Festival do Chamamé não é só música, também tem comida e artesanato
Hoje e domingo o evento começa cedinho, às 8h, com música ao vivo e dança
Apesar da promessa de um evento também gastronômico rico em sabores da fronteira, os pratos do Festival Cultural do Chamamé se limitaram ao acarajé baiano, cachorro-quente, churrasquinho e arroz carreteiro. Thiago Coutinho, um dos produtores, explica que estava programada uma variedade maior de barraquinhas, mas os responsáveis não compareceram e não deram uma explicação.
Mesmo com o desfalque em sabores, quem vai diz não se arrepender. No 1º e 2º dias, a festa foi na Praça do Rádio Clube, ontem ocorreu no Palácio Popular da Cultura, mas volta neste sábado e domingo à praça, hoje e amanhã desde às 8h
A aposentada Maria Beatriz de 64 mora no prédio em frente à praça e aproveita da sacada a maioria dos eventos, que para ela trazem vida a um lugar praticamente abandonado na rotina do centro de Campo Grande depois das 18h.
Apesar do frio, a música chamou a atenção e ela decidiu descer da sacada para assistir as apresentações de dança de perto e ainda experimentar o carreteiro, que agradou o paladar e tirou elogios da aposentada e o cachorro-quente, que “tinha um pão que derretia na boca”.
Criado ouvindo chamamé, o dentista Oscar Martinez é de descendência paraguaia e guarda com carinho as lembranças da infância passadas na casa da avó na cidade de Juan Eulogio Estigarribia, no Paraguai. Ele fez questão de participar do 2º Festival Cultural do Chamamé de Mato Grosso do Sul na companhia da namorada, a empresária Marilisa Mucke, que “nem é tão fã” assim da música, mas que acompanha Oscar em todos os bailes.
Além de marcante, para ele a música carrega o ritmo da fronteira e a história das famílias que levam no sangue o gosto pela dança e pela tradição dos bailes, e eventos como o Festival do Chamamé preservam essa cultura, “Quando era mais novo eu ia em muitos bailes e vendo os grupos tocando, revivi isso”, relembra Oscar.
O casal aproveitou a festa para encontrar os amigos, também integrantes do Instituto do Chamamé em Mato Grosso do Sul, dançar e fazer compras na feira de artesanato, que tinha desde produtos indígenas até uma camisa feita com fios algodão e bordado tipicamente paraguaio, que Oscar comprou para levar um pouco mais da própria cultura consigo, inclusive para o ambiente de trabalho.
Curtir a música, as apresentações e o encontro com os amigos, fez a presença no festival valer a pena, mas Oscar sentiu falta de mais comidas típicas, para ele faltou a verdadeira chipa paraguaia, um dos pratos favoritos e que ele estava ansioso para provar novamente. “Ela é mais pesada, mais crocante na boca e muito mais saborosa do que a que encontramos por aí todos os dias”.
Sabor nostálgico da infância, para Oscar o cheiro e o gosto da verdadeira chipa trazem a sensação de estar na casa da avó, que sempre acordava muito cedo e deixava uma chipa em cima da chapa do fogão a lenha, para que ela estivesse crocante e quentinha para o café da manhã. “Sempre achei que ela fazia na hora, até que um dia meu pai me contou o segredo: A chipa não estraga, ela fazia durante a noite e de manhã passava na água e colocava na chapa para voltar a ficar crocante, se você fizer isso com essa outra chipa que dizem que é paraguaia, ela desmancha e murcha”, revela.
Única chipa verdadeiramente paraguaia e tão boa quanto a da avó que Oscar encontrou em anos, foi a da dona Hilda, que para ele é a melhor da cidade. Mineira e casada há 11 anos com o marido paraguaio, aprender a fazer a chipa tão tradicional não foi um problema.
O grande segredo é misturar bem, para isso a pessoa precisa ter mão quente na hora de sovar a massa, também é preciso dosar a medida certa de ingredientes, que são: 6 ovos, 250 gr banha de porco ou manteiga, dona Hilda alerta que margarina ou óleo estragam a receita, uma pitada erva doce, sal a gosto, 1 kg de polvilho doce e 500 gr de queijo caipira, o leite precisa ser adicionado com cuidado até dar o ponto.