Figurinista, Débora trocou medo de bala perdida pela paz de MS

A designer de moda Débora Esteves Camara, de 54 anos, simplesmente trocou a vida em meio à violência de Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, pelo recomeço tranquilo e seguro de morar aqui na Capital. Há apenas 3 meses em Campo Grande, ela se despediu da agitação – e dos perigos – de se viver próximo à cidade grande e poder trabalhar com grandes nomes e marcas do segmento da moda.

"Quando já estava pensando em ir embora do Rio, surgiu a oportunidade de trabalhar nos Estúdios Globo. Fui indicada pela coordenadora do curso de Design de Moda o qual me formei. Durante 4 meses, atuei direto na Fábrica de Figurinos da Globo. Basicamente, eu modelava as roupas para a personagem Dona Lola, de 'Éramos Seis', vivido por Glória Pires. Até costurei vestido de última hora para a semifinal de uma das temporadas da Dança dos Famosos. Naquela vez, fiquei até tarde da noite finalizando 7 camadas de tule, maior trabalho! Mas estava feliz, realmente amava tudo aquilo", relembra.

Quando veio a pandemia, porém, aqueles que eram terceirizados pela empresa foram dispensados de suas atividades. Foi exatamente o caso de Débora. Sendo assim, viu a situação como uma oportunidade e não pensou duas vezes: trocou Duque de Caxias pela Cidade Morena. Mas por que viajar os 1.392 quilômetros que dividem RJ de MS?

"Morava em área de risco. Já vi muita gente morrer, até mesmo na frente da minha porta. Muita coisa aconteceu. Quase todos os muros tinham buraco de tiro. Durante todos esses anos, sendo nascida e criada em Caxias, Deus foi bom demais de ter protegido a mim e a minha família", agradece.

Mãe de um casal, seu filho Leonardo foi o primeiro a vir para MS. Casado com uma campo-grandense, descobriu aqui uma "terra de oportunidades", conforme falou para Débora. Animada em mudar de vida, ela trouxe pra cá o casamento de 37 anos com Eliseu, a filha Karine e até o genro – além de, é claro, todo o equipamento e seu ateliê de costura.

Enquanto morava no RJ, Débora trabalhou durante muitos anos enquanto pilotista, confeccionando diversas peças para grifes cariocas. "Teve roupa que fiz e que foi parar até no Fashion Rio. Se acontecia algum problema antes do desfile, os estilistas confiavam em mim para resolver. Diziam que eu tinha 'mão de fada'. Tem aqueles que, mesmo agora  eu morando em outra cidade, em outro estado, garantiram que não vão largar do meu pé. Vamos trabalhar com a ajudinha dos Correios", brinca.

Débora aprendeu o ofício pela mãe e, sem nunca concluir os estudos, resolveu já na sua "meia idade" – filhos criados e vida feita – voltar para a sala de aula: se matriculou no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), passou, ingressou numa faculdade e se formou designer de moda.

Foi lá onde trabalhou executando peças para diversos TCCs (trabalhos de conclusão de curso) de jovens estilistas e colegas de profissão, dando dicas e ensinando tudo que aprendeu na prática de tantos anos como artesã dos tecidos, cortes e costuras.

Aqui na Capital, a casa onde mora no Jardim Anache não só tem jardim para cultivar hortinha – seu novo passatempo pandêmico –, ar fresco e araras voando no céu, mas também não tem mais medo de tiroteio ou violência "gratuita". Na residência, um espaço dedicado como seu ateliê vem garantido nova clientela.

"Até já tive minha primeira noiva campo-grandense. Estou aos poucos criando uma rede de contatos, conhecendo lojas, grifes e pessoas. Quero mesmo é trabalhar com alunos e ensinar adolescentes a também se apaixonarem pelo trabalho que desempenho. Quem sabe eu até não lance um curso? Não sei de nada ainda, mas que aqui tenho conseguido sonhar mais tranquila, isso é verdade", finaliza.

Para conhecer mais o trabalho de Débora ou marcar um horário em seu ateliê, basta acessar o seu perfil no Instagram e mandar uma mensagem.

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