Prédio de 50 anos vira restaurante e mantém a história do avô Kakito
O lugar prova que uma boa reforma pode preservar a história de uma construção antiga
No coração de Ponta Porã, na Avenida Brasil, o Estação Cupim parece, à primeira vista, uma churrascaria comum da fronteira. Mas basta entrar e olhar com atenção para as paredes de tijolos aparentes e as fotos antigas espalhadas pelo salão para entender que ali se respira mais do que o aroma do cupim casqueirado: respira-se história, memórias e afeto.
O prédio que abriga o restaurante tem raízes profundas, literalmente. Construído em 1967 por Kakito, um marceneiro paraguaio, o espaço foi inicialmente uma marcenaria e loja de móveis. “Na época, as ruas ainda eram de terra. Meu avô projetou o prédio para atravessar gerações, e é isso que está acontecendo”, conta a arquiteta Chiara Duarte, neta de Kakito e responsável pela reforma que transformou o imóvel no atual restaurante.
A transição para o restaurante ocorreu em 2020, quando Rubem, também neto de Kakito, teve a ideia de transformar o espaço. Ao lado da esposa e do filho, ele administra o local, mas sem jamais abrir mão de suas raízes.
A reforma, segundo Chiara, foi cuidadosamente planejada para preservar a essência original do prédio. “Nenhuma parede foi quebrada, até porque são de tijolos maciços com 30 cm de espessura, o dobro de uma parede comum. O prédio foi feito para durar e atravessar o tempo”, explica ela. O piso de cerâmica hexagonal vermelho, escondido por um carpete durante anos, foi recuperado e permanece como testemunha das décadas de histórias vividas ali.
As paredes, antes rebocadas, tiveram o revestimento removido, revelando os tijolos e conferindo o charme acolhedor que caracteriza o restaurante. A cor bordô, presente em detalhes da decoração, é uma homenagem à bandeira do Paraguai, uma forma de resgatar as origens de Kakito.
Memórias nas paredes e no prato
Cada canto do restaurante conta uma história. Fotos aéreas de Ponta Porã, retratos antigos da família e até pratos da casa da avó Maria decoram o espaço. A mesa de saladas do buffet é, na verdade, uma antiga peça da marcenaria de Kakito, transformada para o novo propósito, mas ainda carregando a essência do passado.
No cardápio, a tradição também é servida. A sopa paraguaia, prato típico da região, é preparada com a receita original da avó Maria, conhecida por seu talento na cozinha. O “arroz vó Maria” é uma homenagem à matriarca que, com sua comida, sempre buscou reunir e agradar filhos, netos e amigos.
O nome do restaurante é uma referência à antiga estação ferroviária de Ponta Porã, localizada a apenas duas quadras dali. A região, antes afastada do centro, hoje é um ponto de crescimento comercial e uma das principais portas de entrada para quem chega à cidade vindo de Sidrolândia, Maracaju ou Antônio João.
O restaurante funciona de quarta a domingo e tem como especialidade o cupim casqueirado, uma iguaria que atrai visitantes de toda a região. “Queremos que cada pessoa que entra aqui se sinta acolhida, como se estivesse em casa. É um lugar para comer bem, mas também para vivenciar histórias”, resume Chiara.
Com suas paredes cheias de memória e seu cardápio carregado de afeto, a família quer que o restaurante seja um convite para reviver o passado enquanto se aproveita o presente — além de parada obrigatória na fronteira.
O restaurante fica na Avenida Brasil, 4620, em Ponta Porã, e funciona de quarta à domingo.
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