Após muito desabafo em fila de banheiro, Bibiana abriu redes para falar de sexo
Psicóloga, DJ e produtora de moda, Bibiana viveu um processo doloroso na descoberta da sexualidade e, por isso, quis ajudar outras mulheres a quebrar o silêncio
São anos ouvindo desabafos e relatos tocantes da mulherada relacionados a sexo. Psicóloga, DJ, modelo e produtora de moda, Bibiana Soares de Vargas, de 32 anos, decidiu abrir suas redes sociais para falar do assunto com naturalidade. Mas, com os ataques conservadores em Campo Grande isso não é tarefa fácil, mesmo assim ela tem conquistado mulheres pelo jeito descontraído, especialmente, no Instagram, de mostrar o quanto é necessário informação e acolhimento.
Sempre dançando e falando sobre o assunto sem nenhum pudor, Bibiana é enfática ao Lado B. “Todo mundo está pensando em sexo e todo mundo quer falar sobre sexo”, diz. Mas porque tem gente, especialmente, mulheres que não falam? "Justamente o silêncio que o tabu, gerado pela nossa sociedade machista, impõe sobre esses assuntos. Como mulher a descoberta da minha sexualidade foi um processo muito solitário, doloroso e traumático. Eu era muito tímida e tinha vergonha de conversar sobre isso", conta.
Na adolescência, Bibiana viveu momentos difíceis a ponto de usar o silêncio como defesa. "Fui exposta durante a adolescência, na escola, e me fechei muito, a ponto de não ter coragem de compartilhar nada com ninguém. O sexo sempre foi me ensinado como algo errado e que era vantajoso só para o homem. Na escola, tive as informações biológicas, mas nunca foi falado sobre abuso, sobre prazer feminino, sobre cuidados, tudo que aprendi no início da minha vida sexual vinha dos meus namorados, por isso, falar sobre sexo não é só para prática, mas também para o nosso cuidado", destaca.
Sempre disposta a ouvir as pessoas, foi com a profissão que Bibiana entendeu a necessidade de abrir espaço para o assunto sem nenhuma censura. "Atendi como psicóloga em uma UBS por 3 anos e foram inúmeros os relatos que ouvi. Quando parei de atender e comecei minha carreira de DJ, nos banheiros de baladas também presenciei e ainda presencio muitos relatos".
Além das questões do prazer feminino, que é pouquíssimo falado e explorado, existem muitos relatos de abuso e violência, na maioria das vezes sofrido por mulheres. "Muitas já relataram traumas e como é difícil ter uma vida sexual prazerosa após a violência. Em contrapartida, escuto coisas legais, como técnicas, acessórios de sexshop e fantasias. Aliás, depois dessa conversa aberta percebi o quanto a fantasia das pessoas são inusitadas e isso é muito interessante".
Foi após tantos desabafos que Bibiana viu em sua rede social, a chance de levar informação e acolhimento as mulheres. "Recebo diariamente relatos, dúvidas, sugestões e incentivos".
A principal preocupação é com a violência, explica a psicóloga. "Estamos vivendo um período sombrio para as ditas “minorias”: mulheres, negros, índios, pobres e LGBTS. A hipocrisia e o ódio estão muito acima da empatia e do respeito. Falando especialmente sobre a situação das mulheres, estamos no Estado brasileiro com os maiores índices de violência contra a mulher e casos de feminicídio. Mas o que tenho aprendido com esses tempos sombrios é que a mudança começa em nós, por isso, respeito outras mulheres, devemos proteger outras mulheres, incentivar e apoiar essa corrente".
No Instagram, o retorno tem sido positivo, mas não faltam homens que se acham no direito de criticar Bibiana só por falar do assunto e dançar à vontade em seus vídeos. "A resposta é em sua maioria positiva, eu costumo chamá-los de “seguimores” porque recebo muitas mensagens de incentivo e amor. Mas isso não é um parâmetro de mudança social, na internet vivemos em grandes “bolhas”. E claro, também recebo críticas e elas me ajudam, mas o que ainda me fere são comentários machistas, em sua maioria de homens, com intuito de me constranger ou me diminuir. Mas bloqueio e a vida segue".
O lado bom, segundo Bibiana, é ter o apoio das mulheres, principalmente, da família. "Me surpreendi muito com a confiança das minhas seguidoras em contar suas experiências e traumas, isso me inspira e me dá forças para continuar, assim como as mulheres da minha família, Denise (mãe), Amanda (irmã), Ladani (cunhada), Aline (tia), Maria Paula e Gaivota (primas).
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