O ano de Puccinelli em declarações, liminares, recursos e até bilhetes
2018 foi marcado como o ano em que a Operação Lama Asfáltica alcançou uma das principais lideranças políticas do Estado
Desde que a Operação Lama Asfáltica foi deflagrada, em julho de 2015, as investigações da Polícia Federal alteraram o cenário político em Mato Grosso do Sul, com prisão de empresários e fortes nomes da política regional. Mas nada foi mais emblemático quanto as denúncias contra o ex-governador André Puccinelli.
Em novembro de 2017, ele chegou a ser preso, mas liberado horas depois. A nova prisão, em 2018, também parecia ter o mesmo prazo de validade, mas não foi o que aconteceu. Entre indas e vindas de recursos judiciais, muito se falou sobre a prisão, que teve consequências profundas na sucessão estadual. Como sempre, a personalidade de André surgiu forte, em frases dele e de apoiadores, que funcionam como resumo do ano turbulento do ex-governador.
JANEIRO
“A melhor forma de conseguir a confiança é falando a verdade sobre os questionamentos que forem feitos durante a campanha. Mostrando que muitas denúncias feitas sobre mim, por exemplo, tratam-se de perseguição política” - Disse André Puccinelli, na primeira declaração do ano e confirmando pré-candidatura ao governo do Estado.
“Essas denúncias são sempre as mesmas coisas há vários anos. Querem marcar gol impedido com a mão” - Comentário após nova acusação feita pelo MPF (Ministério Público Federal), aceita pela Justiça Federal.
FEVEREIRO
"Na vida cometi erros e a sociedade está nos dizendo que temos que mudar, ouvir mais a população. Mato Grosso do Sul está bom, mas pode ficar melhor" - Fala durante encontro regional do programa MS Maior e Melhor pelo Estado. Nesse movimento, André percorreu Estado, dando início à corrida pela sucessão eleitoral.
“Vamos disputar com um bom plano de governo e uma aliança forte. E, indicado pelos companheiros, aceitei o desafio e me tornei pré-candidato ao governo”, justificou.
MARÇO
"Ele tem conversado muito com prefeitos e vereadores no interior, como o aglutinador que é (...) Mas até ele tem de esperar. Está muito cedo para qualquer definição sobre quem estará do nosso lado ou não” - Avaliação feita pelo Senador Waldemir Moka, sobre apoios na campanha do MDB.
“Não foi atribuída a ele a prática de nenhum ato administrativo. Ele era governador, não tinha gerência pelo julgamento da Câmara" - Advogado Vladimir Rossi Lourenço, ao explicar exclusão do ex-governador do processo da Coffee Break, que apura compra de votos para cassar o prefeito Alcides Bernal.
“Sequer neste momento há investigação em curso” - Puccinelli, sobre desdobramentos da Lama Asfáltica.
ABRIL
“Já não é mais viável uma coligação. Vou sair como candidato próprio e, quem não acredita, verá” - André Puccinelli, durante Undokai, gincana da comunidade japonesa
“Na verdade, estamos conversando com todos os partidos, mas na política tudo é possível” - Governador Reinaldo Azambuja, no mesmo evento.
MAIO
“Depois de apoiar o Reinaldo no segundo turno em 2014, decidimos que deveríamos retribuir, apoiando a gestão tucana. Mas é o momento do partido, que é grande e tem sete deputados, começar a defender o seu legado (de Puccinelli) para voltar ao comando” - Fala do deputado estadual Junior Mochi, sobre decisão do MDB de abandonar a base aliada de Azambuja.
“O que existe são mentiras e fake news de que não serei candidato, mas vou para disputa e no dia 15 de agosto estarei registrando a candidatura, já que sou ficha-limpa” - Puccinelli, durante ato político do MDB.
JUNHO
No período da Copa do Mundo, mês de reflexão, sem entrevistas do ex-governador.
JULHO
“(...) resta inequívoco o fato que as propinas pagas por meio do Instituto Ícone foram as responsáveis pelos superávits financeiros apurados entre 2011 e 2016. (...) “Tinha por finalidade estar não à disposição dessa empresa ou do sócio único (como presumível em qualquer negócio), mas sim de pessoas que são parte da descrita organização criminosa, para fazer face a suas diversas necessidades, inclusive de natureza processual” - Texto do juiz federal Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal, ao decretar a prisão do ex-governador, do filho, André Puccinelli Jr. e do advogado João Paulo Calves.
“Não há plano B, e sim plano A, de André. Não podemos afirmar se há conotação política, mas chama atenção a prisão acontecer dias antes da convenção, como da outra vez”. Junior Mochi, em coletiva, ao ratificar pré-candidatura de André Puccinelli ao governo de MS.
“Causa estranheza que a prisão ocorreu em decorrência do mesmo inquérito da Lama Asfáltica que culminou na prisão de André, do filho dele e de advogados em novembro do ano passado”. Mochi, na mesma coletiva.
“A decisão é muito longa e pretendemos contestar ponto por ponto”. Advogado René Siufi, que defende Puccinelli, sobre recurso para contestar prisão.
“Considerando as evidentes consequências que isto pode ter nas próximas eleições, já que ele lidera as pesquisas, não há como deixar de se considerar os aspectos políticos envolvidos”. Ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
“Atividade rural (...) é porta de entrada de dinheiro criminoso, (...) como se dará, por exemplo, em movimentações fictícias de rebanho com um apoio 'logístico' de frigoríficos para lavar dinheiro através da negociação de 'gado de papel'”. Relatório da Polícia Federal em que é citada a apreensão de documentos em uma quitinete no Indubrasil e embasou pedido de prisão de Puccinelli, do filho dele e do advogado João Paulo Calves.
“(...) não verifico constrangimento ilegal a ser sanado por este writ, pois não demonstrado, quantum satis, flagrante ilegalidade ou abuso de poder a que estejam submetidos os pacientes. Diante do exposto, indefiro a liminar" - Decisão do desembargador federal Maurício Kaito, ao negar liberdade aos presos.
“O partido está resolvido. Não estamos mais discutindo essa questão de candidatura. Nosso candidato continua sendo o André” - Análise do presidente municipal do MDB em Campo Grande, Ulisses Rocha, após sair do Centro de Triagem, em visita ao candidato preso.
“Vamos às ultimas conseqüências (...) os advogados do pré-candidato iniciam imediatamente a preparação de um novo recurso” - Novamente Ulisses Rocha, depois que o TRF3 e STJ negaram liberdade aos presos. Novo caminho é o STF.
“O partido sempre teve como opção a candidatura do ex-governador, mas com essas questões todas, principalmente a última decisão judicial, ele próprio solicitou o nome de Simone (Tebet). A senadora decidiu atender ao pedido e se colocar à disposição na convenção do próximo dia 4” - Declaração de Junior Mochi, sobre substituição da candidatura ao governo.
AGOSTO
“Nada foi escondido ou subtraído do alcance da PF. Tudo estava apenas guardado. Inutilidades” - Defesa do ex-governador, elaborada para contestar investigação sobre uma quitinete no Indubrasil em que foram encontrados dezenas de documentos que embasaram pedido de prisão.
“Foram considerados fatos como a descoberta de que, mesmo quando estavam sujeitos a cautelares diversas da prisão, os investigados praticaram crimes, com destaque para a lavagem de dinheiro. Também foi identificada movimentação dos envolvidos com o propósito de ocultar provas” - Procuradora-geral da República, Raquel Dodge, em parecer pela manutenção das prisões.
“O pleito em MS devia até ser adiado, essa é a verdade, haja vista a força da intromissão indevida da Justiça nas eleições em Mato Grosso do Sul” - Comentário do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, forte aliado de Puccinelli.
“Viemos conversar com o André e vamos continuar [as negociações] durante todo o dia" - Deputado estadual Eduardo Rocha, após visita aos presos no Centro de Triagem.
"A regra é para todos" - Declaração do juiz Alexandre Antunes, ao proibir reuniões políticas no Centro de Triagem.
“Na condição de Governador do Estado de Mato Grosso do Sul, entre os anos de 2007 e 2015, por pelo menos 32 vezes, livre e conscientemente, no comando do esquema criminoso (...), aceitou receber para si e para outrem, direta e indiretamente, em razão de seu cargo publico, vantagens ilícitas pagas pela JBS” - Trecho do relatório de denúncia do MPF na investigação da Operação Lama Asfáltica.
“Na lógica dele, ele tava dizendo o seguinte: que absurdo, estou pegando dinheiro meu para concluir uma obra do Estado” - Parte da delação do empresário Joesley Batista, citada em denúncia do MPF, sobre conversa com Puccinelli, que pediu uso de propina do JBS para término da obra do Aquário do Pantanal.
“Estou aceitando o desafio, em primeiro lugar, pelo Puccinelli, nosso eterno governador” - Declaração de Simone Tebet, na convenção do MDB, que a referendou como candidata ao governo de MS. O vice escolhido foi o promotor licenciado, Sérgio Harfouche.
“Foi uma resolução nossa, no sentido de aguardar o julgamento de mérito, deixando para buscar decisões nas instâncias superiores só na hipótese de isso ser necessário” - Advogado Renê Siufi, ao renunciar a recurso no STF e decidir aguardar julgamento de recurso no TRF3 para liberar os presos.
“Conhecendo meus problemas de ordem pessoal, recebi apelos contundentes da minha família para não ser candidata” - Simone Tebet, ao justificar desistência de candidatura ao governo.
“Mais para não do que para sim” - Junior Mochi, sobre substituir Simone Tebet na disputa eleitoral pelo governo do Estado.
“A decisão [pela candidatura] ocorreu depois de muita discussão diante dos fatos que a antecederam, levando em conta a importância de ter outra opção aos que já foram colocados” - Junior Mochi, ao escolher "sim" e entrar na disputa eleitoral pelo governo.
SETEMBRO
“É um negócio estranho, nunca vi isso” - Advogado René Siufi, sobre a demora na publicação de acórdão do TRF3, com negativa do habeas corpus, andamento esperado para ingressar com recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
"Tiraram o direito de escolha do povo em votar em mim, mas eu digo os candidatos que me representam: Junior Mochi, Senador Moka e Delcídio do Amaral. Votando nesses candidatos, vocês estarão defendendo o meu legado e meu nome" - Publicação de Puccinelli nas redes sociais, pedindo votos.
OUTUBRO
“(...) a custódia cautelar do paciente é necessária para a garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal, tendo em vista que mesmo no cumprimento de medidas cautelares diversas da prisão persistiu na prática criminosa e ocultou provas, de modo a demonstrar necessidade da segregação para acautelar o meio social e interromper a atividade ilícita” - Ministra Laurita Vaz, do STJ, em mais uma negativa à liberdade de Puccinelli.
“Precisa ressurgir das cinzas com um novo projeto, remodelado” - Simone Tebet, sobre do MDB após derrota à sucessão estadual, no primeiro turno.
"A ex-primeira dama 'tem mandado recados a políticos de Brasília'" - Lauro Jardim, colunista do O Globo, ao publicar que Beth Puccinelli ameaçou delação caso o marido não fosse solto até 31 de dezembro.
“Porquê (sic) continuam querendo me prejudicar? Não existe delação de quem é inocente!” -Puccinelli, em bilhete entregue à imprensa, sobre a suposta delação.
“(...) medidas cautelares diversas à prisão seriam suficientes para impedir a continuidade dos crimes atribuídos ao suspeito”" - Ministra do STJ, Laurita Vaz, ao conceder liberdade a João Paulo Calves, que teve que depositar R$ 2 milhões em juízo e fechar Ícone, empres alvo da Operação Lama Asfáltica.
NOVEMBRO
“Vamos reconstruir o partido” - André Puccinelli, em bilhete entregue ao deputado Paulo Siufi, que tentou visitá-lo no Centro de Triagem.
DEZEMBRO
“O risco de reiteração nos mesmos crimes já se enfraqueceu, seja pelo decurso do tempo ou pelo noticiado encerramento das atividades do instituto utilizado para dar legitimidade aos valores adquiridos de forma espúria” - Ministra Laurita Vaz, ao conceder liberdade a Puccinelli e ao filho dele, Puccinelli Jr., cinco meses após prisão.
"Não é momento de dar declarações (...) Feliz Natal e um bom Ano Novo a todos" - André Puccinelli, na primeira declaração após ganhar liberdade.