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O que dizer quando a criança pergunta: “o que é violência sexual?”

Psicóloga explica que é fundamental o diálogo quando a criança pergunta sobre violência sexual

Thailla Torres | 26/03/2023 10:28
Psicóloga explica que é fundamental que os pais e responsáveis abram espaço para o diálogo quando uma criança faz perguntas sobre violência sexual
Psicóloga explica que é fundamental que os pais e responsáveis abram espaço para o diálogo quando uma criança faz perguntas sobre violência sexual

Em uma conversa com pais e familiares, os relatos são de que antigamente o maior desafio era falar de questões relacionadas a sexo com os filhos. No entanto, hoje, com tanta informação, o sexo nem é mais um tabu. Se antes a família fugia do assunto quando crianças perguntavam “de onde vem os bebês?”, hoje é preciso antecipar discussões cada vez mais sérias para evitar que situações como abuso e violência sexual ocorram ou, se ocorrerem, crianças sintam-se em um ambiente seguro para contar e pedir ajuda.

Em enquete feita neste sábado pelo Campo Grande News, 89% dos leitores acham importante falar com a criança sobre violência sexual. Apenas 11% discordaram. No entanto, alguns pais e responsáveis sentem dificuldades de entrar no assunto quando a pergunta é “o que é violência sexual?”.

Para a psicóloga* Messielen Pereira Pinto, especialista em psicologia infantil, é fundamental que os pais e responsáveis abram espaço para o diálogo quando uma criança faz perguntas sobre violência sexual. Segundo ela, esse é um assunto delicado, mas que não pode ser ignorado ou minimizado.

“Não existe uma forma perfeita para dialogar sobre violência sexual com os filhos, mas é certo que, o diálogo precisa ser o mais claro possível para a criança. Por exemplo, não dá mais para continuar ensinando que os bebês são trazidos das cegonhas! É uma história que não é clara e a criança ainda continuará tendo curiosidade. Portanto, quando seu filho questionar, apenas responda, não se preocupe em procurar a palavra mais adequada possível, tenha uma conversa livre de vergonha. Sendo assim, a cada frase explicada, pergunte a ela se está conseguindo entender”, explica.

Como explicar o que é violência sexual para as crianças?

Para Messielen, o diálogo aberto e sincero é o primeiro passo, mas os responsáveis precisam estar cientes que violência sexual não é um assunto que se faz uma vez na vida e pronto.

“Toda vez que houver  esse diálogo, com o tempo se tornará cada vez mais natural. Nos primeiros momentos pode ser difícil, mas pode começar explicando que violência é algo que causa dor física, como um beliscão, morder, puxar o cabelo Em seguida explique o que são partes íntimas, a criança precisa saber o que são órgãos genitais”, explica.

Feito isso, é importante deixar claro que qualquer pessoa que tocar nas partes íntimas, sem a permissão, se estiver se sentindo desconfortável, esse ato é uma violência sexual. “Então qualquer pessoa que pedir para ver as partes íntimas, tocar, beijar, e até mesmo tirar fotos, é uma violência sexual. Toda vez que explicar sobre o fato, deixa claro o que pode fazer, para quem pedir ajuda se acontecer com ela ou algum amiguinho”.

Se a criança contar alguma história, não duvide!

A psicóloga ressalta que a conversa deve ser adequada à idade da criança e que é importante não deixá-la insegura com as reações dos pais caso a criança pergunte ou conte algo que aconteceu. “Muitas vezes, que os filhos não contam, por medo da reação dos pais. Então, cuidado com as reações exageradas e agressivas”, sugere a psicóloga. “Se a criança contar alguma história, não duvide! Demonstre empatia. Mas se tiver muita dificuldade na explicação, busque a literatura. Existem livros, assim como vídeos que tratam o assunto de forma lúdica, vale a pena pesquisar. O que não vale, é permanecer no silêncio”.

Deixar de dar uma explicação à criança pode gerar mais curiosidade e respostas incoerentes. “É importante tirar as dúvidas no momento em que a criança está perguntando, se falar que é um assunto complicado e que depois irá sentar para conversar, a criança vai ficar com mais curiosidades e procurar respostas de outras formas e aí pode ser perigoso”.

A psicóloga alerta que toda criança em qualquer fase do desenvolvimento, possui dúvidas, e precisa ser orientada. Quando não existe diálogo em casa, a criança busca informações em outros lugares. “Muitas vezes essa busca vem acompanhada de informações incoerentes. Uma criança que não é orientada corretamente está mais vulnerável e corre o risco de sofrer violência sexual. Ela precisa se sentir segura e saber que existe pessoas que irão protegê-las em qualquer situação”.

Existe uma idade certa para falar com crianças sobre violência sexual?

De acordo com a profissional, não! “Não existe uma idade certa, crianças precisam serem orientadas desde sempre, sobre violência sexual. Até porque, a violência acontece independente da idade. Não precisa acontecer algo, para que assim, possa ser esclarecido com a criança. Orientar é prevenir”, pontua.

De quem é a responsabilidade de orientar sobre violência sexual? 

Existe uma discussão de quem se deve assumir essa responsabilidade de orientar sobre a violência sexual. Messiane esclarece que essa responsabilidade é de todos, família, sociedade e estado.

“Como uma criança conseguirá identificar o que é abuso/violência se não foi explicado a ela? É preciso praticar o diálogo em casa, para que ela se sinta protegida e saiba pedir ajuda se alguma situação de violência acontecer.  Além da responsabilidade da família, outros espaços também precisam ocorrer orientações, pois as estatísticas mostram que muitos dos abusadores, são pessoas próximas da criança e infelizmente ela não está segura em casa, portanto, é fundamental que outros lugares que a criança frequenta, como escola, abra espaço para discussão”.

A psicóloga também ressalta a importância de nadar contra a corrente da polêmica em achar que discutir sobre o tema, é ensinar crianças a fazerem sexo. “Pelo contrário, ampliar espaços de discussões sobre violência sexual, é ensinar a criança a dizer não, quando se sentir violada, instruí-la  sobre o que fazer quando algo de ruim acontecer e principalmente ser um espaço de prevenção e de escuta”, finaliza.

*Messielen é especialista em psicologia social e atua como psicóloga clínica atendendo crianças, adolescentes e adultos no consultório e também na Secretaria de Assistência Social no CREAS Centro como psicóloga social.

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