Trinta anos depois, dá para lembrar de Raul Seixas garimpando vinis nos sebos
Raul Seixas gravou 17 discos durante os 26 anos de carreira e ficou marcado pelo estilo musical contestador
Há 30 anos, se despedia em São Paulo, um dos maiores músicos do rock brasileiro, Raul Seixas. Hoje, três décadas depois de sua morte, o cantor ganhou o status de imortal pelos fãs. Em Campo Grande, há muitos que lembram com carinho de suas canções, mas poucos lugares ainda vendem discos de vinil icônicos da carreira.
Em duas lojas do Centro ainda se encontra discos de álbuns e coletâneas de Raul. Os preços variam de R$ 30,00 a R$ 90,00. Nesta semana, a loja Hamurabi chegou a receber alguns clientes em busca de coletâneas, que vira e mexe se esgota, porque há sempre um fã à procura. “Muitos são colecionadores, então estamos sempre com discos saindo e chegando à loja, especialmente do Raul”, explica o gerente Bruno De Pino, de 28 anos.
Apesar da popularidade das plataformas de streaming de música, por exemplo, Spotify e Deezer, fã verdadeiro ainda recorre ao disco e, segundo o gerente, a própria tecnologia tem feito um público distante conhecer os discos. “A demanda tem sido grande, talvez pela onda ‘retrô’ em evidência ou vontade de voltar no tempo, por isso, nunca falta discos”.
Na loja encontramos 10 discos de Raul Seixas, entre eles, “O segredo do universo”, de 1988 por R$ 30,00 e uma coletânea de 1982 por R$ 80,00.
A poucas quadras dali, na Rua 7 de Setembro esquina com Pedro Celestino, o Arco da Velha Brechó e Bazar, também guarda relíquias da música de Raul. O disco “Caminhos”, de 1983, está por R$ 45,00 e outro, com capa mais antiga, de 1983, está por R$ 55,00. “Ele é um ícone”, diz o funcionário Mário Francis, de 49 anos. “O mais interessante é que muitas músicas de Raul são compatíveis com o mundo que a gente vive hoje”, acrescenta.
Fãs nas ruas – Morador do bairro Alto São Francisco, o Ademir Arruda Sant’ana, de 59 anos, fã incondicional de Raul Seixas, ao ponto de deixar barba e cabelo crescer para ficar semelhante ao ídolo. O filho, Ademir Ferreira Sant’ana, herdou a paixão do pai. “Comecei a ouvir aos 8 anos de idade, acabei gostando da batida da música e depois dos 14 anos comecei a entender profundamente as letras das músicas”.
Nas ruas, alguns fãs até sugerem algumas músicas de Raul para resumir o atual cenário do Brasil, Ademir lembrou bastante da canção “Cambalache”.
“Século XX cambalache, problemático e febril”
O aposentado João Xavier, de 76 anos, ouviu cedinho, pelo rádio, uma homenagem feita ao artista. Cantou canções prediletas e lembrou-se do tempo que “aprendia com as letras”. “Raul marcou muitas gerações, novas e mais velhas, não é à toa que ouço até hoje. Pra mim o Raul Seixas trouxe um exemplo para os jovens”, afirma. Entre as músicas prediletas, ele canta um trechinho de “Metamorfose ambulante”
“Eu vou lhes dizer aquilo tudo que eu lhe disse antes
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Anibal Gomes da Silva, de 75 anos, diz que se tornou fã do músico quando ele fez críticas a Ditadura. “Passei a admirá-lo por seu talento de fazer criticas e ironias que nem sempre todos entendiam, mas era uma crítica consistente”, afirma. Entre as músicas preferida, ele cita “Gita”.
“Eu sou a vela que acende
Eu sou a luz que se apaga
Eu sou a beira do abismo
Eu sou o tudo e o nada”.
A morte de Raul Seixas completa 30 anos hoje (21). O cantor e compositor baiano morreu no dia 21 de agosto de 1989, em São Paulo, aos 44 anos de idade.
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