Crianças têm baixo risco de transmitir covid, aponta estudo da Fiocruz
Pesquisa feita pela Fiocruz e cientistas estrangeiros indica que normalmente mais velhos transmitem o vírus
Mesmo que ainda não seja consenso, estudo de cientistas brasileiros e estrangeiros constata que crianças têm maior chance de se infectar por adultos do que de transmitirem covid-19 aos mais velhos, o que pode indicar novos rumos à situação das aulas no País.
Inicialmente, conforme o estudo, se acreditava que crianças poderiam ser transmissoras de covid-19 assim como foi verificado em outras doenças respiratórias como a gripe. Apesar disso, a constatação é de que elas têm maior probabilidade de serem infectadas por adultos do que de transmitirem a Covid-19.
O trabalho científico analisou a transmissão da covid-19 entre 323 crianças (de 0 a 13 anos), 54 adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos. na comunidade de Manguinhos (RJ), entre maio e setembro de 2020. O levantamento identificou que as crianças que testaram positivo para o coronavírus tiveram antes o contato com adultos ou adolescentes com sintomas da doença e não vice-versa.
Apesar disso, conforme ressaltado pela coordenadora do estudo, Patrícia Brasil, em entrevista ao jornal O Globo, o momento analisado não considerava a variante P1, apontada como mais letal e que atinge grupos mais jovens, o que motiva continuidade do estudo com informações deste ano.
"Ainda assim não faz sentido manter as escolas fechadas com o restante da economia aberta. A vacinação dos profissionais de educação, no entanto, é essencial para a reabertura", afirmou Brasil.
Para os pesquisadores, não há "papel significativo" das crianças na propagação da pandemia, embora as escolas tenham permanecido fechadas.
Dados da SES (Secretaria Estadual de Saúde), por exemplo, indicam que já tiveram mais de 9,1 mil casos confirmados entre pacientes com até nove anos de idade, além de sete óbitos. Vale lembrar que o Estado tem mais de 250 mil casos e 6 mil mortes.
Hoje as escolas particulares em Campo Grande adotam ensino híbrido - que mescla atividades presenciais e virtuais - enquanto as públicas estão em regime totalmente remoto. Ainda assim, a Reme (Rede Municipal de Ensino) já informou que deverá retornar em julho deste ano, enquanto a rede estadual ainda não tem previsão.
Reabertura - Realizado por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), da Universidade da Califórnia e da Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres, o estudo foi aceito para publicação na revista Pediatrics, editada pela Sociedade Americana de Pediatria.
Para eles, não há benefício evidente em manter escolas fechadas se outros locais com risco de infecção maior estão abertos, como shoppings, bares e restaurantes. Defendem, porém, que a volta às aulas seja feita com vacinação dos profissionais de educação, cuidados de higiene, distanciamento social e uso de máscara.
Inclusos no programa vacinal no começo deste mês em Mato Grosso do Sul, pelo menos 23,5 mil profissionais da educação básica - ensino fundamental e médio - receberam uma dose de vacina, o que corresponde a mais da metade, já que o grupo é estimado pela SES (Secretaria Estadual de Saúde) em 43,2 mil pessoas.
Apesar disso, além de grande parte ainda não ter tomado nenhuma dose, o prazo de 2ª dose ainda não se iniciou nesse grupo. Portanto, não estão com total imunidade prevista contra a doença.
Os pesquisadores lembram ainda que em países de alta incidência da covid-19, como o Brasil, é preciso imunizar no mínimo 85% da população para de fato conter a pandemia. E esse percentual só será alcançado com a inclusão de crianças no programa de vacinação - 25% da população brasileira têm menos de 18 anos.
Atualmente, nenhuma das vacinas contra a covid-19 foi aprovada para crianças. Elas não participaram dos ensaios clínicos por não são fazerem parte dos grupos prioritários. No entanto, fabricantes de alguns dos imunizantes já iniciaram testes com crianças.
Apesar disso, a Pfizer/BioNTech anunciou que pedirá autorização à agência reguladora europeia para vacinar, a partir de junho, a faixa etária entre 12 e 15 anos - que foi autorizada nesta semana a receber doses no Canadá. A Pfizer também espera para julho resultados dos testes com o imunizante em crianças de 5 a 12 anos e para setembro, resultados dos ensaios clínicos com bebês a partir de seis meses de idade.