Com investimentos de R$ 38 milhões, caravana põe fim a dez anos de espera
Com previsão de alta neste domingo (29), Luiz Fernando Bispo da Silva, 17 anos, vai deixar o Hospital Regional de Coxim com os dois joelhos operados e com disposição de voltar a jogar futebol depois de uma década à espera de cirurgia. O problema no joelho era congênito, mas a espera foi devido aos percalços da rede pública de saúde.
“Perderam o papel na secretaria municipal”, afirma a mãe do adolescente, Edna de Almeida Silva, 44 anos. A família mora na fazenda Rouxinol, a 20 km da cidade. Agora, a cirurgia veio na Caravana da Saúde, que acontece desde quinta-feira (26), em Coxim. Até o fim da próxima semana, serão realizados cinco mil procedimentos.
Em questão de minutos, o aposentado Hermílio João da Silva, 77 anos, deu adeus à visão embaçada provocada pela catarata no olho direito. Paciente número um no mutirão de cirurgias oftalmológicas, ele conta que o problema veio piorando. “Não está 100%. Foi arruinando e procurei o médico no posto de saúde Marechal Rondon”, conta.
Mas foi só em Campo Grande, a 260 km de Coxim, que recebeu o diagnóstico. Neste domingo, chegou cedo e a distância entre a consulta e a cirurgia foi de alguns passos.
Das 7h30 até as 17h de hoje, outras 299 pessoas poderão ter um novo olhar. A Caravana da Saúde deve realizar mil consultas e 300 cirurgias oftalmológicas somente hoje, primeiro dia de utilização das carretas de atendimento destinada à saúde dos olhos. O serviço vai permanecer 15 dias nas imediações da escola estadual Pedro Mendes Fontoura.
De acordo com o médico oftalmologista Fábio Vieira, a cirurgia de catarata demora cinco minutos. “A cirurgia é rápida, anestesia com colírio, sem sangramento. Não precisa fazer curativo”, explica. Após o procedimento, o paciente recebe óculos de proteção e kit com colírio. Depois de uma semana, ele volta para consulta. Daqui a 30 dias, o paciente passa pela segunda avaliação do pós-operatório. Desta vez no posto de saúde.
Após a cirurgia para catarata, Elias Vieira de Andrade, 74 anos, diz que o principal desejo é voltar a ver a beleza feminina. “A coisa mais linda que Deus criou”, diz, sem perder o bom humor mesmo com problemas de visão há 30 anos.
Para quem não precisa de cirurgia, colírio e óculos é solução para o retorno a práticas do cotidiano. “Não põe linha na agulha, nada”, conta a dona de casa Elza da Silva Barreto, 40 anos. A aposentada Marlene Monteiro de Jesus, 60 anos, acordou às 4h em busca de solução para a vista embaçada. “Gostei muito. Passou a receita para fazer outro óculos”, diz. A estrutura para atendimento oftalmológico conta com carreta para cirurgias, carreta para consultas.
Superlativo - A iniciativa, que será levada a mais dez cidades, tem outros números superlativos: investimento de até R$ 38 milhões, realização de 18.800 cirurgias e 400 pessoas entre profissionais da saúde, auditores e voluntários.
De quinta-feira a sábado, foram realizadas 80 cirurgias de ginecologia, ortopedia e cirurgia geral no Hospital Regional.
“São vídeocirurgias. Minimamente invasivas”, afirma o secretário estadual de Saúde, Nelson Tavares. Os procedimentos trouxeram alívio para quem muito esperou para retirada de vesícula, operação no joelho e retirada do útero.
Na especialidade de ginecologia, o mutirão pôs fim à fila de espera. “Vamos zerar a fila na região Norte. A fila existente, porque agora mais pessoas vão nos procurar. Na ginecologia, tinham 57 pessoas na fila”, diz o secretário.
Ele destaca que todas as mulheres que tinham indicação médica receberam a implantação de contraceptivo Mirena, que custa R$ 3 mil na rede particular.
Em Coxim, a caravana conta com 100 profissionais, dentre e médico, auditores e pessoal de treinamento e capacitação, além de 300 voluntários que trabalham de graça. A UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), por exemplo, terá 70 acadêmicos atuando de forma voluntária no serviço de “Posso Ajudar?”.
O prefeito Aluizio São José (PSB) destacou a atenção para o município. “Expresso em poucas palavras o sentimento que tenho hoje, gratidão que sinto em receber em nossa cidade a sua caravana, atendendo um pedido que fizemos há muito tempo”, diz.
Milhões – A projeção de gastos para a Caravana da Saúde é de R$ 38 milhões. Do total, R$ 18 milhões são para cirurgias oftalmológicas, que serão realizadas pelo Instituto dos Olhos Fábio Vieira; R$ 10 milhões de custeio e R$ 10 milhões de investimentos.
Nelson Tavares rebate críticas ao valor que pode ser pago caso a fila das cirurgias para os olhos se concretize em 14 mil. “Não sei se é ignorância ou se é as pessoas mal intencionadas. Na verdade, esses R$ 18 milhões é o que vamos pagar para as cirurgias que forem sendo realizadas. Ele é só um orçamento. Esse dinheiro nós vamos cobrar do Ministério da Saúde. Eu autorizo a cirurgia através da auditoria estadual, a cirurgia é realizada, nós mandamos a conta para o ministério e o ministério paga acima do teto financeiro de Mato Grosso do Sul”, salienta.
Segundo o secretário, o total de prováveis 14 mil cirurgias oftalmológicas foi calculado por estatísticas, considerando a população acima de 55 anos no Estado.
“Se fosse no ritmo de 1.200, 1.300 cirurgias de catarata por ano, só para zerar as 14 mil da fila seria necessário mais de dez anos”, afirma o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que se refere as 18 mil cirurgias represadas como a fila da vergonha.
Quando a caravana passar – O mutirão vai deixar no Hospital Regional equipamentos como aparelho de tomografia, mamografia, raio-x digital e de videolaparoscopia. Com 33 mil habitantes e referência para cidades como Sonora, Pedro Gomes, Alcinópolis e Rio Verde, Coxim não contava com tomógrafo e nem mamógrafo.
No caso da mamografia, a solução estava a 50 quilômetros. “Tinha uma há cinco anos em Rio Verde sem funcionar, porque não adianta dar o equipamento se você não fizer parte da solução. Para ter um mamógrafo, você precisa dar diagnostico. Nunca vai ter radiologista para diagnostico em Rio Verde. Ficar lá sem fazer diagnóstico, não serve para nada”, afirma Tavares.
Também foi contratado novo ginecologista para o hospital, que dará continuidade aos procedimentos cirúrgicos. “O mais importante não é nem a caravana que passa. São os serviços que ficam”, destaca o governador. Na saúde, a próxima meta na região Norte é criar um pólo de hemodiálise. “O governo tem que se sensibilizar com as pessoas que tem que andar 1.800 km por semana para fazer hemodiálise. É muito dolorido para quem faz. Temos que melhorar isso criando pólos regionais de atendimento”, afirma Azambuja. Segundo o governador, é necessário definir o nefrologista para instalação de máquinas.
A caravana vai passar por Ponta Porã, Paranaíba, Nova Andradina, Aquidauana, Campo Grande, Três Lagoas, Dourados, Corumbá, Naviraí e Jardim.