Do arroz com ovo a dobradinha, clássico "prato feito" está com dias contados
Prato feito há muito virou nome próprio na culinária brasileira. Veio o self-service, o rodízio de tudo quando é tipo de coisa, e o "PF" continua nas mesas dos restaurantes do Centro de Campo Grande, com aquele ovo cobrindo o arroz ou até carne assada e dobradinha. Mas o jeito de servir vai mudando e a tradição deve ser extinta em pouco tempo, mostram os empresários.
O preço de alguns destes lugares, que nem fachada tem, é bem mais barato que em outras versões de almoço, custa a partir de R$ 5,00. O problema é que a tendência é facilitar o atendimento, cortar funcionários e por isso o self service "controlado" é a ordem do momento.
Há 23 anos no endereço entre as Ruas 7 de Setembro e 26 de Agosto, dona Sônia Araújo, de 61 anos, faz questão de atender os seus clientes fieis do Restaurante Thomas, oferendo apenas o prato feito. Além do arroz e feijão, os acompanhamentos do cardápio variam a cada dia da semana.
As segundas, terças e sextas-feiras, é dia de carne de panela e às quintas tem dobradinha. O cliente também pode optar pelo bifão com fritas, costelinha de porco ou frango frito. Ela conta que tanta variedade é uma forma de agradar por mais tempo.
“O cliente pode chegar e pedir os acompanhamentos que quiser. Tem que ser assim porque as pessoas enjoam de comer sempre o mesmo prato, então temos que estar sempre inovando”, comenta.
Mas apesar do cardápio, a forma de servir o cliente nos restaurantes, que desde sempre foram vistos como "pé sujo", mudou e pode extinguir o conceito PF. Segundo Sônia, a procura pelo "PF", servido diretamente na mesa, ainda é boa, mas o self-service, quando cada um pode servir uma vez, pode ser uma forma de diminuir os custos.
“Quando se trabalha com prato feito é preciso uma grande quantidade de funcionários para levar cada refeição nas mesas dos clientes. Então minha previsão é de que pelo menos até o mês de agosto, eu passe a oferecer self-service. O valor da refeição será mantido, mas a diferença é que o próprio cliente irá se servir e uma única vez”, comenta.
No local, as refeições variam de R$ 8,00 até no máximo R$ 10,00 e o prato feito de arroz com ovo também oscila entre R$ 5,00 e R$ 6,00. A casa leva o título de refeição simples e mais barata nesse Guia do PF do Lado B.
No Vagner Restaurante, que fica na Avenida Fabio Zarhan, bem ao lado do Camelódromo, o carro-chefe também é o prato feito. Os preços vão de R$ 10,00 até no máximo R$ 17,50 no prato com picanha.
Mas o cliente tem promoção especial. A cada dia da semana, o restaurante tem a promoção do prato do dia, com opções desde a isca de frango até estrogonofe de carne, por R$ 10,00. Com mais R$ 2,00, ele ganha uma tubaína. A complicação é que o restaurante só aceita pagamento em dinheiro.
Na mesma rua o simpático “Alemão” como prefere ser chamado, serve carne assada para os clientes do restaurante “Babalu”, por apenas R$ 10,00 o “PF”. Nas segundas-feiras, o restaurante também oferece costela assada ao molho e nas quartas, serve peixe, mas é o cliente quem se serve.
Há mais de oito anos no mesmo endereço, o público do restaurante de nome curioso, mas sem letreiro na fachada tem, principalmente, clientes do interior. “A maior parte dos meus clientes mora em fazendas ou vem de outras cidades. Aproveitam que estão pelo centro para comerem bem, mas a um preço baixo”, comenta Alemão.
No Restaurante Novo Sabor, na Rua 26 de Agosto, quem monta o prato é também o próprio cliente e o preço é um pouco mais caro que o convencional: R$ 12,00. De acordo com o proprietário do negócio, Paulo Roberto da Rocha, a procura pelo velho e bom “PF” aumenta principalmente no final do mês.
“É quando o pessoal está com menos grana, ainda não recebeu. Ai ao invés de comer a vontade, optam por se servirem uma única vez e pagarem bem menos”, ri. A refeição de arroz, feijão e ovo no local, custa entre R$ 6,00 e R$ 7,00.
No Restaurante Tempero da Sete, na esquina da 7 de Setembro com a Avenida Calógeras, são as duas as opções mais em conta: o prato feito tradicional por R$ 8,90 e a refeição econômica, por apenas R$ 6,95.
A diferença entre um prato e outro é que, na opção econômica o cliente não pode se servir de carne e o Prato Peito pode ter até dois tipos de carne vermelha ou branca. Há sete anos no endereço, o proprietário Reveraldo Sloboda conta que chega a servir até 5 mil PFs por mês e confirma uma mudança nos hábitos dos clientes.
“A grande maioria dos clientes que opta por um 'PF' prefere se servir. Não fazem questão de que o prato seja entregue na mesa”, comenta. Mas se o comodismo na hora de comer já não faz muito o perfil dos clientes de hoje em dia, ele lembra que as velhas gerações ainda mantêm a tradição da refeição entregues direto na mesa.
“Ainda tenho poucos clientes que preferem que as garçonetes sirvam para eles, mas são idosos. Aqueles senhorzinhos acostumados a serem servidos pela esposa em casa e que quando vão a um restaurante, tem até vergonha de se servir”, ri.
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