Em karaokê famoso, cerveja depois de meia-noite fica R$ 0,50 mais cara
Imagine um lugar onde quase todo mundo é uma figuraça? O Lado B encontrou esse point
Você pode se arrumar, colocar a roupa mais granfina e pedir indicação do bar mais badalado da cidade, que nenhum lugar te faz rir tanto quanto um boteco raiz onde o karaokê é servido como prato principal.
Em Dourados, numa das esquinas da Rua Cuiabá, um bar com exatamente esse tipo de experiência é capaz de amaciar até sua autoestima, caso você ande cansado de frequentar bares à caça de amizades ou flerte, mas não ganha nem uma olhadinha.
Nossa reportagem, disposta a conhecer lugares animados em Dourados durante a cobertura da Expoagro, pediu indicação de estabelecimentos e escolheu ir até o Videokê Jânio Som, um dos lugares com gente animadíssima até em noites vazias por conta do frio e da concorrência com a principal exposição da cidade.
Ali, testemunhamos que o espírito do botecão raiz e a simplicidade de quem não está nem aí para o que falam, sem dúvida, divertem mais.
Acredite, a energia do lugar faz rir mais do que um comediante famoso no mundo do stand-up. Também fez até a jornalista, autora da reportagem, mais turrona do Lado B, subir no palco e berrar cantando Chitãozinho e Xororó com “E nessa loucura, de dizer que não te quero, vou negando as aparências, disfarçando as evidências...”
No caso do Lado B, a diversão começou nos primeiros 30 segundos na cadeira de plástico do bar, quando uma das atendentes desceu na mesa uma garrafa de cerveja trincando. Era cortesia de um dos homens da mesa ao lado. Agradecemos a gentileza e dissemos que ninguém ali tomava bebida alcoólica. Segundos depois, ela surgiu com três águas, provando que ali, a turma não desiste quando o assunto é paquera.
No palco, um homem de cabelos brancos, vestido com blusa de gola rolê de galã dos anos 70, cantava algo romântico em francês. As palmas vieram como quem assistia os últimos minutos de um grande espetáculo.
Frank Santana é o nome dele, um fã de Frank Sinatra e de conjuntos como Abba. O ilustre cliente do Jânio Som desceu dizendo que canta em 4 idiomas e que há 5 anos, descobriu que a música o fazia feliz.
Aos 78 anos, do bolso tirou um cartão de visita onde se apresenta como “O novo talento de MS”. O cantor poliglota ainda contou dos elogios que recebe na noite e garantiu que hoje, a música também gera renda. "Já tenho projetos musicais previstos em São Paulo. Me ligue se quiser, quem vai atender é minha mulher, que é minha secretária", comenta.
Depois do relato completo sobre a troca de São Paulo pelo interior de Mato Grosso do Sul, há mais de 20 anos para vender imóveis, prometeu cantar naquela noite música para cada uma das 3 mulheres na mesa desta repórter. E assim fez, voltando ao palco e interpretando canções das décadas de 1970 e 1980.
Outro corajoso no palco era Jânio Pires, dono do bar, um homem de poucas palavras, mas um vozeirão. Ele contou que o local existe há 30 anos, mas só há 8 que tem karaokê. “Sempre gostei muito de cantar”, diz. Por isso, resolveu colocar a cantoria como um atrativo que faz o bar aos fins de semana de calor ficar lotado até às 4h da madrugada.
Em outra mesa, um casal aplaudia um dos clientes que cantava sem a menor afinação para música sertaneja. De cara, o pensamento que vem à cabeça é: "como é bom ter amigos que te apoiam em tudo". Mas foi só a música terminar para vermos a pessoa descer do palco e passar reto, demonstrando que não tinha qualquer relação com o casal. É só a "irmandade" do karaokê a gerar mais uma cena divertida.
Os dois mal conheciam o lugar e foram surpreendidos tanto quanto a gente. “Quem nos trouxe aqui foi o Uber. Pedimos indicação de um lugar animado e ele nos deixou aqui”, disse a esposa, Carla Lorena, que passou a cantar e dançar com a gente até o fim da noite.
Naquela noite, fazia 9 °C em Dourados, frio que atrapalhou um pouco o movimento, mas não suficiente para o povo abrir mão da cerveja, que depois da meia-noite, fica mais cara.
Na parede, um aviso indica que “depois da 00h a cerveja custa R$ 0,50 a mais”. O dono justifica como uma forma de lucrar mais para pagar as despesas do estabelecimento, já que ali, boa parte das cervejas tem valores mais acessíveis.
Já a ficha para cantar o karaokê sai a R$ 5,00 com direito a cantar 2 músicas. Mas se sua ansiedade for muita, é preciso chegar cedo, porque o povo compra fichas e a cantoria é por ordem de compra.
Mas se o conselho for bom, nossa sugestão é que você tenha paciência e, enquanto não subir no palco, tente desfrutar mesmo de todas as figuraças que estão pelo local.
Numa das mesas, conseguimos dar muitas gargalhadas com o Adriano, que tentou flertar de longe com as mulheres jornalistas da mesa, mas quando viu que não daria certo, resolveu pedir para fazer amizade e contar um monte de história. Nem é preciso dizer que rimos até chorar com cada pérola escutada.
Aos poucos, a cerveja vai descendo e todo mundo vai perdendo o medo. Quem chega já de madrugada fica mais receoso, mas com o incentivo dos amigos, acaba encarando o microfone e pedindo mais fichas. Outros aproveitam a cantoria com um desabafo, cantando “Infiel” de Marília Mendonça com toda força. O resultado? Uma volta para casa com toda dor de corno descarregada e vontade de cantar de novo.
“Quem canta, seus males espanta.”
A Videokê Janio Som fica na Rua Cuiabá esquina com a Rua Melvin Jones, na região central de Dourados, e funciona a partir das 18h30.
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