Mulheres gritam contra feminicídio: “Nem pense em me matar”
Maioria dos leitores conhecem alguém que sofreu feminicídio no último ano
Feminicídio: assassinato de mulheres apenas por serem mulheres. Esse tipo de crime cresce diariamente no Brasil, e em Mato Grosso do Sul, está longe de ser diferente. O estado ocupa a terceira maior taxa de feminicídio do país, de acordo com o Mapa do Feminicídio, levantado pela Sejusp (Secretaria de Justiça e Segurança Pública). Para denunciar a violência contra a mulher, a campanha nacional “Nem Pense em Me Matar”, lançada ontem (25), defende a vida de todas as mulheres e já tem mais de 28 mil assinaturas.
A campanha nacional contra o feminicídio "Nem Pense em Me Matar” se apoia na ideia de que “quem mata uma mulher mata a humanidade”. A iniciativa lançou um tuitaço com informações sobre os números de feminicídio no país com a hashtag #NemPenseEmMeMatar, ficando no 7° lugar no Top Trends Brasil do Twitter, além de uma petição on-line que, em 24 horas de campanha, já tem mais de 28 mil assinaturas.
A professora doutora Fernanda Reis enfatiza a importância do movimento para o debate e exposição da violência contra a mulher. "É urgente a nossa união nesse momento para exigir medidas de combate ao feminicídio. Apoiar, acolher, denunciar é o que o movimento propõe e devemos estar atentas porque não queremos mais nenhuma a menos entre nós".
Com repercussão nacional, a campanha também encontra espaço dentro de Mato Grosso do Sul. De acordo com o Mapa do Feminicídio, apenas no ano de 2019, no estado, 30 mulheres foram vítimas de feminicídio, e 98 sobreviveram para contar suas histórias. A cada mês, 130 mulheres registraram BO por estupro e a cada semana, 150 mulheres sofreram agressões físicas tipificadas como lesão corporal dolosa.
Uma das integrantes do movimento, a feminista e militante do Movimento Popular de Mulheres de Mato Grosso do Sul, Aparecida Gonçalves, reflete que os altos índices de feminicídio no estado também estão ligados à cultura patriarcal. “No ano passado, tivemos 33 feminicídios em um estado onde o machismo e o patriarcado estão muito presentes. Existe sim a falta do respeito e da consideração aos direitos humanos, mas nós mulheres sul-mato-grossenses também somos fortes e de resistência”, ressalta.
“O levante é para que o país respeite as mulheres, os negros e os indígenas, em busca de uma cultura de respeito, de valor e de dignidade”, afirma Aparecida. Para ela, também é importante que as mulheres se posicionem nas redes sociais. “Precisamos denunciar e exigir políticas públicas de prevenção ao feminicídio”.
A estudante Agnes Viana reflete que a campanha também mostra a importância local, nacional e internacional da visibilidade sobre a violência contra a mulher. "Isso aprofundou um problema já estrutural em nosso país, que é o assassinato de mulheres simplesmente por serem mulheres. Esse levante é significativo porque evidencia que a luta das mulheres é algo permanente e internacional, como os movimentos NiUnaAMenos, Mulheres Contra Trump, Primavera Feminista e o Ele Não".
Com a pandemia, as estimativas da violência contra a mulher são ainda piores pois o isolamento social aumenta a vulnerabilidade em casos de violência, refletindo no aumento dos números de agressão e morte e na dificuldade nas denúncias, de acordo com o documento “COVID-19 – Um olhar para gênero: Proteção da Saúde e dos Direitos Sexuais e Reprodutivos e Promoção da Igualdade de Gênero”, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). De acordo com dados do Disque 100 e Ligue 180, em 2020, o país registrou uma denúncia de violência contra a mulher a cada cinco minutos.
"Vivenciamos um momento de retrocessos políticos e sociais violento que pesa sobre as minorias e especialmente sobre as mulheres, sem contar que a pandemia e o fato de precisarmos estar em casa agrava ainda mais os casos de violência. É preciso que a sociedade tome conhecimento que a violência e o feminicídio são realidades na vida de muitas mulheres", afirma a professora Fernanda.
Aparecida também reforça a importância da vacina inclusive como forma de proteção à mulher pelo fim da pandemia. “Precisamos sair desse lugar de isolamento, pois é nesse estado mais mulheres são mortas”.
A assessora da Coordenadoria de Políticas para Mulheres e Coordenadora Estadual do Movimento Negro Unificado, Nara Nazareth, afirma que a campanha vem de encontro a um momento crítico para as mulheres, em especial, para as mulheres negras. "Vemos um desmonte dos mecanismos de prevenção e enfrentamento à violência. Em plena pandemia, sabemos que o aumento do feminicídio é grande. Quando fazemos o recorte, vemos que a maioria é de mulher negra".
Além do recorte de gênero, mulheres negras, indígenas e periféricas também ficam mais vulneráveis ao feminicídio. A assessora pondera que a liberdade ainda está longe, mas a luta é constante. “Trabalhamos contra todo tipo de violência, seja ela racista ou machista. Sempre digo: ser mulher negra é minha essência, não minha sentença. Ubuntu!”.
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