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Meio Ambiente

Mesmo com chuvas na região do Pantanal, seca deve continuar

Bioma já perdeu 81,7% de sua superfície de água, fator que não deve mudar devido às chuvas deste início de ano

Guilherme Correia | 06/03/2023 13:38
Vegetação queimada nas margens da BR-262, em Corumbá. (Foto: Reprodução)
Vegetação queimada nas margens da BR-262, em Corumbá. (Foto: Reprodução)

Desde 1985, segundo dados do MapBiomas, o Pantanal perdeu 81,7% da superfície de água e foi o bioma com maior redução do Brasil. Entretanto, em 2022, a superfície de água anual aumentou pela primeira vez desde 2018. Neste início de 2023, a região também tem registrado chuvas torrenciais e o Rio Paraguai no município de Porto Murtinho, por exemplo, transbordou.

Apesar de parecer um “alento” nas condições pantaneiras, já era esperado que choveria no início do ano, período caracterizado por esses fenômenos, e a tendência de seca deve permanecer, caso medidas não sejam tomadas.

As pequenas alterações que aumentaram o número de chuvas não são capazes de reverter o quadro de secas prolongadas na região pantaneira. Devido à redução na superfície de água expressiva ao longo das décadas, a situação é tão grave que torna-se impossível, com apenas poucos registros, mudar o panorama, segundo o coordenador do MapBiomas, Eduardo Reis Rosa.

Segundo Rosa, apesar do aumento das chuvas, o bioma Pantanal ainda segue em tendência de seca. “Os últimos anos, com exceção de 2018, foram anos de estiagem. A concentração das chuvas e a ocorrência de forma torrencial é um dos agravantes que podem ser consequências de alterações no regime de chuvas”.

Ele ressalta que tais ocorrências podem aumentar os problemas da região e provocar prejuízos econômicos e ambientais até irreversíveis. “O Pantanal é adaptado às secas e inundações, mas o fato desses eventos acontecerem de forma inesperada, causam sim prejuízos econômicos e ambientais”.

Em reportagem publicada pelo Campo Grande News, a especialista em conservação do WWF-Brasil (World Wide Fund for Nature), Helga Correa, havia explicado que apesar de alívios, não significa que a situação esteja boa. “Esta tendência na redução da água pantaneira representa perigo não só à flora da região, como à fauna e o modo de vida das comunidades tradicionais locais”.

“Os peixes que já estão ameaçados de extinção, como o pacu, jaú e pintado, podem desaparecer a longo prazo, assim como o maior mamífero da América Latina e um dos maiores símbolos do Pantanal, a onça-pintada”, disse.

Gado bovino em fazenda no Pantanal, em foto tirada durante cheia de 2011. (Foto: Reprodução)
Gado bovino em fazenda no Pantanal, em foto tirada durante cheia de 2011. (Foto: Reprodução)

Proteção ambiental - Eduardo Rosa explica que alguns dos principais causadores da seca crescente nas últimas décadas é a alteração do regime de precipitação, ou seja, a quantidade de chuva que cai no bioma pantaneiro, de planície, e a chuva que cai nos biomas do Cerrado e Amazônia, que são planalto.

“Dentro da Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai, é o principal fator causador das secas e cheias. A perda de vegetação nativa, principalmente na região do planalto, é um agravante ao desequilíbrio do fluxo de água do planalto para a planície”.

O pesquisador destaca que tem chovido na região de planície do Pantanal, o que engloba boa parte de Mato Grosso do Sul. No planalto, de Mato Grosso, e norte da bacia, a chuva é menos volumosa. “O Rio Paraguai em Cáceres (MT) e Cuiabá (MT) estão com níveis na média dos últimos 5 anos, que tirando 2018, foram anos de estiagem”.

“Nas sub-bacias do Mato Grosso do Sul, as chuvas estão elevando os rios Apa e Miranda. Estamos em março, final do período chuvoso, mas ainda mantemos uma tendência de ‘seca’ em comparação ao histórico, desde 1985. O nível da régua de Ladário é a referência que usamos para a comparação dos nossos mapeamentos no bioma”.

Nesta segunda-feira (6), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, decretou situação de emergência ambiental no Pantanal, com risco de incêndios florestais, no período de abril a novembro de 2023.

A portaria foi publicada na edição de hoje do Diário Oficial da União e foram incluídos outros estados e regiões.

Tendência - O solo pantaneiro em Mato Grosso do Sul é um dos mais ameaçados - a retração de água foi tamanha (57%), que Corumbá liderou o ranking dos municípios que mais secaram nas últimas três décadas.

Os dados são do MapBiomas Água, iniciativa multi-institucional que envolve universidades, ONGs (Organização não governamental) e empresas de tecnologia, focado na conservação e manejo sustentável dos recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas.

Depois de Corumbá, os municípios com maiores percentuais de redução de água entre 1985 e 2022 foram Cáceres (MT), Poconé (MT), Aquidauana (MS) e Vila Bela da Santíssima Trindade (MT).

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