Em ônibus, não falta exemplo de amor, fé e uma vida além do cansaço
No transporte público, há muitas histórias escondidas com gestos de amor e fé
A bordo das linhas 087 e 061, histórias se constroem em silêncio. Não é preciso muito para observar personagens que retratam mais do que passageiros, mas sim detalhes, gestos e atos de uma sociedade inteira. E, seguindo esses trajetos, o Lado B te mostra que, da região central aos bairros, o dia a dia durante o percurso nos veículos se constrói em pequenos atos de amor, fé, cansaço, simpatia e cuidado.
Foi assim, com o gesto simples de dar as mãos, que dois idosos não passaram despercebidos. Peguei o 087 sentido centro/bairro durante uma tarde qualquer. As mãos deles permaneceram unidas durante todo o caminho. Não sei se eram namorados, casados ou qualquer outro rótulo. Me chamou atenção a forma como se comportavam, se olhando e agindo como dois adolescentes apaixonados.
O ir e vir do trabalho, escola ou compromissos cansa quem anda no transporte público de Campo Grande. Primeiro pelo calor, segundo pela aglomeração em horários de pico. Apesar dos pesares, ainda há coisas boas a serem vistas.
Outro dia, agora dentro do 061, próximo ao Shopping Campo Grande, me deparei com um ato de gentileza pouco visto. Uma passageira perguntou ao motorista “esse ônibus passa na Santa Casa?” e ele respondeu simpático que sim.
Depois, ainda explicou outros trajetos que ela poderia fazer para chegar ao destino. Na hora, ela aproveitou para tirar uma dúvida sobre a documentação para passe do idoso. Embora para muitos o ato seja insignificante, para ela fez toda diferença.
Entre os acessórios usados dentro do ônibus, os chapéus estão entre os mais observados, sejam os "cata ovo" panamá ou caipiras. Foi assim que um homem, aparentemente na faixa dos 40 anos, estava dia desses no 087. O relógio não marcava sequer 8h e o sol já castigava os passageiros próximos da janela. Não sei se o uso do chapéu foi estratégico ou se o trabalho dele exigia o uso, mas foi útil no momento
Também de chapéu, uma senhora, que não deveria ter mais de 55 anos, e pela ausência de cabelos pode ter passado por algum problemas de saúde, organizava os passageiros como uma professora organiza a turma ao sair para um passeio escolar.
Ela não conhecia aquelas pessoas, porém, fazia questão de tentar acomodá-las, apontando onde ainda tinha lugares vagos. Ela conversava com uma senhora de cabelos castanhos sentada do lado esquerdo. Julguei que não se conheciam pela maneira que falavam, mas o papo era como se houvesse um coleguismo.
Entro no 087 como de costume e paro em frente de uma senhora com rosário nas mãos. Ela reza baixinho pedindo a Deus coisas desconhecidas para mim. Não invadi a privacidade. Admirei a forma como ela segurava o objeto junto ao peito, passando a mão pelas “pedrinhas”.
No catolicismo, elas recebem o nome de contas maiores (bolinhas grandes) e contas menores (bolinhas pequenas). O sol deixa a imagem ainda mais bonita. Ela observa a janela, mas não perde de vista a oração.
Sono, leques feitos de papel para driblar o calor, leituras digitais ou em livros físicos também compõem o cenário humano dentro dos ônibus da Capital. Vale tudo para otimizar o tempo enquanto a vida acontece no caminho, inclusive observar como o cotidiano também se constrói nos trajetos do transporte coletivo.
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