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Comportamento

Sem cabelos por conta da quimio, foto mostra amor de Nancy pela vida

E o que é a Páscoa se não o recomeço? Tal qual Nancy vive hoje

Paula Maciulevicius Brasil | 12/04/2020 07:47
"Gateira", Nancy ama a companhia de seus felinos. (Foto: Arquivo Pessoal)
"Gateira", Nancy ama a companhia de seus felinos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Com 53 anos completados há pouco mais de um mês, em março, Nancy Oliveira é quem protagoniza a foto de capa, de amor por Enzo, o marido, e pela vida. Formada em Artes e também em Jornalismo, foi quando ela terminava a dissertação do mestrado que recebeu o diagnóstico de neoplasia maligna mamária, um tumor que a fez passar por cirurgia de retirada da mama por completo, sessões de quimioterapia e, agora, de radio.

A vida acelerada que Nancy conhecia parou. E ela teve de aprender a viver como um conta-gotas, um dia de cada vez.  "Foi um marco para mim. O dia em que eu apresentei minha dissertação, retornei ao médico e a gente teve esse diagnóstico. Em junho fiz a cirurgia, justamente para retirar esse tumor", resume.

Foi uma medida drástica para Nancy, que ora era engolida pela vida, ora ela quem estava engolindo. "E naquele momento, de retirar um tumor e a mama, foi como se tivesse dado um cavalinho de pau. A vida parou. Vamos repensar, mas não é uma coisa simples como eu estou te falando agora", antecipa.

"É um processo de entrar, de repensar, de olhar para dentro, para si. É de dor, mas também de enfrentar. Eu preciso fazer essa cirurgia, tirar esse tumor, quero viver, tenho planos, sonhos, ideias".

Foram cerca de 5 h de cirurgia, e um pós-cirúrgico que, anestesiada pelo procedimento e também pelo que passou, Nancy buscava desacelerar. Logo ela, que sempre foi tão ansiosa pela vida. "Agora é viver em conta-gotas, este era o momento de repensar, de pausar. Você quer se reencontrar, mas nada é igual. Eu vejo o processo que eu passei e que muitas mulheres e homens passam, que é de recomeçar, repensar, arrumar as gavetas. Dizer: isso serve, isso não serve".

No meio de um processo doloroso, também tem os seus dias de sol. De quando a vida deixa de ser vivida no automático. Com quase 1 ano de cirurgia, foram tempos de reclusão, de reflexão, solitários e também solidários. "Você lida com a doença. É você lidando com as suas dores, os seus medos, com a ansiedade. Mas também durante este processo você se redescobre, tenho marido, filhos, uma família. Amigos que reencontrei, pessoas maravilhosas e coisas lindas aconteceram".

Uma das mais belas e simples foi o título que ganhou do neto do esposo. Aos 7 anos, Heitor Gabriel chegou a uma conclusão: a esposa do avô, que não era avó tampouco era tia, merecia um nome.

Vice-vó Nancy e o vice-neto Heitor Gabriel. (Foto: Arquivo Pessoal)
Vice-vó Nancy e o vice-neto Heitor Gabriel. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Eu posso te chamar de vice-vó?, ele disse. E foi uma coisa muito linda, e eu falei claro, você virou meu vice-neto".

Diplomada em Artes, e apaixonada pela pintura, neste tempo de afastamento da Nancy professora, educadora, jornalista e mestre, ela procurou um novo desafio: como pintar era fácil, quis seguir pelo caminho das mãos tal qual a trilha imposta pela vida.

"Por quê não costurar? Queria fazer algo que eu não tivesse familiaridade. E o processo de costura, nada mais é do que refazer caminhos, coisas novas".

A foto que ilustra essa reportagem foi o que fez com que o Lado B a procurasse. Em meio ao tratamento de câncer, e uma pandemia, é deste registro que a gente quer falar. Tirada pela prima de Nancy, Elizete, na comemoração de 70 anos em Camapuã, a cena foi entre brincadeiras e carinhos do casal na rede, em fevereiro deste ano.

"A gente estava num momento de muita felicidade", diz Nancy sobre registro. (Foto: Arquivo Pessoal)
"A gente estava num momento de muita felicidade", diz Nancy sobre registro. (Foto: Arquivo Pessoal)

"Tínhamos terminado essa fase da quimioterapia que foi longa, começou em setembro e terminou em fevereiro", pontua Nancy. A cada nova sessão, uma conta era feita na cabeça e no coração de Nancy: menos uma, menos uma, menos uma. E logo, logo aquilo ia acabar.

"Essa foto realmente é simbólica, é maravilhosa, tirada num momento bom, de quando eu estava voltando a ter cabelo novamente, e ele [Enzo, o esposo] já tinha raspado pela segunda vez em solidariedade".

Enzo também desacelerou junto com Nancy. Deixou os passeios, se manteve em casa e ao lado da esposa. Os filhos, e aí incluem enteados dela, fizeram o mesmo.

Se antes a reclusão era por uma questão de se redescobrir, agora, com o coronavírus, é por segurança dela e de quem está ao seu redor nas sessões de radioterapia. "A forma como tem que ser, de sair, voltar limpar tudo, a higienização... Isso me deixou tensa, porque eu estou saindo de casa me expondo, e ao mesmo tempo em que eu sou paciente ao tomar uma medicação como a radio, eu também sou vetor", pensa Nancy. "A gente vive os dois lados, e isso dá um pânico".

De volta à contagem regressiva, agora faltam menos de 10 sessões para acabar a radio. "E eu continuo no processo de amadurecimento constante. Como eu dizia para mim mesma no início da quimio, que aquilo era uma folha de papel em branco que nós não sabíamos o que ia acontecer.

Estou vivendo todo dia um dia novo para escrever, é como aquarelar, porque aquarela nunca sai do jeito que a gente imagina. Podem sair coisas lindas, como pode sair um borrão, e isso faz a gente repensar".

Nancy se despede da entrevista dizendo que vai procurar uma foto do Heitor, o vice-neto, que ela como vice-vó tanto ama.

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Nancy entre o bordado e a costura. (Foto: Arquivo Pessoal)
Nancy entre o bordado e a costura. (Foto: Arquivo Pessoal)


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