Nível do Rio Paraguai recua mais de 40% e afeta navegabilidade pela hidrovia
Além da hidrovia, a seca amplia focos de queimadas e afeta também a reprodução dos peixes nos rios do Estado
Mesmo com algumas chuvas esparsas nos últimos dias, o nível dos principais rios do Estado está bem abaixo do registrado em anos anteriores, no mesmo período. A queda supera os 40% no Rio Paraguai, principal rota de escoamento de parte da produção do Estado. De acordo com dados da Sala de Situação do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul), em 25 de maio de 2019 o nível do Rio Paraguai, em Ladário, era de 344 centímetros. No mesmo dia desse ano a régua media 199 centímetros naquele ponto. A situação é ainda pior em Porto Murtinho: em 25 de maio de 2019 o nível do rio era de 576 centímetros, nesse ano caiu para 280 centímetros.
A escassez de chuvas deste ano, não prejudica apenas a agricultura mas aumenta os focos de incêndios e já afeta a capacidade de navegação dos rios, sobretudo na Hidrovia do Paraguai, a principal via fluvial de escoamento de produção de Mato Grosso do Sul.
Os números preocupam o secretário Jaime Verruck, da Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar). “Estamos com uma série de restrições de navegabilidade no Rio Paraguai. Hoje, as barcaças que normalmente estariam operando com 100% da carga, reduziram em um terço e até metade da capacidade. Isso altera a competitividade do frete, precisa muito mais barcaças para levar a mesma carga que demandaria num período normal.”
Porto Murtinho se prepara para ser o principal polo exportador da região Centro-Oeste com a implantação de uma infraestrutura intermodal hidro-rodoviária que inclui dois novos portos já em operação e a ponte internacional sobre o rio Paraguai concretizando a rota bioceânica até o Chile. Em 2018 foram embarcadas 600 mil toneladas de produtos em Porto Murtinho; em 2019 mais de 1 milhão de toneladas e a capacidade para esse ano aumentou consideravelmente com a ampliação de um porto e a entrada de outro em operação.
Queimadas – Além da questão da navegabilidade, o clima seco amplia o número de focos de calor em relação ao ano passado. Só no município de Corumbá, que abrange a maior parte da região pantaneira, foram registrados 33.269 focos de calor entre 1º de março e hoje (2/06). No mesmo período do ano passado eram 3.243 focos de calor, ou seja, aumento de 1.000%. Os dados são do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) catalogados pela Sala de Situação da Defesa Civil de Mato Grosso do Sul e levam em consideração as imagens de todos os satélites disponibilizadas pelo instituto.
A Sala de Situação da Defesa Civil foi criada em agosto do ano passado, junto com o Comitê de Combate a Incêndios Florestais, para enfrentar o momento tenso que o Estado viveu com estiagem prolongada que se estendeu até fim de setembro e o surgimento de vários incêndios, tanto em lavouras quanto em florestas.
A Sala de Situação manteve os trabalhos até fim de novembro, quando as chuvas retornaram com regularidade e os focos de calor cessaram, e a intenção seria reativá-la em julho ou agosto desse ano. Mas devido à escassez de chuvas e retorno das queimadas, em março a Sala de Situação foi reativada e se mantém em permanente monitoramento, explica o coordenador da Defesa Civil de Mato Grosso do Sul e presidente do Comitê de Combate a Incêndios Florestais, coronel Fábio Catarinelli.
Menos peixes – O baixo volume de água nos rios traz outro problema e pode impactar na reprodução das espécies. A coordenadora da Unidade de Recursos Pesqueiros do Imasul, bióloga Fânia Lopes de Ramires Campos, explica que a natureza precisa estar em equilíbrio para que os peixes se reproduzam normalmente. “Não só volume de água, mas também temperatura, pressão, a presença de sais minerais, de oxigênio dissolvido, a ocorrência dos dias mais longos, tudo isso tem forte relação com a reprodução dos peixes”, observa.
No Mato Grosso do Sul, reserva-se o período de novembro a fevereiro para reprodução das espécies nos rios, ficando a pesca proibida. Entretanto, as movimentações dos cardumes com vista à desova já começa em agosto. Mas para isso é preciso haver condições normais nos rios, inclusive quanto ao volume de água. Portanto, é possível que a escassez de chuvas traga também prejuízos aos estoques pesqueiros.
Poucas chuvas - A previsão não é animadora, conforme dados do NCEP/NOAA (Centros Nacionais de Previsão Ambiental dos Estados Unidos), catalogados pelo CEMTEC/MS, Centro de Monitoramento de Tempo e do Clima de Mato Grosso do Sul, órgão vinculado à Semagro. Na primeira semana de junho a previsão é de umidade baixa (menos de 30%), com acumulado máximo de chuvas de 40 milímetros no extremo-sul e nas demais áreas, 20 milímetros. Os dias 5 e 6 de junho poderão ser os dias mais chuvosos, com possibilidade de ligeira queda de temperatura entre os dias 1 a 3.
No segundo período (6 a 14 de junho) o mapa de tendência pluviométrica mostra que há possibilidade de chuva em todas as regiões do Mato Grosso do Sul, mas com acumulado geral de até 30 milímetros concentrados especialmente nas regiões norte e extremo-sul do Estado. Nas demais áreas é esperado acumulado de até 20 milímetros. Novamente, a umidade relativa do ar poderá ficar abaixo de 30%. Entre os dias 5 a 10 de junho poderá ocorrer uma nova onda de frio com temperatura mínima (estimada) de 7°C concentrada na parte Sul do Estado.