Música, capoeira e arte marcaram o Dia da Consciência Negra
Jardim São Conrado e Moreninhas receberam eventos voltado a cultura negra
O Dia da Consciência Negra foi emblemático para dois bairros de Campo Grande que receberam pela primeira vez um evento voltado à temática. Mesmo com organizadores e apoiadores diferentes, a causa era a mesma: celebrar e valorizar a cultura negra. No Bairro Jardim São Conrado, a CUFA (Central Únicas das Favelas) realizou o “Black & Tal”, enquanto nas Moreninhas aconteceu o Sarau do projeto Remi.
Ontem (20), os moradores dos respectivos bairros puderam acompanhar e comemorar as programações dedicadas à data. Ambas atividades reuniram famílias e moradores da região que puderam prestigiar apresentações, exposições e oficinas ao ar livre.
No São Conrado, o grupo “Mulheres Habilidosas” levou peças de crochê bordado e macramê para a feira de artesanato. As produções deram um show de criatividade, pois as moradoras fazem de tudo utilizando as linhas. As criações incluem tapetes, bolsas, turbantes, brincos, toalhas, guirlandas, puxa saco, prendedores de cortina e pesos de porta no formato de galinhas.
Nora Souza Bispo, 58 anos, faz parte do grupo e reside no bairro há 20 anos. Ela comemorou a oportunidade de expor as criações ao público no Dia da Consciência Negra e comentou sobre a importância do momento. “Para mim que sou uma mulher negra é uma maravilha, uma porta aberta para divulgar os trabalhos. Além de negra, sou viúva e mãe de um filho autista, então eu tenho que me virar com isso daqui, porque não posso trabalhar fora”, afirma.
Com apresentações musicais do DJ Amarelo Drama, Tgb, AfroJess, B-Girl Aline e dos artistas General R3, MC Serena, Mel Dias e Lau Castro, o evento da CUFA também contou exposições artísticas e oficina de tranças em cabelos crespos.
Outro destaque foi a produção de arte urbana Lambe do artista Leonardo Mareco, 24 anos. No evento, ele deu início ao mural que traz a imagem de duas figuras femininas. “São mulheres anônimas, uma negra e outra indígena, que representam símbolos de força e lideranças femininas. Para mim é gratificante estar aqui como artista e podendo agregar com a cultura, porque eu comecei com a arte urbana na pista de skate, nas ruas”, explicou.
A gestora da CUFA Campo Grande, Letícia Polidório, 33 anos, relatou que a data tinha mais um motivo para ser comemorada, pois ela marcava a inauguração da sede da instituição na cidade. “Para nós, hoje, tirar as pessoas de casa e trazer para um evento igual esse é muito importante. É um marco para a CUFA Campo Grande, porque é o primeiro evento na nossa sede e tem o tema Black & Tal com uma pegada literária. A galera tá animada, vieram atrás desde cedo para procurar e saber que festa teria, então é um marco para o bairro”, afirmou
Não foram só os moradores do São Conrado que prestigiaram o evento, Caroline da Silva Nascimento, 43 anos, saiu do Bairro Jardim Canguru para acompanhar as atividades culturais. A técnica de enfermagem ficou animada ao saber da programação e enfatizou a importância de apoiar a cena. “Eu gosto de estar presente, tem que fortalecer, principalmente enquanto mulher negra, porque é um movimento que precisa disso. Eu vi a programação na televisão, fiquei sabendo que teria uns cursos e adoro capoeira”, conta.
Em relação à capoeira, o mestre Amauri Oliveira Souza, 42 anos, da academia Cadência do Corpo foi mais uma das pessoas que somaram com o evento. Os alunos da escola realizaram uma apresentação super especial, sendo que alguns deles fizeram a troca de cordões e conquistaram mais um estágio na graduação.
Sarau do Projeto Remi - A praça Disvaldo de Souza Bezerra, no Bairro Moreninhas, também foi espaço de valorização da história e cultura afro. Organizado pelo Projeto Remi, o sarau trouxe exposições de arte terena e fotografias dos alunos da iniciativa. A ação reuniu performances artísticas, produção de arte urbana e apresentações de grupos de rap e do Projeto Kzulo.
O músico Ricardo Silva, 28 anos, comenta a ideia da iniciativa é oferecer oficinas gratuitas e a realização do sarau tem o objetivo de agregar a comunidade. "Nós trabalhamos a memória, identidade e reconstrução através da vivência artística, nós levamos oficinas, fizemos encontros na Marçal de Souza e agora vamos fazer o sarauzinho aqui na comunidade”, fala.
O sarau também contou com a organização e apoio da Unegro Mato Grosso do Sul, entidade que luta contra o racismo e outras formas de opressão. A presidente Socorro Matos, 65 anos, reforçou a importância da luta das pessoas negras e a relevância da data. "Eu moro aqui há 32 anos, estou emocionada, porque é preciso ter força e resistência para construir a pauta dos negros na periferia. Nós vivemos em uma sociedade de exclusão e eu demorei muito para entender e a minha identidade", expôs.
Caso você não tenha conseguido prestigiar os eventos voltados para a temática, hoje (21), o Coletivo Aiê de Cinema Negro realiza mostra de curtas-metragens para celebrar o lançamento do coletivo. A programação é gratuita e começa às 17h30, no Laricas Cultural, localizado na Rua Antônio Maria Coelho, 1663.
Resultado da enquete - O Campo Grande News trouxe para a enquete de domingo o seguinte questionamento: Você já foi vítima ou conhece alguém que sofreu preconceito por ser negro?
Os resultados revelaram que 57% já foram vítimas ou conhecem uma pessoa que sofreu racismo por ser negra. Já outros 43% responderam que não para a pergunta.
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