“Vacinamos mais gado do que gente”, dispara Mandetta na véspera do Dia D
Ministro cobra responsabilidade de gestores com a saúde básica; esforço de vacinação será realizado neste sábado
Autoridades de saúde do Brasil realizam neste sábado (19) o Dia D de Vacinação contra o Sarampo, dentro da campanha nacional para imunização de uma doença que, depois de anos não trazendo grandes problemas, voltou a registrar surtos no país –em Mato Grosso do Sul, há 42 casos sob investigação, sendo dois deles em Campo Grande. O fato foi ressaltado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, durante inauguração da Casa da Saúde “Carlos Alberto Jurgielewicz”, na Capital, ao apontar problemas na atenção básica pelo país.
“Não existe ato mais simbólico do que vacinar. E é uma dicotomia: no momento em que nos tornamos área livre de febre aftosa, estamos voltando a ter doenças como o sarampo. Vacinamos mais gado do que gente”, afirmou o ministro na noite desta sexta-feira (18), ao cobrar em todas as cidades do país “pessoas para olhar e rever a política de atenção primária, que é a lógica, a tônica do Ministério da Saúde”.
O rebanho de Mato Grosso do Sul, de cerca de 21 milhões de cabeças de gado, já tem o status de área livre aftosa com vacinação. Até 2021, espera-se obter o status sem a imunização.
A vacinação nesta fase da campanha é focada em crianças de 6 meses a menores de 5 anos. Mandetta acompanhará a abertura do Dia D em São Paulo –um dos Estados críticos em relação ao número de casos de sarampo. Em Campo Grande, a ação será realizada das 7h às 17h em todas as unidades de saúde, sem intervalo para almoço (exceto nos bairros Maria Aparecida Pedrossian e Alves Pereira).
Em 18 de novembro começa a segunda fase da campanha, para pessoas entre 20 e 29 anos.
Críticas – Os casos de sarampo, que registraram inclusive mortes pelo país, são atribuídos à entrada de imigrantes venezuelanos pelo Norte do Brasil e ao aumento de movimentos antivacinação. Mandetta incluiu o problema em um cenário maior, no qual são necessárias ações de melhoria na atenção básica –o que, afirma, ser prioridade da pasta.
“Houve o abandono por parte de todo o Brasil de políticas de atenção básica. Há uma mortalidade materna elevadíssima, com mortes evitáveis. Gestão não é sinônimo de morte, e sim de vida. Cresceu a mortalidade infantil, o que é inaceitável. Há casos de hanseníase não diagnosticado, de tuberculose não tratada e que gera resistência. E queda nos índices de vacinação”, afirmou.
O problema é ainda pior em campos como o da saúde indígena. “Se a mortalidade infantil é alta para a população em geral, na população indígena tem números fora de qualquer questão de razoabilidade”, disse. Sobre o tema, ele também comentou a substituição do comando do Dsei-MS (Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul), onde Fernando Souza, indicado por indígenas, foi substituído por Eldo Moro, em indicação política da bancada do PSDB –o que gerou protestos entre a população indígena, que permaneceram por 48 horas na sede do órgão, na Vila Bandeirantes.
“Acho que o atual coordenador tem de ter um voto de confiança para estabelecer um trabalho e olhar com preocupação, mediando e dialogando”, pontuou. “A saúde indígena ainda trabalha muito à margem do SUS. É preciso integrar”, prosseguiu Mandetta, ao listar, entre outros problemas a serem enfrentados no setor, os casos de desnutrição, doenças mentais e suicídios nas aldeias.