aos outros peões.
Há um jeito específico de segurar o prato, os talheres e tirar a tampa da panela para servir. O peão jamais pode deixar a tampa de lado – ela deve ficar presa a um dos dedos da mão que está segurando o prato; não pode bater a concha de servir na panela, nem retirar o chapéu para servir. Confira abaixo as regras.
Matula
A farofinha com carne seca, ou matula, é um acompanhamento presente nas refeições de muitas pessoas. O que você pode não saber é que, antigamente, a guarnição era um "quebra-galho" dos peões de comitiva durante a lida. Edson explica que, durante os trajetos mais longos, quando não havia previsão de parar para comer, a matula era o sustento dos peões, pois comer a guarnição e tomar água em seguida os mantinha satisfeitos, permitindo que aguentassem a lida sem passar fome.
Uma planta, mil e uma utilidades
Se você visse essa planta no meio do caminho, imaginaria que dela se fazem cestos, chapéus, e, no momento do aperto, ainda pode servir para matar a sede, fazer anzol e linha para pesca e até fogo?
Pensando apenas em sobrevivência, em situação extrema, o guia de turismo Edson dos Santos expressa que encontrar essa planta é sorte grande. “Essa é a minha planta favorita, porque se eu tiver que sobreviver na natureza e eu achar essa planta aqui, eu estou bem de situação”.
A planta é da mesma família do abacaxi, e seus caules longos e grossos são bem versáteis. As folhas retém água potável, então, se extrair o líquido de dentro delas, é possível beber para se hidratar.
A lateral do caule também é formada de espinhos em forma de ganchos, que podem ser cortados e transformados em um pequeno anzol. Do caule também é possível extrair a fibra, e usá-la como linha. Essa linha também é usada no artesanato, para confeccionar potes, cestos e chapéus.
“Essa palha aqui, ela é mais forte que um lambari, por exemplo, então eu realmente consigo puxar ele de dentro da água. Então temos o anzol, temos a linha, temos água, e de grão em grão a galinha enche o papo”, brinca.
Também é possível dobrar a resistência da fibra para fazer uma linha ainda mais forte, para fazer um arco, caso precise improvisar um arco e flecha. Já quando a fibra está seca, fica com textura de algodão, e ao friccionar ela contra madeira seca, vira faísca, gerando fogo.
Formiga de Novateiro
Apesar de parecer inofensiva à primeira vista, a árvore de novateiro guarda uma arma fatal: formigas. Ambas as espécies vivem em uma espécie de simbiose, em que a planta fornece alimento às colônias, em troca de proteção.
Ao tocar na árvore, as formigas saem aos montes de dentro do tronco, por acreditar que estão atacando a planta. A picada da formiga de novateiro possui toxinas, por conta da seiva que a árvore produz, da qual elas se alimentam. Essa toxina faz a picada doer bastante, e se a pessoa for alérgica, pode ser fatal.
Quantas frutas nativas do bioma você conhece?
Bacupari, acaiá, jamelão, jenipapo, uva-do-mato, bocaiuva, guavira, jabuticaba, manduvi acuri e imbaúba são algumas das frutas nativas do Cerrado e do Pantanal.
Pouca gente sabe que o fruto do imbaúba é comestível, mas a fruta é mole e tem um gosto doce. Já o bacupari é uma árvore que cresce muito na beira do rio, e tem um sabor bem marcante. A fruta é azeda e doce ao mesmo tempo.
‘Pinheirinho’ do Pantanal
Passeando pela cidade, ou no interior, você já deve ter esbarrado na palmeira do acuri. A planta é uma das espécies de palmeiras nativas do Pantanal, mas você sabia que dá para assar peixe e beber água na casca do fruto?
A primeira fase da floração, quando se parte a casca ao meio, a planta por dentro lembra bastante um pinheiro em miniatura. Já o casco oco, tem inúmeras utilidades, e nele é possível assar pequenos lambaris para matar a fome, se necessário, ou como copo.
Isso porque a casca é bem dura, então retém o líquido dentro dela, o mantendo fresco, além de suportar a alta temperatura do fogo.
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