Pensar nos bons momentos ao lado de quem partiu ajuda superar luto
O Lado B conversou com algumas pessoas que relataram a experiência de enfrentar a dor da partida, em Campo Grande
É difícil lidar com a dor da partida. A ferida não quer sarar e o único desejo nesse momento é acordar do pesadelo que te faz tão mal. Contudo, o sono é profundo, e o jeito tentar mudar o rumo do sonho.
O Lado B conversou com pessoas que relataram a experiência de enfrentar o período do luto, em Campo Grande. No meio das angústias e tristezas, a saída é recordar os bons momentos ao lado de quem se foi e deixou o rastro da saudade. “Sempre me lembro do beijo no rosto que minha mãe me deu. Fico feliz”, conta Theodoro Parede.
Ele é aposentado, tem 69 anos, mora no Jardim Nhá-nhá. Sempre que pode, percorre mais de 12 quilômetros até chegar ao Cemitério do Cruzeiro para visitar o túmulo da mãe, Fernanda. “Ela faleceu há 25 anos, por conta de problemas no coração. A gente morava na mesma casa, estava ao lado dela quando aconteceu. Ela estava com 90 anos. Sinto saudade, mas tenho que me conformar”, afirma.
Márcia Aparecida é assistente educacional, trabalha numa escola e comenta sobre a ideia que teve para escapar do sofrimento. “Sei que não gostaria de me ver assim, por isso não fico triste. Bate saudade, principalmente quando chego em casa e vejo as coisas dele, sinto o cheiro. Porém, lembro das nossas brincadeiras e risadas. A minha sensação é de que meu pai viajou”.
“Morreu aos 73 anos após um infarto. No dia eu e minha mãe estávamos trabalhando numa feira à noite, quando voltamos pra casa o encontramos sem vida. Foi um choque, mas penso que foi melhor a gente ter visto do que ter recebido a notícia por outros. Chorei, não quis acreditar”, lembra.
O pai era o alicerce da família. “Era tudo pra gente, me ensinou a ser honesta e trabalhadora. A família é alegre. Todo dia era dia de fazer algo que gostava. Recentemente, havia ganha um prêmio em dinheiro de uma aposta e comprado tudo que queria”, diz Márcia.
A perda de Catarina da Silva Rodrigues é mais recente. Há 25 dias disse “adeus” ao marido Orlando. A ficha ainda não caiu, e ela leva flores e velas para “conversar” com seu grande amor. “Não vou deixá-lo aqui. Chamava eu de mulher trabalhadora e me incentivava. Fui casada outras vezes, mas nenhum conseguiu fazer o que o Orlando fez por mim. Construiu uma casa, com laje e tudo, e me deu. Ia ao mercado comprar as coisas pra gente. Gratidão”, diz ela sorrindo.
Mas a morte não é o fim. “Acredito que vamos nos encontrar em outro plano. Vivi mais de 20 anos com ele, o amei muito, aquele moreno dos olhos verdes”, afirma ela.
Catarina estava com Orlando quando ele teve AVCs [Acidente Vascular Cerebral] pela quinta vez. “Há mais de dez anos vinha sofrendo com isso. Estava com problemas de saúde e eu quis cuidá-lo. O acompanhava em tudo. Saiu do CTI [Centro de Tratamento Intensivo] quatro dias antes de falecer”.
“No quarto, quando ele acordou ficou me olhando e perguntei o motivo. Falei: Se você pensa que vai se livrar de mim, está muito enganado. Sorriu, fez o joinha com a mão e permaneceu calado. No dia seguinte, enquanto eu dormia na cadeira senti um vento gelado e acordei. Achei que o Orlando estivesse com frio também e fui cobri-lo, vi que estava com a boca aberta e me assustei. Uma enfermeira chamou o médico e falaram para eu ficar fora da sala”, recorda.
Assustada e já pressentindo o pior, ela ligou para uma das filhas. “Depois o médico veio e pedi para não mentir pra mim. Falou para eu ser forte e disse que não conseguiu reanimar o Orlando. Desde então, não quis mais ficar na nossa casa. Prefiro estar com os meus filhos, é minha distração. Tá difícil, porém esse é meu jeito de superar. Gosto de conversar e assim vou lutando e lembro-me da nossa história. Tenho esperança de vê-lo outra vez”.
Catarina levou flores e velas para colocar no túmulo do falecido, que está no Cemitério do Cruzeiro. “Trouxe isso, mas vou mandar fazer uma plaquinha com o nome e comprar uma cruz pela alma dele”. No local, ela “falou” com Orlando. “Oh meu veio, por que me deixou? Não vou te esquecer”.