ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
DEZEMBRO, QUARTA  25    CAMPO GRANDE 22º

Comportamento

Era desses talentos que nasce um em 1 milhão, diz professor sobre Mayara

A jovem nunca quis ser estrela, amava ensinar; amigos prestaram homenagem a sua arte uma semana antes da morte

Eduardo Fregatto | 27/07/2017 06:05
Mayara e o inseparável violão. (Fotos: Reprodução/Facebook)
Mayara e o inseparável violão. (Fotos: Reprodução/Facebook)

“Uma das melhores musicistas da sua geração, era um grande talento com futuro promissor”, afirma o professor de música Marcelo Fernandes, que orientou a tese de Mestrado de Mayara Amaral, a jovem violonista de 27 anos encontrada morta na última terça-feira (25), vítima de assassinato na Capital.

Os sonhos da artista foram interrompidos, assim como sua capacidade de transmitir emoção e sensibilidade por meio dos acordes do violão clássico. Além de uma artista excelente, que já se apresentou com diversos músicos e participou de uma banda só de mulheres, chamada Pétalas de Pixe, Mayara também era um arte-educadora e pesquisadora. Estava feliz, atuando como professora e nos ensaios para lançar uma banda, novamente 100% feminina.

No Google, ao pesquisar seu nome, depois das notícias estarrecedoras sobre o crime que lhe tirou a vida, é possível encontrar seu legado como estudiosa da arte. Trabalhava na pesquisa e resgate de mulheres compositoras das décadas passadas. Amava ensinar. Dava aulas de violão para crianças. “Ela sempre foi reconhecida, mas nunca quis ser estrela. Queria ser professora, ensinar”, enfatiza o pai de Mayara, Alziro Lopes do Amaral, de 61 anos.

Nas redes sociais, aparece sempre com o seu instrumento favorito.
Nas redes sociais, aparece sempre com o seu instrumento favorito.

Seu pai, Alziro, e o avô, tocavam violão. Veio daí a influência que viria a guiar a vida de Mayara. Aos 8 anos, a família percebeu que ela tinha mesmo um dom. Começou a estudar violão e nunca mais parou.

Segundo o professor Marcelo, ela era um desses talentos na música tão únicos e excelentes do tipo que nasce um a cada 1 milhão. “Eu não estou dizendo isso apenas porque ela faleceu”, pontua. “Ela realmente era uma dessas artistas estonteantes, além de ser extremamente dedicada. Tinha também momentos que queria desistir de tudo, depois voltava, era intensa”.

Por onde passou, com sua música e sensibilidade à flor da pele, Mayara foi capaz de deixar sua impressão. “Ela se esforçava sempre ao máximo para conseguir os melhores resultados. E sempre conseguia”, diz a cantora Jane Jane, que participou da banda Pétalas de Pixe ao lado de Mayara e mais duas mulheres. “Ela estava conquistando muita coisa com o violão clássico, era esforçada, perfeccionista e marrenta. Uma pessoa sincera, boa de se ter perto, porque dizia o que ninguém mais tinha coragem”, descreve Jane, por mensagens de texto, ainda muito abalada para falar por telefone.

Em sua última apresentação, na semana passada, Mayara tocou violão clássico num jantar entre amigos. A maioria era artista. Entre eles, estava a atriz Thathy DMeo. Ela não era tão próxima da musicista, mas se encantou com o show que viu e ouviu. “Ela era alguém muito sensível, e ao tocar pra gente me fez ter um estímulo de escrever poesia”, conta.

Mayara no canto direito, com a Pétalas de Pixe, banda formada só por mulheres, e o cantor Jerry Espindola.
Mayara no canto direito, com a Pétalas de Pixe, banda formada só por mulheres, e o cantor Jerry Espindola.

Ali mesmo, com um amigo, o poeta Elias Borges, Thathy criou o poema “A Violonista”. “Assim que a Mayara terminou de se apresentar, nós recitamos o poema para ela. Ela ficou extremamente emocionada”, recorda Thathy. “Foi a última apresentação dela, nós nem imaginávamos”.

"Eu achei estupendo o jeito furioso dela tocar música erudita num violão, geralmente se requer mais carinho para o estilo, mas a forma dinâmica dela me chamou atenção. Fora isso ela era um carinho em pessoa, extremamente cativante", acrescenta Elias.

O jornalista e músico Rodrigo Teixeira também lamentou a morte trágica de uma jovem artista que representava muito da riqueza da música sul-mato-grossense. “Estamos todos muito tristes. Era um grande talento. Conheci ela por meio do Jerry Espindola, na Pétalas de Pixe. Como era uma violononista clássica, tocava guitarra de uma maneira diferente. Uma pessoa iluminada, doce e muito sensível”, descreve.

Outros artistas, como a cantora Marina Peralta, nunca tiveram contato próximo com Mayara, mas se mostravam abalados. “Fiquei muito chocada, com raiva dessa cultura do machismo. Uma artista, professora, cheias de projetos, um monte de coisa pra realizar”, refletiu Marina. “Eu nem penso nela apenas como uma artista que se foi, mas sim na vida dela, na família, sonhos”.

A homenagem feita por Thathy e Elias, na semana passada, acabou por eternizar a essência de Mayara como artista. Um poema feito de maneira espontânea, movido ao sentimento e emoção, e que agora ganhou um significado ainda maior.

Apaixonada por ensinar, dava dicas nas redes sociais para jovens músicos.
Apaixonada por ensinar, dava dicas nas redes sociais para jovens músicos.

A Violonista (20/07/2017)

"As mãos deslizam embaladas na melodia
A dança dos dedos é hipnótico
O som um feitiço pra alma
Já não sei distinguir o violão da Violonista
O corpo poderia arquear
E os dedos Sangrarem
Pois aquele momento era plenitude
ThathyDMeo

"Tuas cordas me levam pra um tempo que não sei dizer se vivi.
Junto ao cheiro do vinho estou à beira de parcas estruturas.
Não pare de tocar, prefiro o cadafalso que leva ao abismo
do que privar-me dos acordes de tua fúria"
Elias Borges

Nos siga no Google Notícias