Com 302 mortes de mães em 11 anos, alerta é para cuidados no período de gestação
Hoje, 28 de maio, é o Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna
De janeiro até agora, oito mulheres em Mato Grosso do Sul já morreram durante ou até 42 dias após a gestação. Em todo ano passado foram 22, mas o ápice ocorreu em 2021, quando os casos de covid-19 ainda estavam altos e 51 óbitos desse tipo foram registrados. Hoje, Dia Nacional de Redução da Mortalidade Materna, o alerta é para a vulnerabilidade do período gestacional, que precisa de cuidados especiais.
Dados da SES (Secretaria de Estado de Saúde) mostram que entre 2012 e este ano, 302 mulheres já perderam a vida em momento de gestação ou puerpério. Mais da metade delas – 165 (54,6%) – eram pardas e 30,8% (93) brancas. Os números revelam que as demais 42 eram indígenas ou negras. Dois casos registrados no período não têm dados quanto à raça ou cor da mãe.
Os mesmos dados mostram ainda que 175 casos ocorreram em mulheres em até 42 dias após a gestação; 71 durante a gravidez; 37 durante o parto; 15 durante aborto; e cinco de forma ignorada. Também é possível saber que a grande parte desses óbitos ocorreu em hospital e com mulheres entre 19 e 39 anos de idade. Em apenas 27 casos as mulheres tinham menos de 19 anos e em 21 ocorrências, elas tinham a partir de 40 anos.
A OMS (Organização Mundial de Saúde), de acordo com informações da Agência Brasil, sustenta que a mortalidade materna é “inaceitavelmente alta” no mundo. Cerca de 287 mil mulheres morreram durante a gravidez, o parto e no puerpério em 2020. Quase 95% de todas as mortes maternas ocorreram em países de baixa e média renda, e a maioria poderia ter sido evitada.
Pandemia - Estudo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) mostra que as gestantes mais vulneráveis foram as mais afetadas durante a pandemia. As chances de uma mulher negra, residente da zona rural e internada fora do município de residência entre os óbitos maternos foram 44%, 61% e 28% maiores em comparação ao grupo controle.
Ao longo de 2020, o país registrou 549 mortes maternas por covid-19, principalmente em gestantes no segundo e terceiro trimestre. “O excesso de óbitos teve a covid-19 não apenas como causa direta, mas inflacionou o número de mortes de mulheres que não conseguem acesso ao pré-natal e condições adequadas de realização do seu parto no país”, pondera o principal investigador do estudo, Raphael Mendonça Guimarães, pesquisador da Fiocruz.
O estudo utilizou dados do Sivep-Gripe (Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica da Gripe) para óbitos por covid-19 nos anos de 2020 e 2021, e comparou com dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade no ano de 2020 (quando já havia pandemia) e nos cinco anos anteriores, para estimar o número esperado de mortes maternas no país.
Este cenário compromete o desafio de alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) até 2030. “O atraso do início da vacinação entre as grávidas e puérperas pode ter sido decisivo na maior penalização destas mulheres", disse Guimarães.
E embora a covid não seja mais emergência em saúde pública de importância internacional, o coronavírus ainda circula e a vacinação continua sendo fundamental, principalmente para as grávidas.