"Quadra dos fogões" é universo retrô pra quem gosta de cozinhar
Desde 1980, comércio “da chama” cresceu, e hoje já são 6 lojas em 100 metros de quadra e com muita coisa para comprar
Assim que se faz a conversão da avenida Mato Grosso em direção à rua 14 de Julho, a “quadra dos fogões” oferece à clientela “da chama” sempre um bom negócio. Até quem não é campo-grandense já ouviu falar. Por ali, 6 lojas dividem o espaço uma ao lado da outra vendendo praticamente os mesmos produtos: fogões à lenha, churrasqueiras, "gengiskans", panelas de ferro e de barro, além dos acessórios de cozinha e para serviço doméstico – fora os itens “de fazenda”, que mais lembram casa de avó.
Jogo de panela de ferro fundido "raiz" você encontra por R$ 300, o que em qualquer outro lugar sem o conceito "rústico" sairia pelo dobro. Já conjunto de 4 xicrinhas ou de canecas esmaltadas ficam por R$ 25, isso sem os bules ou chaleiras, que inclusive são puro mimo. Panelas podem ser tanto as tradicionais metálicas e pretas quanto as coloridas em verde, vermelho, laranja, amarelo e rosa – até mesmo a de pressão! –, isso sem contar o comércio de peças de reposição e os tradicionais fogões retrôs.
E por falar neles, vem em tudo que é tamanho. Modelos pequenos sem forno só com duas bocas até os maiores de 6 a 8 chamas com forno acoplado lateralmente, seja para fins semi-industrial ou industrial. E os vendedores confirmam: não é só para fazenda não, por mais que o pessoal "da roça" é freguesia constante. Tem muita gente que coloca no quintal de casa "só" para fazer decoração, alegam os comerciantes.
Embora a disputa das 6 lojas em 100 metros de rua pareça ferrenha aos olhos de quem passa na quadra, donos e funcionários asseguram que a competição é amistosa, e cada um tem sua própria freguesia.
“Eu não sinto implicância, é mais no companheirismo mesmo, afinal todo mundo vende e faz manutenção da mesma coisa. Já aconteceu de eu não ter algum produto no estoque, mas meu vizinho ter. Já levei o cliente até lá, fui no balcão e indiquei o que precisava”, confessa Josimar Rocha Omar, de 33 anos, proprietário da Josimar Fogões.
Na quadra, a loja dele é a menor de todas (e uma das poucas com preço na etiqueta), mas não com relação à sua experiência. Desde os 17 anos de idade trabalha no ramo. Inclusive, antes de ser comerciante, Josimar já foi funcionário de seus concorrentes. Para ele, saber a peça certa é o que mais conta na profissão.
“Quem vê de fora pode até ficar na dúvida, mas cada um garante sua ‘fatia de mercado’ não com relação ao espaço físico, mas fazendo o melhor que pode, no atendimento, tendo um estoque completo, conhecimento na área. O pouquinho já faz diferença”, comenta.
A mais antiga da região é o Armazém São Paulo. Somando 70 anos de comércio, o que era um mercadinho a granel virou loja com “cara de avó”. Já na terceira geração de proprietários, o casal de sulistas Laertes Kofanovski e Leni Zampieri permaneceram firmes e fortes com “essa coisa da antiguidade” e não tem o que reclamar sobre os vizinhos.
“Aqui, todo mundo mundo respeita um o outro. Quando precisa, indicamos mesmo, até fora da região. Queremos sempre agradar a clientela. Agora, o que mais precisamos – e isso é voto comum entre todos nós – é parquímetro na rua, para que os nossos clientes também tenham chance de conseguir uma vaguinha”, considera Leni.
Vilmar Borges da Silva é o vendedor com 38 anos de casa. Passou pelos japoneses originais, o ex-patrão goiano e agora com o casal de paranaenses. Para ele, até hoje a concorrência se mantém por conta do posicionamento respeitoso e fiel de cada um.
“O espírito é esse mesmo, se mantém ‘unido’ desde lá atrás, por isso que deu certo. Por aqui, sai tudo que é produto, o cliente vem e já sabe o que quer. Se desconfia do preço, vai na loja ao lado e confere, nem costuma checar pelo celular”, confirma.
Outro funcionário é Claudio Dionisio, do Mundo dos Fogões. Ele acompanhou toda a mistura na quadra, desde a troca de funcionários e de donos, mudança de ponto e até fechamento e aberturas dos novos concorrentes.
“A competição é saudável, mas é claro que ela existe. O cliente acaba passando em todas as lojas. Preço e atendimento são o que mais fidelizam”, afirma o vendedor que possui 18 anos de atuação.
No último lado da quadra, perto do posto de gasolina, está uma das mais recentes, a Universo dos Fogões. “É o Brás campo-grandense”, associa Nestor Bial ao bairro da capital paulista que também possui lojas e mais lojas do mesmo ramo, uma do lado da outra.
“Uma coisa é certa: de lá pra cá não mudou muita coisa. Ainda tem a ‘situação’ da concorrência, mas pelo menos é tranquila. Por aqui, o cliente vem pelo boca a boca, cada um com sua loja e vendedor preferido. Assim vamos indo”, finaliza.
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