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Comportamento

No discurso contra a violência, mulheres com deficiência são silenciadas

Documentário traz histórias de mulheres com deficiência que sofreram violência ao longo da vida

Thailla Torres | 21/12/2019 07:35
Documentário mostra diversos relatos de violência de gênero vivenciado pelas mulheres.
Documentário mostra diversos relatos de violência de gênero vivenciado pelas mulheres.

Uma mulher com poliomelite ouviu do marido que ele só se casou com ela por dó. Uma mulher com difciência visual sofreu violência desde os seis anos de idade. Uma mulher com deficiência física narra o abuso sexual na adolescência. Mãe de uma menina autista conta que viu a filha ser agredida fisicamente. Esses são alguns dos relatos do documentário sul-mato-grossense, “Silenciadas: em busca de uma voz”, com uma narrativa que mostra histórias de vida e dados alarmantes da violência contra mulheres com deficiência.

Dirigido e produzido pela educadora social e mestra em Letras Flávia Pieretti Cardoso, que atua na área da Educação Inclusiva há 12 anos e na área da violência contra mulheres com deficiência há quatro,  e atuou na Associação de Mulheres com Deficiência do MS - AMDEFMS. O documentário é resultado da pesquisa de dissertação de mestrado em Letras, que surgiu após Flávia ouvir diversos relatos de violência de gênero vivenciado pelas mulheres, algumas na infância, outras na adolescência, outras por toda uma vida e, em muitos casos, sem se darem conta de que haviam sido vítimas de violência. 

Além disso, Flávia também constatou a falta de pesquisas na área da violência com o recorte para a deficiência e que os mecanismos para o enfrentamento e combate da violência de forma que atenda as necessidades específicas de cada deficiência são escassos no Brasil, quase nulos na verdade.

O documentário traz a voz de 6 mulheres com deficiência diferentes e o relato de uma mãe de menina com Autismo.
O documentário traz a voz de 6 mulheres com deficiência diferentes e o relato de uma mãe de menina com Autismo.

Nas estatísticas mais alarmantes, as mulheres são as maiores vítimas de violência contra pessoas com deficiência, sendo 68% violência física e 82% sexual. Diante dessa realidade, Flávia sentiu-se no dever de lutar pela garantia de direitos humanos para essas mulheres “que, na sua maioria, encontra-se em situação de dupla vulnerabilidade por serem mulheres e por possuírem uma deficiência, em uma sociedade onde ainda imperam os discursos de exclusão”, explica a educadora.

Com 34 minutos, a obra tem roteiro assinado pela jornalista Ana Paula Cardoso, deficiente física, tetraplégica, após um acidente de carro em 2009 e que, também, atua como voluntária na Associação de Mulheres com Deficiência do Mato Grosso do Sul.

O documentário traz a voz de 6 mulheres com deficiência diferentes e o relato de uma mãe de menina com Autismo, que revelam suas vivências, sentimentos e “memórias” sobre a temática da violência de gênero, bem como, mostram como se tornaram protagonistas de suas vidas apesar dos episódios difíceis.

“A mulher com deficiência é vista, muitas vezes, como um objeto que a pessoa pode fazer o que quiser que ela não vai ter voz, não vai ter como se defender”, diz uma das entrevistadas no documentário.

Flávia também sempre quis produzir um vídeo totalmente acessível, respeitando o direito humano à informação. Em razão disso, o documentário tem recurso de janela em Libras, legenda e áudio descrição, para que todas as mulheres sejam contempladas. “Todos os vídeos deveriam seguir esse padrão de acessibilidade, essa é uma das lutas das pessoas com deficiência e de todas as pessoas que lutam pelos direitos humanos”.

A produção também contou com apoio de voluntários, como a intérprete de Libras Karine Albuquerque e a áudio descritora Cândida Abes, além dos profissionais do audiovisual e edição, Jairton Costa e Larissa Neves, que realizaram o trabalho por um valor social.

O documentário não está disponível em nenhuma plataforma. Um lançamento oficial foi realizado na semana passada, na Casa da Mulher Brasileira. Por enquanto, o objetivo é chegar às mulheres com deficiência através de exibições programadas com debates.

Quem tiver interesse no agendamento de exibição basta falar com Flávia pelo WhatsApp no telefone (67) 99252-0544.

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