Estacionamento e incentivo fiscal são propostas para ‘reviver’ Centro
Reunião entre a prefeitura e os comerciantes do Centro aconteceu na noite desta quarta-feira (20)
“Bem tombado, ocupado, ele vive. Bem tombado, não ocupado, ele é destruído”. A frase foi usada como um lembrete, durante reunião entre a Prefeitura de Campo Grande e os comerciantes da região central, que aconteceu na noite desta quarta-feira (20) sobre importância da atividade econômica que vem sendo desenvolvida no local.
Com boa parte do Centro tombado como patrimônio há cerca de um ano, a cidade acompanhou o projeto de ocupação da região começar a caminhar. Em questão de meses, a Rua 14 de Julho, antes sem vida após o horário comercial, viu suas salas comerciais desocupadas darem espaço a bares e pubs, que lutam para manter a vida noturna da cidade ativa.
A ocupação não apenas devolveu vida ao Centro fora do horário comercial, como também passou a movimentar todo o pequeno comércio local, como destacou Leonardo Salgado, proprietário do Copo Bar.
“Hoje eu vejo a minha vizinha, que tem uma loja de artesanato, abrindo na sexta-feira e atendendo o meu público, o nosso público, à noite. O estabelecimento do lado tem um estacionamento, que está atendendo os bares, até no domingo. A gente viu que movimentou o hotel, eu atendo várias pessoas que moram aqui. O meu vizinho ali em cima do prédio da Glória tá fazendo um espetinho embaixo, como ambulante. Então a gente vê que o centro precisa disso, a cidade carece”, ressalta.
Em mais uma tentativa de salvar o Centro de Campo Grande da ruína do abandono, e também fomentar a vida noturna na Capital, representantes de diversas secretarias, juntamente com a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), reuniram-se com os comerciantes para discutir propostas de ocupação e melhorias para a atividade econômica na região.
O objetivo do encontro foi ouvir as reivindicações e reclamações dos comerciantes, e apresentar o que já está sendo posto em prática para adaptar a atividade econômica do Centro à nova realidade da cidade.
A ideia da Prefeitura de Campo Grande é construir, por meio de testes e experiências, novas políticas de ocupação para a região central em conjunto com os comerciantes. Na reunião, foi proposto criar um estreitamento de laços e comunicação entre os dois grupos. Para isso, Adriane Lopes colocou ‘à disposição’ as secretarias, e propôs novas reuniões.
Reclamações e reivindicações
Dentre as principais reclamações dos comerciantes, foi abordada a questão da falta de estacionamento. Durante a reunião, foi levantada a problemática da falta de rotatividade das poucas vagas que restaram após a revitalização, e como isso acaba afastando os clientes, por não terem onde estacionar.
Outro ponto abordado foi a forte presença de moradores em situação de rua e usuários de drogas, que muitas vezes fazem o uso de entorpecentes em plena luz do dia, na frente dos comércios. A mudança na circulação de ônibus com os novos corredores, que acarretou em acabar com a passagem do transporte público em algumas ruas, também foi citado como um problema, pois os comerciantes relatam que diminui a circulação de clientes em potencial nas portas das lojas.
Outra preocupação citada foi em relação ao projeto de transformar a 14 de Julho em um corredor cultural gastronômico. Foi chamada a atenção para as futuras reclamações que poderão surgir em relação ao barulho e movimentação, o que preocupa os comerciantes. A sugestão oferecida foi criar incentivos fiscais para os moradores da região.
“As pessoas não querem barulho. É meia-noite, não pode nem conversar mais. E a partir do momento que nós fizermos um corredor gastronômico, vai chover de pessoas aqui no Centro, e se acontecer isso aqui, vai ser muito importante. Mas vai ter que haver esse entrosamento, essa barganha, para essas pessoas não reclamarem, porque nós também precisamos de pessoas morando no Centro”, opinou uma das comerciantes presentes.
Já para os comerciantes que dão vida ao cenário noturno da Capital, as principais problemáticas apresentadas foram em relação às dificuldades nos processos burocráticos para conseguir alvará de funcionamento, como foi o caso do Leonardo Salgado, proprietário do Copo Bar. “A gente teve um entrave recentemente com a Semadur porque até hoje não liberaram nosso alvará especial”, destacou.
Proprietária do Pizza Pub, Nicole Dichoff também abordou a necessidade de mais espaço para os clientes transitarem pelo local, além da necessidade de ações mais efetivas da prefeitura em relação à segurança pública e à limpeza.
Leonardo e Nicole também destacam que os próprios bares se responsabilizam por manter o local limpo e organizado, mas enfrentam bastante dificuldade em relação às pessoas em situação de rua, que bagunçam os sacos de lixo.
“A gente tem sentido a necessidade física de mais espaço pras pessoas transitarem lá durante a noite. E essas questões em relação à limpeza e à quantidade de lixo, segurança, acho que são questões que também afetam os bares, e coisas que fazem a gente estar preocupado”, comentou Nicole.
Planos e ações apresentadas
Como um ‘projeto piloto’, a prefeita, Adriane Lopes (PP), anunciou que fechará a Rua 14 de Julho neste final de semana, entre às 19h e a meia-noite, para dar apoio à vida noturna. A rua será fechada na altura da Marechal Rondon com a Antônio Maria Coelho, e terá a presença da GCM (Guarda Civil metropolitana), para atuar como força de apoio.
A interdição começa na sexta-feira (23), e será uma forma de experimentar na prática o fechamento da rua como uma medida de apoio às atividades dos bares, além de promover a segurança pública no local.
Atendendo às reclamações dos comerciantes que atuam no Centro no período diurno, em relação ao lixo e à limpeza, a prefeita disse que estará disponibilizando nesse ‘projeto piloto’ equipes de limpeza pública para atuarem logo após os bares fecharem, e também no período da manhã, antes das lojas abrirem.
Dentre outras ações para devolver vida ao Centro, a prefeita voltou a citar que Campo Grande terá sua primeira Casa da Cultura, que será instalada no prédio de propriedade do Exército Brasileiro, localizado na Avenida Afonso Pena. A prefeita também ressaltou que a Morada dos Baís, importante ponto turístico da cidade, reabrirá as portas em breve, para retomada de suas atividades.
Sobre o problema com as pessoas em situação de rua e usuários de drogas, Adriane destacou que a SAS (Secretaria de Assistência Social), está com duas equipes de abordagem, que trabalham 24 horas oferecendo acolhimento em cinco abrigos no município.
Adriane também declarou que a presença de comércios voltados ao setor gastronômico já era uma reivindicação antiga no Centro, e questionada pelos comerciantes sobre sancionar o PL (Projeto de Lei) que cria um corredor cultural e gastronômico na Rua 14 de Julho, aprovado pelos vereadores no início do mês, ela reafirmou o compromisso de sancionar o projeto.
Dentre as medidas discutidas com os empresários, a subsecretária de Projetos Estratégicos, Catiana Sabadin, destacou que já iniciou um estudo na prefeitura, de incentivos fiscais para a região central. O intuito seria ‘beneficiar’ comerciantes e moradores que vivem e trabalham no coração do Centro de Campo Grande, como uma medida para aumentar as taxas de ocupação. O projeto, no entanto, entrará em discussão apenas em 2025.
Atendendo às reclamações a respeito da falta de estacionamento, inclusive para os funcionários das lojas, Catiana também destacou que está previsto para quarta-feira (21) uma reunião com o Consórcio Guaicurus e a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito).
A reunião é para tratar sobre a ideia de criar um bolsão de estacionamento para os funcionários das lojas, além de colocar um micro-ônibus para rodar pelo centro, principalmente para transportar os funcionários do bolsão às lojas.
Ela detalha que a equipe técnica ainda está avaliando um local para destinar ao bolsão, além de patrocínio para o micro-ônibus. A ideia inicial é que não seja cobrada uma tarifa pelo serviço.
A próxima reunião, a princípio, está marcada para a próxima terça-feira (27), para que as secretarias possam ouvir o feedback dos comerciantes sobre as interdições neste final de semana.
“O que a gente precisa é experiência daqui para frente. Ninguém tem uma receita que vai dar certo a não ser a experiência do teste. A ‘cracolândia’ fica onde tem escuridão e onde não tem pessoas. Se você trouxer um movimento de pessoas para o Centro, a revitalização, a medida gastronômica, no período noturno, possivelmente essa realidade vai mudando”, finalizou a prefeita.
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