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Lado Rural

Verão quente e úmido marca proliferação do carrapato-do-boi

Pecuária brasileira soma prejuízos anuais na casa dos US$ 3,24 bilhões devido à infestação com o parasita

José Roberto dos Santos | 28/12/2022 16:34
Bovino é submetido a banho com produto químico; método se mostra eficaz, apesar do manejo trabalhoso. (Foto: Arquivo/Embrapa)
Bovino é submetido a banho com produto químico; método se mostra eficaz, apesar do manejo trabalhoso. (Foto: Arquivo/Embrapa)

Com o fim da primavera, e o fim de temperaturas mais baixas em todas as regiões do País, quem comemora a chegada do verão é o conhecido carrapato-do-boi. Após um ciclo mais lento durante o inverno, quando o parasita entra em estado de hibernação, a praga volta com força total neste período de condições ambientais favoráveis baseada no clima quente e úmido do verão, devido a elevada quantidade de chuva.

De acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), a pecuária brasileira soma prejuízos anuais na casa dos US$ 3,24 bilhões devido à infestação do carrapato-do-boi, que causa doenças e problemas graves nos animais, como a tristeza parasitária, que traz para o gado um quadro clínico de febre, letargia, apatia, desidratação, alteração das mucosas e perda de apetite e de peso.

Bovino infestado de carrapato; falta de controle causa doença conhecida como tristeza parasitária. (Foto: Arquivo/Embrapa)
Bovino infestado de carrapato; falta de controle causa doença conhecida como tristeza parasitária. (Foto: Arquivo/Embrapa)

“É uma doença que eleva os custos da propriedade com o tratamento do animal infectado e gera prejuízos pela deficiência reprodutiva e alimentar, além de levar a óbito em casos mais graves”, explica Lucas von Zuben, CEO da Decoy Smart Control, agtech de biotecnologia que oferece soluções sustentáveis no controle de pragas.

Controle biológico

Diante desse cenário, a startup ajuda os pecuaristas por meio do controle biológico. Técnica essa que se baseia a proteção dos bovinos a partir do uso de outros organismos vivos que conseguem controlar a população da praga, fazendo com que a densidade populacional desse parasita em questão se mantenha abaixo do chamado “nível de dano econômico”, isto é, abaixo do nível de prejuízos para os produtores.

O especialista ainda destaca a importância de realizar um comprovadamente eficaz e sem causar qualquer dano a saúde do animal ou ao meio ambiente. “Não existe uma regra quando se trata de controle de carrapatos, porém tratar os animais, assim como as infestações em pasto, de forma planejada é a melhor forma de reduzir o problema”, avalia.

Testes de controle do carrapato foram feitos pela Embrapa-Gado de Corte, com animais da raça senepol. (Foto: Arquivo/Embrapa-CNPGC)
Testes de controle do carrapato foram feitos pela Embrapa-Gado de Corte, com animais da raça senepol. (Foto: Arquivo/Embrapa-CNPGC)

Sistema lone tick

Os resultados da pesquisa liderada pelo médico-veterinário Renato Andreotti, pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Campo Grande (MS). deixaram a equipe bem animada, afinal a luta vem de muito tempo tentando, se não acabar, diminuir o problema da infestação de carrapatos nos bovinos e suas consequências que acarretam grandes prejuízos para a produção nacional numa ordem estimada em US$ 3,24 bilhões/ano.

A pesquisa liderada pelo cientista foi nomeada de Sistema Lone tick. A técnica permite o controle da infestação do carrapato nas pastagens deixando as larvas “solitárias” (em inglês lone) por meio do distanciamento entre parasito e hospedeiro. Os testes a campo foram realizados durante um ano com animais da raça senepol.

Andreotti explica que “o nível de infestação do carrapato nos rebanhos varia em função da presença e do grau de raças sensíveis. A infestação acarreta perda de peso pela inapetência, irritabilidade do animal, perda de sangue pela espoliação acentuada levando à anemia, lesões no local da picada evoluindo para miíases (bicheiras) e lesões posteriores no couro. A alta infestação promove instabilidade dos agentes infecciosos responsáveis pela Tristeza Parasitaria Bovina levando a surto de mortalidade de animais”.

O pesquisador explica que o rebanho zebuíno (basicamente nelore) compõe a maior parte no Brasil e coloca o país no cenário dos maiores produtores e exportadores de carne bovina no mercado mundial.

Segundo ele, nas últimas décadas, novas raças bovinas e seus cruzamentos foram introduzidos gerando animais com maior desempenho produtivo, mas com grandes dificuldades no controle do carrapato. “Ao não controlar de forma adequada o carrapato, o ganho de produtividade oferecido pela genética não aparece no resultado da balança comprometendo o investimento”, esclarece.

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