Nem ameaça com facada fez Delba desistir de fazer casa ser lar
Paranaense conta que viu bairro mudar muito e trouxe as memórias da cidade pequena para persistir
Logo que chegou ao bairro Campo Nobre, Delba Conrado conta que precisava ir ao ponto de ônibus acompanhada de um segurança particular contratado por ela e pelos vizinhos. E, em um dia de desaviso, chegou a ter o pescoço cortado na rua, mas nunca desistiu de fazer a casa se tornar o sonhado lar colorido e repleto de plantas.
“Aqui não tinha asfalto por perto, nem luz direito, tinha só as casas bem cruas. E era perigoso mesmo, a gente saía de madrugada para trabalhar com o guardinha do lado”, relembra Delba.
Tendo motivo para o medo, a moradora conta que as ruas mais escuras do que o normal antes das 4 horas da manhã garantiram uma das memórias difíceis de abandonar. “Eu estava indo para o serviço, sozinha, e fiquei no ponto de ônibus. De repente, um homem me pegou pelo pescoço e passou o facão em mim”, diz.
Sabendo se defender, a moradora explica que conseguiu se soltar do desconhecido e sair correndo, mas já com o pescoço cortado. “Uma vizinha me viu e ficou assustada, acho que se não tivesse sido rápida, ele tinha me matado”.
Na época, sem muita escolha, o jeito foi continuar tentando a vida, mas hoje Delba detalha que não se arrepende de ter permanecido. Depois de ter passado por tanto, a comemoração é por conseguir passar o tempo cuidando do jardim, ao invés de se preocupar com a sobrevivência.
Deixando o medo para trás, a diarista se orgulha de ter conseguido conquistar uma das casas mais coloridas do bairro. Se destacando entre as construções próximas, ela narra que o carinho veio das memórias no Interior.
“Eu sempre falo que quem sai do Interior acaba trazendo ele junto. Acho que por isso a gente tem planta que não acaba”, brinca Delba sobre o jardim que começa do lado de fora. Tendo conseguido transformar a “casa crua” que recebeu no fim de 1990 em lar, ela comenta que tudo foi na base da luta.
Cada planta cuidada diariamente e tinta passada pelas paredes, os detalhes não vieram de jeito fácil. “Até hoje eu acordo 3h para me arrumar e ir trabalhar, mas muita coisa melhorou desde quando cheguei. Só hoje já fiz três diárias, mas consigo ter tempo para vir e cuidar do meu quintal, dar água para as plantas, colocar adubo”.
Criada no Paraná, ela explica que aprendeu de tudo um pouco com a mãe e, graças a esses ensinamentos, é que diz ter continuado a lutar. “Minha mãe sempre fez de tudo, sabia mexer com planta, cuidar da saúde com coisa natural. Sabia arrumar roupa e ensinou para a gente. Então, eu falo isso, a gente tem que saber se virar mesmo”.
E, sem saudade das memórias antigas ou arrependimentos pela mudança, ela completa que a vida não foi fácil, mas que o lar e ter construído uma família faz a batalha valer a pena.
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