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Comportamento

Sem ligar TV há 1 ano, William faz quebra-cabeça para vencer solidão

Ele vive solitário e está enfrentando esse momento da covid de uma forma bem peculiar

Thailla Torres | 29/03/2021 07:42
Aos 87 anos, William monta quebra-cabeça todos os dias. (Foto: Thailla Torres)
Aos 87 anos, William monta quebra-cabeça todos os dias. (Foto: Thailla Torres)

Nos primeiros dias de março de 2020, o militar aposentado da Marinha William de Almeida Bernardes ainda ligava a televisão para assistir os noticiários. A rotina que costumava despertar momento de entretenimento se tornou momentos de reflexão e tristeza. Ligar a TV reacendeu as angústias.

Os noticiários que antes falavam de assuntos diversos viraram um assunto só: covid-19 e pandemia. Dias depois os anúncios de mortes pelo mundo e os primeiros casos brasileiros causaram muito desconforto no aposentado. Foi quando ele decidiu desligar a TV e encarar o isolamento social de um jeito bem peculiar: montando quebra-cabeças.

William classifica o ato de assistir televisão um pesadelo nos últimos tempos. “Alguns acham que eu estou alienado, mas isso não é verdade. Hoje eu tenho acesso a internet e a uso quando necessária. Mas ficar na frente da TV me causava angústias, era um pesadelo. Por isso, perdi a vontade de assistir”.

Na varanda, algumas das paisages com mais de 1 mil peças. (Foto: Thailla Torres)
Na varanda, algumas das paisages com mais de 1 mil peças. (Foto: Thailla Torres)

No início da pandemia William já vivia sozinho. Divorciado e pai de dois filhos que já são casados e vivem com suas famílias fora de Mato Grosso do Sul, já fazia parte da rotina dele estar só dentro de casa, mas tinha intacta a liberdade de sair para onde quisesse. A pandemia, no entanto, surrou todos os planos do aposentado.

Foi então que ele decidiu se jogar com força na montagem de quebra-cabeças, um hobby que iniciou em 2017 quando ele fez uma cirurgia de catarata e precisou se afastar do computador.

“A cirurgia foi uma lástima. Eu não conseguia mais ficar muito tempo olhando para as telas e tive de abandonar uma atividade que eu gostava muito”.

Antes da cirurgia, William costuma ficar horas no computador fazendo trabalhos no Photoshop. Anteriormente ele fez um curso completo para domínio da ferramenta e danou a fazer artes para compartilhar com amigos e familiares.

Com a necessidade de se afastar do computador, ele passou a montar os quebra-cabeças. “Eu precisava fazer alguma coisa. Hoje o quebra-cabeça pra mim é uma terapia ocupacional e até faço quadros de presentes para pessoas”.

Pela casa ele coleciona quadros finalizados com quebra-cabeças de 500 peças até 2,5 mil peças.

Na sala ele mostra alguns quadros recém emoldurados.
Na sala ele mostra alguns quadros recém emoldurados.

Depois de alguns dias montando um quebra-cabeça, William aplica cola própria sobre a arte, cobre com uma manta de isopor e leva até loja especializada em molduras para transformar as peças quadro.

São paisagens que, segundo ele, o fazem o viajar pelo tempo e pelas boas memórias. “Já viajei para muitos lugares, vivi muito, e olhar essas paisagens me traz uma paz”.

Os filhos gostariam que ele morasse por perto ou junto, em São Paulo, por exemplo. “Mas lá eu não teria mais como dirigir, sair com a tranquilidade que Campo Grande proporciona, então eu prefiro viver aqui enquanto”, diz.

Natural de Corumbá, William atuou como militar da Marinha durante anos e morou em diferentes regiões do país. Comprou residência no bairro Nova Campo Grande em 1969 e se mudou em 1984. Decidiu reformar a casa para dar todo conforto à família. Hoje a residência ficou grande e há quartos em que ele nem frequenta, mesmo assim, diz que não troca o lar por outro espaço. “Tenho um carinho muito grande por esse lugar e me sinto bem aqui. Espero que em breve tudo isso acabe e as pessoas voltem a viver nem novamente”, torce.

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