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Diversão

Nas férias, conheça os vizinhos; Bem perto de MS, há um banho de novas culturas

Aline Araújo | 28/01/2015 09:00
Durante a viagem, os amigos surgem em vários países. (Foto: Arquivo pessoal)
Durante a viagem, os amigos surgem em vários países. (Foto: Arquivo pessoal)

Mato Grosso do Sul ocupa lugar privilegiado no mapa para quem quer se aventurar em um mochilão pela América do Sul. A viagem para quem mora no estado acaba ficando mais fácil e barata. Um dos roteiros mais conhecido para conhecer a rota que vai até Machu Picchu, no Peru, tem a saída em Corumbá.

Saindo daqui, o caminho é Campo Grande – Corumbá – Puerto Suárez e em seguida Puerto Quijarro, para seguir então viagem e explorar a Bolívia, depois o Peru ou o Chile, no lado oposto.

Com cerca de 3 mil reais, e as vezes até menos, é possível conhecer até três países, com a possibilidade de ainda incluir Argentina e o Paraguai no roteiro. No caminho, há deserto, neve, paisagens maravilhosas e até uma cidade feita de sal.

O Lado B conversou com um grupo de amigos que resolveu sair pelos países vizinhos, para que eles compartilhem um pouco da experiência e até inspirem outros viajantes.

Uma pizza na Bolívia (Foto: Arquivo Pessoal)
Uma pizza na Bolívia (Foto: Arquivo Pessoal)

A professora e jornalista Lais Camargo, de 24 anos, é a veterana na rota. Há 5 anos ela fez a viagem e até escreveu um livro sobre a experiência, "Bagagem Contada", com histórias que viveu durante o trajeto. O trabalho de conclusão de curso saiu da academia e hoje pode ser comprado por R$ 10,00. Este ano, ela retornou com o noivo, o jornalista, Alexander Onça, de 26 anos, e na bagagem, uma nova visão sobre a vida.

“Foi tudo diferente. Da primeira vez eu tinha outro olhar, de quem estava iniciando a faculdade, iniciando a vida adulta, pensando em ter minha própria casa. Dessa vez, eu já estava imersa nesse novo universo, cheia de novas responsabilidades e uma certa 'malandragem' com relação ao roteiro. Estava um pouco preparada para o que ia acontecer e me indignar novamente. Tinha também muita ansiedade em chegar aos destinos que eu já sabia que valiam a pena só para poder aproveitar melhor”, relata.

Mas o que deixou a viagem com o toque especial foi a companhia do amado. Agora, ela pode dividir com o noivo uma das lembranças de um dos lugares que mais gostou de conhecer, a Bolívia. Tanto nos aspectos positivos, como negativos, de quando se conhece uma realidade diferente da brasileira.

“ Foi engraçado ver meu noivo passar pelo que eu passei da primeira vez, principalmente, ele que é muito ligado à questão da caridade, ele queria ajudar a todos numa situação em torno dele, mas com o passar dos dias foi entendendo que a Bolívia é um país com muita pobreza mesmo e dificilmente uma ação isolada poderia mudar algo e acabava sugando muito ele. Então, vamos nos compadecendo com a situação do próximo, ao mesmo tempo que criamos uma couraça para trabalhar nosso próprio comportamento”, explica Laís.

Lais e Alexander  em Machu Picchu, Peru. (Foto: Arquivo Pessoal)
Lais e Alexander em Machu Picchu, Peru. (Foto: Arquivo Pessoal)

Desta vez, Laís optou por viajar com um pouco mais de conforto. Foi de avião até La Paz, além do noivo, com a amiga, Daniella Pereira, de 33 anos, que também encarou a aventura pela primeira vez. Em La Paz, eles encontraram o veterinário Lucas Azzuaga, de 27 anos, que resolver ir de trem, o "Trem da Morte" que parte de Corumbá, como é apelidado pelos viajantes.

Dani vai lembar para sempre da viagem, como o primeiro mochilão. “Me surpreendi, porque achei que ia passar muitos perrengues (não que eles não tenham acontecido), mas foi muito mais tranquilo e eu estava preparada para tudo”, comenta.

Se alguns fatores encantam, outros decepcionam. “Bom, na Bolívia fiquei muito decepcionada com a falta de higiene e com o tratamento com os estrangeiros, mas amei os pontos turísticos. A paisagem é linda! Gosto muito de cores, logo fiquei muito encantada com o vestuário e artesanato local”, relata Dani, que acredita que a companhia dos amigos deixou o trajeto mais agradável.

Dani e Lais nos Andes. (Foto: Arquivo pessoal)
Dani e Lais nos Andes. (Foto: Arquivo pessoal)

A diferença com a nossa cultura é gritante. Lais pontua algumas questões, até para ajudar quem pretende um dia fazer a mesma rota. Fora do Brasil, bate a saudade do jeitinho brasileiro. “Quando a gente vai para outro país é diferente no sentido de que não sabemos como é a educação da população, portanto não sabemos como nos comportar em algumas situações. Por exemplo, na Bolívia, se você fica muito tempo em uma loja e não leva nada, o vendedor te xinga. Se vc pede pizza meio a meio e isso não está no cardápio, por algum motivo, eles não conseguem entender porque vc pediu aquilo, se aquilo não existe no cardápio”, explica.

Ela também conta que no Peru, por ser um destino turístico muito visado, é preciso ficar esperto, não só para compreender as diferenças culturais, mas também para não ser passado para trás.

“Eles tentam nos sugar o tempo inteiro, exploram mesmo. Enganam, vendem pacotes que prometem uma coisa e chegamos na hora é outra. Isso você pode ser estudante ou milionário, vai passar por isso. As vezes ficávamos indignados com as condições dos hotéis, mas era porque tínhamos que ir no mais barato mesmo. Mas quanto as mentiras dos pacotes, não adianta ter dinheiro, o país simplesmente não está preparado para demanda. Em Machu Picchu, eram 3.200 pessoas no dia 2 de janeiro”, lembra.

Na companhia de amigos a viagem ficou mais agradável.   (Foto: Arquivo pessoal)
Na companhia de amigos a viagem ficou mais agradável. (Foto: Arquivo pessoal)

Mas os pontos positivos, como as paisagens e toda a experiência de encontrar pessoas de todo o mundo e compartilhar momentos com os amigos, acabam superando os fatores ruins. Para Lucas, um mochilão pelos países vizinhos contribui para o desenvolvimento pessoal.

“A experiência foi muito gratificante, o contato com pessoas de outra cultura, de costumes e culinária diferente por exemplo, faz a gente crescer muito como pessoa e também analisar a nossa vida de um outro ângulo. O Peru e a Bolívia são países muito ricos, embora não pareça, eles tem outro tipo de riqueza que está no olhar deles. São dois países riquíssimos em beleza natural, é difícil dizer o que eu mais gostei, cada lugar e cada passeio é uma emoção diferente. Macchu Picchu é demais, a localização, a arquitetura a história que tem por trás de tudo aquilo e principalmente os pontos de interrogação que fica na nossa mente quando a gente sai de lá”, comenta. Lucas também ficou impressionado com a força do povo Boliviano e o envolvimento deles com a proteção ambiental.

Perguntei ao grupo algumas dicas para quem pretende conhecer os países vizinhos com uma mochila nas costas.

Antes de sair de casa é bom estudar bem o roteiro, e também ter um Plano B, caso algo de errado. Revisar os itens da mochila e reservar hotel ou hostel com antecedência, sempre levar um cartão de crédito ou um dinheiro extra. Laís deixa o conselho de algo indispensável para levar. “Muita compreensão na bagagem. Porque você vai estar em um pais estrangeiro. Você é visita e é quem mais tem que respeitar a casa”.

Um banho de diversidade cultural.
Um banho de diversidade cultural.
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