Quem são? E por que “capivers” virou moda do momento
Bar surgiu como alternativo e ganhou fama
O bar na Rua Pedro Celestino nasceu para ser "o pé sujo de qualidade", nas palavras de uma das sócias, Camilla Tiemi Matsubara. “A gente pensou em um rolê que fosse confortável para todo mundo, que as pessoas fossem se sentir bem, que pudessem consumir um produto de qualidade. Então, naturalmente, foram surgindo fãs”, explica a empresária que conheceu o sócio justamente em um bar.
A decoração foi pensada de forma bem plural, unindo vários temas, a começar pela homenagem ao animal mais famoso de Campo Grande: a capivara. Na entrada, os fios com lâmpadas, grafite pelas paredes, máquinas em que o próprio cliente tira o chope, tem até brechó e, lá nos fundos, cadeiras de praia, com mesa de ping pong e música ao vivo.
O lugar para “gente alternativa”, que quer chegar de chinelão e bermuda, ficar à vontade, ouvindo som que vai além do funk e o sertanejo, criou expectativas que para muitos não se confirmaram. Por isso a nação “capivers” agora é avacalhada por alguns nas redes sociais.
Quem é livre de qualquer preconceito nem entra no bate-boca. Mas quem gosta de criticar não perde tempo e argumenta no Twitter coisas do tipo: “é tudo gente com grana querendo dar de alternativo, mas na hora de discutir política, são puros alienados”.
A empresa vende cerveja artesanal e Heineken e garante que nesse quesito cobra o mais barato possível.
Esses dias, o termo “capivers” virou até assunto em sala de aula, professor do 3º ano do Ensino Médio de escola no Jardim dos Estados reclamou da “geração capivers”, que fala muito em igualdade, mas vive julgando o colega e dando mais valor à aparência do que à essência.
“Porque o povo odeia o Capivas? Eu perdi essa tour (sic)”, postou um frequentador no Twitter. De pronto, respondeu uma das pessoas da equipe da cervejaria: "se odiassem não tava cheio todo dia."
E realmente, o lugar lota. Mas não tem jeito. Na semana passada, o assunto virou polêmica depois de uma simples pergunta: “Quantos por cento do território do seu país você cederia, em nome da paz, a um invasor?”. Um campo-grandense meteu logo a imagem do Google Maps, com o endereço do Capivas.
Na sequência, a enxurrada dos prós e dos contras partiu para a guerra particular. “Se Capivas fosse uma pessoa seria aquele mano que enche o saco pra tocar Legião Urbana no violão no meio do rolê.”
E tem quem fique chateada pelos problemas de sair na "província" Campo Grande. “A vibe do capivas é surreal, Racionais low-fi, caipirinha 20 e poucos reais... todas as pessoas que você já beijou na sua vida em um raio de 5 metros.”
Quem defende tenta justificativa na localização. “Nós temos bares (alternativos) próximos da Esplanada Ferroviária, mas como aqui é central, talvez passe a ideia de que só vai atender pessoas de renda mais elevada, mas não é isso o que acontece”, garante o biólogo Arthur Pereira dos Santos, de 23 anos.
O mais irônico é que o termo surgiu dentro do próprio bar, para se referir à família do Capivas. “Capivers surgiu do nosso grupo íntimo de amigos, a galera que trampa aqui. Mas expandimos o apelido para todo mundo que frequenta a casa normalmente”, explica o funcionário Sasha Sanches, 21.
O pesquisador Antônio Luiz Gasparoto, 39, não vê importância nesse tipo de picuinha, mas entende a percepção dos contestadores. “Acho que não faz diferença, só se for para alguém que se preocupa com os rótulos. Sobre ser elitizado: tudo o que é bonito pode gerar essa impressão errada, de que é mais caro, por ser decorado, por exemplo.”
O segundo sócio do lugar, Luís Antônio Sakate Pais, não tem twitter, mesmo assim acompanha as discussões, mas diz não interferir. “Quando a gente vê alguma coisa, tentamos nos aprofundar para entender o que está acontecendo e vemos que está mais entre eles. É como se um cliente falasse algo e outro acabasse ‘tomando as dores’.”
Uma das encrencas apontadas por ele é a teimosia de algumas pessoas. "Tem gente que acha que pode trazer bebida de fora para beber aqui dentro, mas não dá, porque somos um estabelecimento comercial e vivemos de vender nosso chope.”
Para Luís, o conceito de "alternativo e democrático" pode estar no centro da questão. “Quando escuto o ponto de vista de ser um ambiente de esquerda mais elitizado, associo que esse espectro é muito amplo, a gente não consegue abarcar todo mundo por mais que a gente queira. A sociedade hoje é bem polarizada e estamos na sociedade, então a gente não foge desse modo de comportamento atual. Então, acho que falando especificamente do nosso espaço”, avalia.
Mas Camila termina avisando: “A gente quer atender todo mundo e as únicas pessoas que não são bem-vindas são as que não tratam bem as outras ou que querem buscar confusão.”
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