O Manual do Homem Bacana segundo a geração de mulheres tolerância zero

No dia em que se celebra as conquistas femininas das últimas décadas, mulheres ainda são capazes de descrever abusos e assédios cotidianos com facilidade. No caminho de casa, na balada, caminhando ao lado da filha, elas escutam quase todos os dias ofensas disfarçadas de “elogios” e declaram: não toleramos mais esse comportamento.
Entre as bandeiras dessa geração de mulheres modernas e independentes está o fim das cantadas cheias de palavras de baixo calão e desrespeito. Enquanto milhares dizem que não suportam mais esse comportamento, homens de todas as idades ainda se perguntam como fazer então, nesse caso, para conquistar uma mulher.
Por isso, o Lado B, convidou as novas feministas para responder essa incógnita que aparentemente alguns meninos e até meninas não conseguem entender. Elas não gostam do conceito "manual", mas mesmo assim tentamos traduzir nesse caminho o que pode e é abominado pela geração tolerância zero.
A psicóloga e cantora Karoline Modeira de Oliveira, 24 anos, afirma com toda a convicção, que não tolera mais as cantadas nas ruas. “Quando os homens dizem 'gostosa', ' vem ficar comigo', como se eu precisasse, tivesse a necessidade de ficar com alguém, de pegar alguém o tempo todo. A mulher contemporânea, moderna, sabe o que quer. Vai dar sinais, pelo olhar ou até chegando na pessoa de que ela está interessada em uma conversa”, acredita.
Para ela, o mais absurdo é quando a mulher recusa a iniciativa de um homem e mesmo assim ele continua forçando um contato, seja agarrando pelo corpo ou cabelo. Bárbara Albino, 36 anos, professora infantil de consiciência corporal, vai mais longe. “Não é porque eu sou mulher que isso significa que eu sempre estou aberta a homens. Não sou retardada, quando eu quiser vou demonstrar, os homens que cometem assédio continuam com as 'cantadas' mesmo quando dizemos não”, frisa.

Bárbara diz que sempre vai às feiras alternativas vender produtos artesanais. Costuma levar a filha de cinco anos. “Um dia vi um homem olhando minha filha, enquanto ela pegava uma flor no chão. Aquilo já me deu medo e eu peguei um toco que estava perto, pronta para agir, se necessário. É isso que estou ensinando para minha filha, que ela vai sentir medo e precisa se defender? Não precisava ser assim se houvesse respeito entre os gêneros”, ressalta.
O que elas querem é que, ao invés de homens priorizarem o contato direto, físico e sem respeito pelo corpo feminino, optem pela conversa e principalmente, tenham sensibilidade para perceber se realmente existe uma paquera. “Nós temos o direito de ir e vir sem ter medo. De curtir a balada com as minhas amigas sem precisar me preocupar. Tem um momento no sábado, durante o show de uma rapper que eu gostaria que não tivesse homem nenhum, fazendo comentários de como sou gostosa ou do meu cabelo”, deseja Karoline.
Segundo a professora de Língua Portuguesa Jéssica Cândido de Oliveira, 25 anos, o fato de ser negra agrava a situação. “Existe toda a questão da sexualização da mulher negra. As cantadas e ofensas nas ruas são piores. Mas, o que mais me incomoda nisso tudo é o assédio físico. O toque, o abuso e a violência que milhares de mulheres sentem todos os dias, nesse minuto. No caminho para a entrevista eu testemunhei uma mulher sendo xingada e até cuspida pelo companheiro em um ponto de ônibus, chegou a pegar em mim. Ofereci ajuda e ela só chorava”, relata.
Essa não é a única história com final triste que Jéssica conhece. No último final de semana ela saiu com as amigas e chegou a ver um carro sendo jogado contra elas no estacionamento de uma convêniencia, quando pararam para comprar água. “Um homem parou ao lado do nosso carro e começou a tentar iniciar uma conversa. Dizemos que não e ele continuou com o assédio. Quando ameaçamos que anotaríamos a placa do carro e denunciaríamos como assédio, ele sinalizou que ia embora, mas voltou e jogou o carro contra a gente. Só não acertou porque puxamos umas as outras”,
O comportamento masculino mais próximo do ideal seria construído com respeito. Não importa a roupa que a mulher está vestindo, seu cabelo ou cor da pele. Se está sozinha ou em grupo, isso não dá o direito de um homem iniciar uma paquera na base da ofensa e do toque forçado. Antes disso, é bom ele se certificar de que a mulher deseja uma paquera e a melhor forma de se observar isso é por meio do diálogo, sempre com respeito. Ao ouvir um não, siga em frente e não perturbe.