O futebol de MS pede socorro. Cezário, peça para sair! 2015, não.
O futebol sul-mato-grossense, que na década de 70 e até metade da década de 80 foi forte e respeitado, com o meu saudoso Operário Futebol Clube, e o nosso rival Esporte Clube Comercial, infelizmente hoje é só lembrança para os que tiveram o privilégio de viver naquela época. Aos que não tiveram a mesma sorte lamento dizer que de lá para cá a falta de profissionalismo na administração do nosso futebol fez com que não sobrasse nem referências que sirvam pelo menos de imaginação para os mais jovens.
Desculpe-me pelo saudosismo, mas naquela época o mestre Carlos Castilho (que Deus o preserve em bom lugar), no dia seguinte a divulgação da tabela do Campeonato Brasileiro reunia a imprensa para anunciar a sua projeção em relação a participação do Operário na competição. Contra times como Goiás, Coritiba, Atlético Paranaense, Figueirense, por exemplo, ele cravava vitória certa tanto lá quanto cá; contra times como Santos, Botafogo, Palmeiras, Corinthians, Vasco, Grêmio, Inter e outros grandes a previsão era vitória no Morenão e empate na casa do adversário.
Era raro e soava como estranho alguém daqui dizer que torcia para Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Flamengo ou Vasco, enfim. Não havia lugar para nenhum outro time no coração dos campo-grandenses, além de Operário e Comercial. Mas o futebol em Mato Grosso do Sul caiu no desuso. A velha guarda há muito tempo deixou de ir ao Morenão e os mais jovens provavelmente nem saibam dizer de pronto onde fica o estádio.
Recentemente, de forma eufórica uma repórter de um canal de tevê de Campo Grande, após cobrir a goleada do Cene sobre o Mirassol do Oeste (SP) pela 4ª Divisão do Campeonato Brasileiro de 2011, por 4 a 1, disse que era a vitória mais expressiva de um time de Mato Grosso do Sul na história dos campeonatos nacionais. Ora, ora. O Operário foi 3º colocado no Campeonato Brasileiro de 1977, atrás apenas do São Paulo e do Atlético Mineiro. Quer mais uma? No dia 15 de março de 1981 o Operário goleou o Cruzeiro por 5 a 1 no Estádio Morenão. E não era pela quarta divisão.
A desinformação da repórter claramente significa que estamos no fim da linha e que, se sonhamos em recuperar a credibilidade, devemos partir para um recomeço. Eu e, certamente a maioria dos sul-mato-grossenses, exceção apenas do presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul (FFMS), Francisco Cezário de Oliveira e seus pares de diretoria, concordamos com o empenho do senador Delcídio do Amaral, que está dando a cara a tapa por uma nova realidade no nosso futebol, a partir de uma Federação que respeite os clubes não como cabrestos eleitorais para garantir sucessivas reeleições e mudanças de estatuto, mas como parceiros de uma gestão capaz de trabalhar com planejamento e organização nos setores administrativo, financeiro, marketing e comunicação, que tenha capacidade de trabalhar com receitas e despesas e, especialmente, transparência. Nem preciso dizer que tudo isso passa longe dos dirigentes da Federação, que, aliás, lá estão já há quase 20 anos.
Dos anos de 1990 para cá a FFMS vem sendo sepultada ano após ano, como conseqüência obvia da falta de capacidade administrativa dos seus dirigentes, e levou junto os nossos clubes, que perderam seus patrimônios para os credores, e também o interesse do torcedor. As novas gerações nem sabem que um dia existiu futebol profissional em Mato Grosso do Sul.
Sim, essa mudança deve começar pela FFMS. E digo isso com a experiência de quem militou diretamente na esfera esportiva na época de ouro do nosso futebol, primeiro como diretor financeiro da extinta Liga Esportiva Municipal Campo-grandense, no período de 1965 a 1968, durante a gestão do saudoso Nelson Borges de Barros. Depois, já nos anos de 1970 e 1980, atuei como membro do Conselho Deliberativo do Operário Futebol Clube, e, no início dos anos de 1990, fui por um ano presidente do Conselho Fiscal da FFMS, no primeiro mandato do senhor Francisco Cezário de Oliveira.
É a Federação, como mandatária maior do futebol nos estados, quem dita o ritmo. É o espelho. Portanto, a reformulação tem que ser geral, partindo da Federação aos clubes. E a hora é agora, no embalo da Copa de 2014. Se não for agora, dificilmente teremos outra oportunidade tão palpável.
Vejam o exemplo da Federação Pernambucana de Futebol, que terá Náutico e Sport no próximo Campeonato Brasileiro da Série A. Em 2011, os jogos do Sport e do Náutico registraram recordes de público e renda na Série B e o Santa Cruz recebeu 59.966 pagantes no Estádio do Arruda em um jogo classificatório contra o Treze da Paraíba pela Série D. Lá a entidade tem plena consciência de que a visão profissional do futebol deve partir dela e, por isso, saneada financeiramente e sem pendências com credores, investe no fortalecimento dos clubes. Agora em dezembro, liberou R$ 600 mil para cada um dos clubes do interior, como forma de fortalecê-los para o Campeonato Pernambucano de 2012, único Estadual do País com transmissão ao vivo em pay-per-view para todo o Brasil e pela Globo Internacional para 36 países. Isso é fruto de gestão competente.
Futebol hoje é 100% profissional. Não há mais lugar para amadores. Cezário, nada pessoal. Em vez de usar ventríloquos para defender o indefensável e, em nome do recomeço e da reformulação do futebol em nosso Estado, pede pra sair.
(*) Inocêncio Amorim é bacharel em Administração de Empresas.