Mulheres marcaram a política nacional e estadual neste ano eleitoral
Além de ex-ministra, MS também mostrou ao Brasil a batalha de duas presidenciáveis do Estado
Mato Grosso do Sul fez história neste ano com a participação de mulheres na política. No cenário nacional, as senadoreas Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União) formaram uma dobradinha inédita pleitearam a presidência da República, cada uma por seus respectivos partidos.
Já a senadora eleita com 60,85% dos votos, Tereza Cristina (PP), começou o ano de 2022 como uma das principais ministras do presidente Jair Bolsonaro (PL), na pasta da Agricultura. Quando entrou no período de campanha eleitoral foi também importante articuladora em âmbito nacional e regional. Chegou a viajar para quatro estados nordestinos, no mesmo dia, durante o segundo turno na luta do presidente para a reeleição. No Estado, foi peça-chave para levar o nome do governador eleito Eduardo Riedel (PSDB) até o conhecimento da população.
Costurou a aliança fundamental para a candidatura tucana em Mato Grosso do Sul, ao conquistar o apoio da prefeita da Capital, Adriane Lopes (Patri), para Riedel, bem como a mudança de discurso do Bolsonaro em relação ao apoio dos candidatos no Estado, passando a dizer ser neutro entre os dois bolsonaristas da disputa no segundo turno.
E mesmo após o resultado da eleição, articula politicamente a garantia da principal cadeira da Assembleia Legislativa para o seu partido. Tereza despontou após uma história de trabalho pelo agronegócio com participação ativa no Sindicato Rural, Famasul, foi secretária de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo do Mato Grosso do Sul e chegou ao Congresso Nacional. Hoje é reconhecida mundialmente como a figura pacificadora do atual governo federal e terá mais oito anos para trabalhar pelo Estado.
Presidenciáveis – Além de Tereza, o País assistiu o potencial das mulheres sul-mato-grossenses na política com as duas candidatas à presidência da República nas eleições deste ano: as senadoras Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil).
Nos debates do primeiro turno, Soraya ganhou o apelido de onça, ao rebater e fazer perguntas marcantes aos adversários, que levaram a internet ‘à loucura’. Não passou despercebido pelos holofotes da mídia, ficou em quinto lugar no quadro geral, com 0,51%. Na internet ela ganhou fã clube e o apelido de ‘Soso’. Juntas foram chamadas de “Simoraya”, junção dos dois nomes. Diariamente recebem presentes de seguidores que se dizem apaixonados pelas duas.
Apelidada de ‘Sisi’ nas redes sociais, Simone Tebet foi a mulher que atua na política mais buscada no Google em 2022. Terceira colocada na disputa presidencial, com 4,16% dos votos, além do destaque que ganhou com a corrida pelo Planalto, a senadora sul-mato-grossense chamou mais atenção ainda depois que declarou apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a presidência e atuou ao lado do candidato durante toda a campanha do 2º turno.
Nesta terça-feira (27), ela confirmou que assumirá o Ministério do Planejamento da gestão petista, a partir do ano que vem. Segundo ela, durante toda a sua trajetória a lição é que não se luta apenas para vencer.
"A gente luta para defender projetos, para disseminar ideias, para iluminar caminhos, para plantar boas sementes, para ter uma colheita coletiva no futuro. Há tanto por fazer e há tantos retrocessos para combater. A minha experiência como candidata à presidência da República aumentou a minha convicção sobre a importância da mulher nos espaços de poder. O que me deixou mais feliz foi ter sido fonte de inspiração para que jovens mulheres olhem para a política como um espaço que também pertence a elas. Afinal, lugar de mulher é onde ela quiser", destacou Tebet.
Deputada federal – Única mulher eleita dentre os oito deputados federais que vão representar Mato Grosso do Sul nos próximos quatro anos, Camila Jara (PT) terá o desafio de levar a representatividade feminina para Brasília (DF).
“Quando eu era mais nova acreditava que estava num processo de evolução da participação das mulheres em todos os espaços de poder, mas a gente percebe como aconteceu em Mato Grosso do Sul, de maneira mais latente, que a gente tem que estar constantemente mobilizadas e constantemente observando. Depois que essa onda de retrocesso tomou conta do Brasil, eu infelizmente tive duas comemorações das minhas vitórias a cargos eleitos, de momentos muito reflexivos. Eu estou como única vereadora e agora estarei como única deputada federal eleita pelo Mato Grosso do Sul. Isso significa que nós ainda temos que lutar e que uma das maiores missões do nosso mandato será apoiar mais mulheres a entrarem na política. Porque nós, quando entramos na política, somos sinônimos de transformação”, ressaltou.
Eleita com 56.552 votos nesta eleição, ela destaca que a sociedade da maneira como está posta não contempla as mulheres, é violenta, faz receber os menores salários e diz que não pode ocupar os espaços.
“A partir do momento que uma mulher entra na política ela quer transformar a realidade, e é por isso que eu preciso de outras mulheres ao meu lado fazendo essa transformação. É uma responsabilidade muito grande. Eu sei que não estou sozinha e que a todo momento tem milhares de mulheres que constroem esse mandato junto com a gente. É uma responsabilidade maior, mas eu fico muito tranquila em saber que a representatividade de Mato Grosso do Sul está sendo levada por uma mulher que tem muita garra e muita força de vontade para que a gente transforme esses desafios”.
Camila acredita que é necessário medidas mais incisivas para ocupar os espaços. “Existe uma pesquisa que mostrou que se continuar no ritmo que a gente tá, só a partir de 2050 vamos poder construir essa igualdade. Isso é muito tempo. A gente enfrenta desafio inclusive dentro do meu partido, que é de esquerda. Acho que temos que começar a pautar e levantar o debate de reserva de cadeiras dentro dos espaços legislativos para conseguir aumentar a representatividade", concluiu
Assembleia Legislativa – Diferente da última eleição para deputados estaduais, neste ano duas mulheres foram eleitas para ocupar uma das 24 cadeiras do parlamento. São elas Lia Nogueira (PSDB) e Mara Caseiro (PSDB), que assumiu mandato no meio desta legislatura por ser suplente de Onevan de Mattos (PSDB), vítima da covid.
Mara ainda foi a mais votada de todos os deputados eleitos. Ela conseguiu 49.512 votos dos 1.552.654 de eleitores que foram até as urnas. Apesar de tentar disputar a presidência da Mesa Diretora, da próxima legislatura, ela tem enfrentado dificuldade interna entre os colegas.
“A participação das mulheres na política é fundamental para o fortalecimento da democracia. Temos conquistado a representatividade feminina, não tão rapidamente como eu gostaria, mas muitos obstáculos já foram superados e acredito que está no nosso horizonte, um cenário político mais maduro, que com certeza culminará em uma sociedade com mais igualdade e justiça social”, destacou.
A deputada já foi vereadora e prefeita de Eldorado. Em 2010, Mara Caseiro foi eleita deputada estadual, sendo reeleita para o segundo mandato em 2014. Mara Caseiro trabalhou ativamente em defesa dos direitos das mulheres. Foi a primeira parlamentar a trazer o debate por meio de audiência pública da importância da aplicação da Lei Maria da Penha. É autora da Lei nº 5.703, que institui no Estado de Mato Grosso do Sul a campanha “Sinal Vermelho” como mecanismo de combate e prevenção à violência doméstica e familiar prevista.
“O fato de ter sido a deputada mais votada nas eleições deste ano é uma grande conquista, não só para mim, mas para todas as mulheres que representam a maioria do eleitorado sul-mato-grossense. Tenho atuado de forma incisiva na Assembleia Legislativa, na defesa dos direitos das nossas mulheres e no combate a todo tipo de violência. É triste, lamentável e terrível que muitas sul-mato-grossenses tenham sido vítimas de feminicídio. Por isso, continuarei fazendo tudo o que estiver ao meu alcance para que esse tipo de crime acabe de vez em nosso Estado”.
Capital - Adriane Lopes foi empossada como a 65ª prefeita de Campo Grande no dia 4 de abril deste ano, desde que o ex-prefeito Marquinhos Trad (PSD) renunciou ao cargo para disputar o governo do Estado.
Antes dela, a primeira mulher a comandar a cidade foi Nelly Bacha (PMDB). Em 1983, era presidente da Câmara Municipal e foi nomeada pelo então governador Wilson Barbosa Martins, do mesmo partido.
Na época, as eleições diretas para prefeito estavam suspensas pela ditadura militar. Apenas em 1985, o pleito foi retomado. Portanto, Adriane é a primeira a chegar ao cargo pelo voto direto, ainda que sua reeleição tenha sido como vice na chapa de Marquinhos.
"Servir é o meu maior propósito de vida. E, como prefeita, é muito honroso desbravar esse espaço político que sempre foi e teve maior representatividade masculina. Espero que todas as mulheres se sintam motivadas a participar da vida política de Campo Grande e do nosso Estado", afirmou.
Adriane foi vice-prefeita nos dois mandatos de Marquinhos. Bacharel em Direito e Teologia, é pós-graduada em Gestão Pública e Gerência de Cidades. É casada com o deputado estadual Lídio Lopes, com quem tem dois filhos.
"Estou vivendo o maior desafio da minha vida, e tenho feito isso com muita responsabilidade e compromisso com as pessoas. Continuo cuidando da minha casa como mãe, esposa, valorizando os princípios familiares, que são princípios que eu sigo com muito compromisso também. E isso sem deixar um minuto de pensar e trabalhar para que os campo-grandenses tenham uma gestão que não só os atenda como merecem, mas que seja igualmente motivo de orgulho", acrescentou.
Paridade - A assessora sênior de gênero da IFES (Fundação Internacional para Sistemas Eleitorais), Regina Waugh, apresentou um panorama sobre a participação feminina na política internacional durante a conferência “90 anos do Voto Feminino”, em abril deste ano.
Segundo ela, embora a Convenção Internacional dos Direitos Políticos e Civis estabeleça paridade de gênero na política, a participação feminina ao redor do mundo é de 26%. O número de mulheres que ocupam cargos em ministérios é ainda menor: 21%.
Embora mais mulheres estejam entrando na política e assumindo papeis de liderança, o aumento da participação feminina ainda é considerado lento, de acordo com Waugh. “Se mantivermos o mesmo ritmo de agora, demoraremos 145 anos para alcançar a paridade de gênero na política e para termos representação igual entre homens e mulheres”, afirmou a assessora da Ifes.
Ela apresentou os dados de uma pesquisa do Pearkins Institute, segundo a qual existe uma “lacuna de ambição” entre homens e mulheres com o mesmo nível de educação, experiência profissional e habilidades – enquanto 60% deles consideraram concorrer a cargos políticos, 60% delas nunca cogitaram essa possibilidade. O levantamento apontou ainda que 36% dos homens se consideravam muito qualificados. De outro lado, apenas 20% das mulheres assumiram se sentirem capazes.
“Uma das principais razões dessa lacuna é que as mulheres passam por diferentes níveis de violência política. Muitas vezes, as mulheres falam em nome de outras mulheres que não tenham uma voz tão forte. E, como consequência, sofrem abuso psicológico, ameaças contra as suas famílias, seus filhos. E isso ocorre muito mais contra mulheres do que contra homens”, completou.