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Meio Ambiente

Cidades da região norte de MS não registram chuva há mais de 100 dias

Cassilândia não tem um pingo de chuva desde o dia 17 de abril; confira cenário em outras regiões do Estado

Por Gabriel de Matos | 13/09/2024 18:00
Terra seca no Morro do Ernesto, zona rural de Campo Grande (Foto: Osmar Veiga)
Terra seca no Morro do Ernesto, zona rural de Campo Grande (Foto: Osmar Veiga)

Mato Grosso do Sul tem ao menos quatro cidades que não registram chuva há mais de 100 dias. Todas elas estão na região norte do Estado. Os dados constam no Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) e no boletim mensal do Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul). Os municípios são Cassilândia, Costa Rica, Rio Verde de Mato Grosso e Chapadão do Sul.

Os dados disponíveis pelo Inmet indicam que o maior período de seca no Estado é em Cassilândia, distante a 419 km de Campo Grande. São 149 dias, quase cinco meses sem um pingo de gota cair. Nesse período, o menor índice de umidade relativa do ar no período foi de 8% no dia 3 de setembro.

A situação é bem semelhante em Chapadão do Sul e Costa Rica. As duas estão praticamente com o mesmo período sem chuva com 108 e 107 dias respectivamente. A última vez que choveu nas cidades foi no final de maio. Já as menores umidades estão empatadas em 8%.

Céu com fumaça registrado no Centro de Campo Grande (Foto: Juliano Almeida) 
Céu com fumaça registrado no Centro de Campo Grande (Foto: Juliano Almeida)

Os menores índices de umidade relativa do ar não foram nas cidades citadas anteriormente. Neste ano, conforme os dados do Inmet compilados pela reportagem, mostram que as mínimas foram de 7% em Paranaíba, Coxim e Sonora.

A situação em Campo Grande é de muita fumaça, com tempo seco, baixa umidade e muito calor. A Capital não recebe chuva desde o seu aniversário de 125 anos, no dia 26 de agosto. A menor umidade do ar na cidade foi no dia 10 de setembro (última terça-feira) com 10%.

Outros municípios que tiveram umidades abaixo de 12% no ano registradas no Inmet, ou seja, apresentaram situação de emergência com risco de vida, estão na lista abaixo:

  • Com 8%: Água Clara; Porto Murtinho; Amambai; Miranda.
  • Com 9%: São Gabriel do Oeste, Corumbá (Nhumirim - Nhecolândia); Jardim; Bataguassu
  • Com 10%: Aquidauana; Corumbá; Sidrolândia; Campo Grande;
  • Com 11%: Maracaju, Dourados e Ivinhema.

Confira o gráfico ampliado no link (em branco, estão as cidades sem dados compilados pelo Inmet).

Explicação da meteorologia - O Cemtec enviou uma nota esclarecendo a situação de chuvas abaixo do esperado para 2024. A razão não é única e se somam a sistemas de alta pressão e bloqueios atmosféricos. Esses intereferem na formação das nuvens e mantém o clima seco e quente.

"Aliado a condições de secas que foram estabelecidas em pleno período chuvoso. Existem sistemas como El Niño e La Niña que tem um impacto indireto no estado em relação as chuvas, porém o impacto maior é nas temperaturas, favorecendo a ocorrência das ondas de calor observadas neste ano", cita.

O meteorologista Natalio Abrahão Filho ratifica também que neste ano choveu abaixo da média. "Principalmente nos quatro últimos anos, esta é a tendência. O aquecimento global, o desmatamento e as queimadas sucessivas e mais intensas afetam. Isso impede os fluxos de ventos e transporte de umidade".

Ele destaca que, nos próximos dias, a previsão do tempo indica que choverá em Mato Grosso do Sul. "Tem uma mudança domingo (15) à tarde, uma frente fria chegando pelo sul do Estado. Pode chover entre Dourados, Ponta Porã e Amambai. Mas ao decorrer da semana, a massa de ar seca perde força e novas áreas de instabilidade podem ocorrer com pancadas isoladas de chuva".

Dia chuvoso em Campo Grande no final de agosto registrado no Centro (Foto: Paulo Francis)
Dia chuvoso em Campo Grande no final de agosto registrado no Centro (Foto: Paulo Francis)

As projeções do Cemtec para o próximo trimestre também não são animadoras. A previsão para o período de Setembro-Outubro-Novembro de 2024 em Mato Grosso do Sul indica chuvas abaixo da média histórica. As temperaturas, por outro lado, devem estar acima da média. Existe uma possível ocorrência do fenômeno La Niña. As regiões pantaneira e sudoeste estão em alerta para incêndios florestais, devido às condições meteorológicas.

Em relação às chuvas do último mês de agosto, o Cemtec publicou uma tabela de monitoramento do volume pluviométrico em 45 das 79 cidades sul-mato-grossenses. Dessas, apenas 14 ficaram com chuva acima da média esperada.

As outras 31 cidades tiveram chuva abaixo da média esperada. Entre elas, obviamente, tem as quatro cidades sem chuva (Cassilândia, Chapadão do Sul, Costa Rica e Rio Verde de Mato Grosso).

Campo Grande teve chuva 31% acima da média. A Capital registrou volume de 59,8 mm e a média esperada era de 45,5 mm. Confira abaixo o mapa detalhado com as 45 cidades. Veja-o ampliado no link (em branco, estão as cidades sem dados compilados pelo Cemtec). 

"Fogo e calor para todo lado" - O presidente do Costa Rica, André Baird, de 33 anos, está na cidade localizada na região norte. Ao andar pelas ruas e zona rural, destaca que "as coisas não estão fáceis". No município, não tem chuva desde o final de maio.

"Precisamos de uma chuva o mais rápido possível. Meu filho que tem bronquite está sofrendo bastante. A gente está usando umidificador o tempo inteiro. Meu pai tem 67 anos de idade e falou que nunca viu um tempo tão seco e tanto fogo", descreveu André.,

Ele complementou que céu está com muita fumaça e com poucas nuvens. Além disso, acrescentou que ao passar em frente ao hospital e à unidades de saúde, percebe muitas crianças e idosos esperando por atendimento.

Sobre as atividades do Costa Rica Esporte Clube, o time sub-15 masculino e a equipe feminina, que jogará o Campeonato Sul-Mato-Grossense neste ano fazem treinamento noturno e no período da tarde no Estádio Laertão. "Estamos preocupados, mas estamos preservando bastante, usando a parte da noite, quando é mais fresco".

Tempo com poucas nuvens e fumaça ao fundo em Costa Rica (Foto: André Baird)
Tempo com poucas nuvens e fumaça ao fundo em Costa Rica (Foto: André Baird)

O auxiliar administrativo Adalberto dos Santos, de 39 anos, mora em Chapadão do Sul. Ele anda muito pela cidade e visita também propriedades na zona rural. A situação é bem semelhante a vivida em Costa Rica.

"Está feia a situação aqui, queimada e fogo para todo lado. Esses dias tava topada de fumaça. Se você jogar uma latinha na rodovia e dar reflexo, pega fogo. Muito seco", disse.

A filha dele está sofrendo com faringite e tosse alérgica desde que começou os dias mais secos e quentes. Adalberto exaltou a ausência de chuva no último mês "A gente controla os índices de chuva aqui no escritório e vimos que sempre em agosto dá um dia de chuva. Neste ano não teve".

Por fim, o auxiliar complementou que o consumo de água aumentou nos últimos meses. "Essa semana chegou uma fatura com 5 metros cúbicos (5 mil litros) a mais. No final de semana, a gente coloca as crianças para brincar na piscina, molhar o jardim, porque se não as plantas morrem".

Tempo com fumaça e vegetação seca em Chapadão do Sul; termômetro marcando 38ºC às 10h desta sexta-feira (Foto: Adalberto dos Santos)
Tempo com fumaça e vegetação seca em Chapadão do Sul; termômetro marcando 38ºC às 10h desta sexta-feira (Foto: Adalberto dos Santos)

Orientações para o tempo seco - A baixa umidade pode causar desidratação, ressecamento da pele e desconfortos respiratórios. O recomendado pelo Ministério da Saúde é a grande ingestão de água.

Para melhorar a qualidade do ar, o uso de umidificadores é altamente recomendável. Outra prática útil é colocar recipientes com água em locais estratégicos para liberar umidade no ar.

Além disso, evite exercícios ao ar livre durante as horas mais quentes do dia e prefira ambientes frescos e ventilados para praticar atividades físicas. A alimentação também desempenha um papel crucial; incluir frutas e vegetais com alto teor de água na dieta pode ajudar a manter a hidratação interna. Estes cuidados não apenas contribuem para o bem-estar físico, mas também para a prevenção de desconfortos causados pelo tempo seco.

A Sanesul (Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul) orienta a população de Mato Grosso do Sul a intensificar o uso consciente de água. O objetivo é garantir que o abastecimento seja mantido para todos, principalmente em períodos de grande demanda. Durante esses dias mais quentes, a Sanesul alerta sobre a necessidade de evitar o desperdício e utilizar a água de forma racional.

Entre as principais orientações, a empresa recomenda fechar a torneira enquanto se escova os dentes, faz a barba ou lava louças, pois uma torneira aberta pode desperdiçar até 12 litros de água por minuto. Sugere-se também o uso de baldes para lavar garagens e automóveis, além de reutilizar a água da máquina de lavar roupa em outras tarefas. Usar a máquina sempre cheia, reduzir o tempo de banho e optar por regadores em vez de mangueiras para regar plantas são outras medidas essenciais.

A Empresa também reforça a importância de ter uma caixa d'água no imóvel. Ela garante o abastecimento contínuo em caso de interrupções temporárias devido a reparos ou manutenções na rede de distribuição

Registro de água em tubulação da Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Foto: Divulgação)
Registro de água em tubulação da Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Foto: Divulgação)

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