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Sabor

Ensinando em casa, chef prova que cozinha é lugar de criança sim

Cozinhar trabalha habilidades motoras, mostra na prática o que a matemática ensina e ainda constrói memórias

Paula Maciulevicius Brasil | 23/04/2021 09:54
À esquerda, Miriam, a chef de cozinha apaixonada por ensinar crianças (Foto: Arquivo Pessoal)
À esquerda, Miriam, a chef de cozinha apaixonada por ensinar crianças (Foto: Arquivo Pessoal)

Chef de cozinha há 22 anos, professora há nove e mãe das geminhas mais fofas que já adentraram uma cozinha há quatro. Miriam Arazini Garcia é daquelas pessoas que, apaixonada pelo que faz, deixa quem a ouve emocionada.

No lugar de dizer que cozinha não é lugar de criança, ela não só quer mostrar aos pequenos os prazeres que o fogão junto dos ingredientes podem proporcionar como também trabalhar as diferentes habilidades que a cozinha pode trazer.

Depois de encerrar um ciclo como docente no Senac, Miriam uniu suas três paixões num só projeto: crianças, gastronomia e dar aulas. A ideia é ensinar crianças e adolescentes a se descobrirem na cozinha.

O registro é de produção de massa em casa, ao lado dos sobrinhos (Foto: Arquivo Pessoal)
O registro é de produção de massa em casa, ao lado dos sobrinhos (Foto: Arquivo Pessoal)

"Meu sonho sempre foi ser mãe, depois que tive filho, entendi o poder edificante que as crianças têm e o potencial delas para transformar o mundo", fala.

Antes mesmo de ser mãe, Miriam já levava para a cozinha o sobrinho Thomas e os filhos de amigas, e nos cursos de férias do Senac, via crianças lidarem com os ingredientes durante as aulas.

No caso das geminhas, Ana e Elisa, que estão na maioria das fotos de arquivo da mãe, a cozinha esteve presente desde cedo. Com 1 aninho elas já "melecavam" as mãozinhas e com a supervisão de Miriam sobem na cadeira para alcançar a panela no fogão.

"Sempre fiquei pensando que existem cursos pontuais de férias, as crianças ficam lá dois, três dias cozinhando... Mas se as famílias colocam os pequenos para fazer aula de balé, futebol, capoeira, música, inglês, por que não ter aulas periódicas de gastronomia também?" se perguntou Miriam.

Geminhas, Ana e Elisa são as alunas mais aplicadas da mãe, que aprenderam desde cedo que cozinha também é o lugar delas (Foto: Arquivo Pessoal)
Geminhas, Ana e Elisa são as alunas mais aplicadas da mãe, que aprenderam desde cedo que cozinha também é o lugar delas (Foto: Arquivo Pessoal)

Claro que não é tão simples como deixá-los em um local por 45 minutos, porque a cozinha exige tempo de preparo e espera entre a comida assar ou cozinhar, o que significa aulas mais longas. Mas isso é só um ponto que Miriam explica aos pais.

"Acredito que a gente pode colocar como outra atividade extra a cozinha para as crianças, porque ela desenvolve habilidades importantes que ajudam em muita coisa", ressalta.

As aulas têm dois formatos, o primeiro onde o próprio aluno escolhe a receita que vai fazer e fornece os ingredientes. Tipo de aula que a chef até prefere por ser totalmente personalizado. Tem também a opção de pacotes fechados com quatro aulas e receitas que variam conforme a faixa etária.

Dos adolescentes, as aulas vão desde os primeiros passos: aprender a fazer arroz, feijão, omelete, sempre pensando em uma refeição completa; módulo de sobremesa e por fim, o gourmet.

"Minha intenção não é profissionalizar ninguém, é fazer com que eles desenvolvam habilidades que vem junto com a cozinha, que o aluno aprenda a cozinhar, que tenha autonomia para poder se virar ali, além de oferecer um hobby", resume Miriam.

Conhecer a cozinha é respeitá-la – Desde muito cedo as filhas de Miriam estão dentro da cozinha, claro, é a profissão da mãe, mas apresentar os ingredientes, o fogão, forno e as facas também fez com que as pequenas respeitassem o espaço.

Para a chef, crianças que conhecem a cozinha aprendem a respeitá-la (Foto: Arquivo Pessoal)
Para a chef, crianças que conhecem a cozinha aprendem a respeitá-la (Foto: Arquivo Pessoal)

"Quando as crianças conhecem a cozinha, elas respeitam. É um dos locais onde mais acontece acidente doméstico mesmo, e os pais têm medo disso. Quantas vezes você já não ouviu a frase: 'cozinha não é lugar de criança'? Mas pra mim, é lugar de criança sim. Ela tem que estar ali e eu vi com as meninas que como elas conhecem, elas respeitam. Não vão desrespeitar o fogo, porque conhecem a cozinha. E isso é fundamental para a vida, você só respeita aquilo que conhece", ensina.

Mas a partir de quando? – Miriam explica que desde o momento em que as crianças conseguem segurar uma colher, já podem ir para a cozinha colocar a mão na massa. Com a supervisão de um adulto conseguem quebrar ovos, enrolar almôndegas, fazer pão de queijo, cookies. "Crianças adoram trabalhar com esse tipo de coisa. Vai ficar perfeito? Padronizado? Todos redondinhos e do mesmo tamanho? Não, mas isso não é o mais importante", ressalta.

As habilidades que se aprende na cozinha vão desde ver na prática a teoria aprendida na matemática, física, química e biologia até as comportamentais.

A criança aprende a ter coordenação motora, habilidade para quebrar um ovo, mexer numa vasilha devagar, sem derrubar as coisas para fora. Aprende a ter paciência, vai colocar a receita no forno e tem que esperar assar, aprende a ter organização, a respeitar o fluxo de cada ingrediente que tem que entrar na ordem, aprende sobre colaboração, se a gente está fazendo uma receita com duas pessoas, cada uma faz uma parte e tem que fazer bem feita para ter uma receita legal, aprende sobre foco, limpeza, higiene, manipulação. Vamos lavar os legumes e frutas para matar bactérias, não pode por o dedo na boca, não pode usar a mesma colher que colocou na boca para mexer", enumera.

Aula particular vai trabalhar com receitas conforme a idade dos alunos, no exemplo da imagem, são cookies confeitados que estão saindo (Foto: Arquivo Pessoal)
Aula particular vai trabalhar com receitas conforme a idade dos alunos, no exemplo da imagem, são cookies confeitados que estão saindo (Foto: Arquivo Pessoal)

Voltado mais às disciplinas, até em complemento ao que se aprende da escola, os pequenos veem na prática como é importante saber fracionar porções e seguir uma receita à risca, dividi-la ou até multiplicá-la a depender do número de pessoas que deseja servir.

"Suspeita" para falar da cozinha, Miriam destaca uma parte que os livros não ensinam, sobre criar vínculos e memórias afetivas. "Quando a criança cozinha com seus pais, familiares, ela trabalha a questão de pertencimento, fortalece o vínculo. Eu estimulo muito os pais a cozinharem com as crianças para que elas vejam isso 'essa é a minha família e estamos cozinhando as nossas receitas'. E a memória afetiva que a cozinha tem? O tanto de receitas que nos remetem à infância, a comida de vó, da mãe, aquela que você comeu em uma viagem...".

Quanto ao local, a chef professora já adianta: é na casa dos alunos que as aulas acontecem, e só precisa ter um fogão, forno, ingredientes e os utensílios necessários para cada receita. Miriam não planeja, por ora, ter um espaço para estas aulas. Até porque a graça é fazer com que a criança ou adolescente cozinhe no próprio ambiente.

Ana toda feliz com a fornada que está indo para o fogo (Foto: Arquivo Pessoal)
Ana toda feliz com a fornada que está indo para o fogo (Foto: Arquivo Pessoal)

"De que adianta ela ir para um lugar super estruturado, fazer um monte de coisas lá e quando chega em casa, não tem os utensílios? A ideia é você trabalhar com o que tem em casa".

A proposta é de uma aula que vai além da demonstração, com o aluno pondo a mão na massa, inclusive no final, lavando a louça e deixando mesas e pias limpas.

Os ingredientes e as receitas são livres e variam de acordo com a família e a concepção que o aluno tem da alimentação, atendendo vegetarianos, veganos e restrição a glúten.

Para saber mais sobre as aulas particulares de gastronomia, entre em contato com a chef Miriam Arazini Garcia pelo telefone (67) 98157-8060, ou via perfil do Instagram.

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