Produção de veículos atinge menor patamar desde 2009
Depois de evoluir em 2013, a produção de veículos teve grande retrocesso em 2014. Dados da Anfavea, associação que representa as montadoras, indicam que a indústria brasileira fabricou 3,14 milhões de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus no ano passado. O volume é 15,3% inferior ao do ano anterior e representa o patamar mais baixo da indústria nacional desde 2009. Pelo olhar otimista, 2014 ainda foi o quinto melhor ano em produção da indústria automotiva nacional. Em dezembro foram feitos 203,7 mil veículos, com baixa de 23,1% na comparação com novembro e de 11,8% sobre o mesmo mês do ano passado.
Passado o período mais turbulento, a Anfavea espera recuperar parte das perdas ao longo de 2015. A entidade projeta crescimento de 4,1% na produção de veículos este ano, para 3,27 milhões de unidades. Ainda que a evolução aconteça, o nível continuará menor que o de 2010, quando foram feitos nacionalmente 3,38 milhões de carros.
A Anfavea avalia que a retração do ano passado foi causada por dois fatores principais. A queda do mercado interno é o primeiro deles. As vendas diminuíram 7,1% no País em 2014. Diante da expressiva contração da demanda, nem mesmo a menor participação dos veículos importados nas vendas foi capaz de garantir que a produção se mantivesse aquecida. A presença dos carros trazidos do exterior para o Brasil diminuiu 1,2 ponto porcentual em 2014.
Outro fator que puxou para baixo a produção nacional foi a queda das exportações. As vendas internacionais de veículos brasileiros diminuíram 40,9% entre janeiro e dezembro do ano passado como reflexo da crise no mercado argentino, maior cliente das fabricantes instaladas no território nacional.
A perspectiva de melhora para este ano é baseada na contenção da queda do mercado interno, que deve se manter estável, na leve melhora do nível de exportações e, principalmente, na redução da presença dos veículos importados no mercado brasileiro. “Prevemos que a participação destes modelos caia dos atuais 17,6% para cerca de 16%”, explica Luiz Moan, presidente da Anfavea. Segundo ele, a alta do dólar deve impactar no preço desses carros, fazendo com que eles se tornem menos atrativos para o consumidor local.
RESULTADOS
O segmento que apresentou performance mais fraca em 2014 foi o de caminhões, que reduziu em 15,3% a produção, para 139,9 mil unidades. A fabricação de ônibus também teve retração expressiva, de 17,9%, para 32,9 mil chassis. Entre os veículos leves, a montagem de automóveis caiu 15%, chegando a 2,31 milhões de carros. Já a produção de comerciais leves somou 658,4 mil unidades, com redução de 13,6%.
O aquecimento das vendas em dezembro somado à redução do ritmo de produção das montadoras fez com que o nível de estoques enfim diminuísse. Em dezembro o número de veículos armazenados caiu 15,2% na comparação com novembro. São 351 mil unidades estocadas entre indústria e rede de concessionárias, o equivalente a 28 dias de vendas com base no resultado de dezembro e a 36 dias em relação à média dos meses de janeiro.
A redução não aconteceu sem custo. A indústria ainda se adapta à nova realidade do mercado brasileiro e o menor ritmo de produção torna instável o nível de empregos nas montadoras. “As empresas se prepararam para uma produção muito superior”, admite Moan. Ao longo do ano passado o número de funcionários nas fábricas de veículos enxugou 7,9%, para 144,6 mil trabalhadores. A Anfavea garante que os cortes foram feitos por meio de Programas de Demissão Voluntária (PDV), aposentadorias e pela não-renovação de contratos temporários, respeitando o acordo com o governo federal de manter os empregos como contrapartida da desoneração do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI).
A menos que um aquecimento inesperado da demanda aconteça, a tendência é que 2015 traga novo corte. Entre dezembro e o início de janeiro Volkswagen e Mercedes-Benz sinalizaram a dispensa de 1.044 colaboradores em suas unidades de São Bernardo do Campo, no ABC paulista (leia aqui). Com a volta da cobrança integral do IPI e o término do compromisso com o governo para a manutenção dos empregos há o temor de que mais demissões aconteçam até o fim de 2015. “A negociação é individual de cada empresa com seus funcionários, mas qualquer crescimento na produção este ano pode ajudar a conservar vagas de trabalho”, pondera Moan.