Décadas depois, a briga é pela caneta que assinou a criação de MS
Produtor rural de Itaporã jura que emprestou caneta a Geisel, mas versão oficial é outra
A caneta usada na assinatura da lei que criou Mato Grosso do Sul é história com, pelo menos, duas versões. Em 11 de outubro de 1977, o então presidente do Brasil, o general Ernesto Geisel, assinou a lei complementar nº 31. O ato foi acompanhado por centenas de autoridades e políticos em Brasília. Entretanto, o objeto usado para assinar é motivo de controvérsias.
De um lado, o produtor rural Antônio Ferreira dos Reis, de 80 anos, o “Varanda”, jura que estava, junto com seu então cunhado e prefeito de Itaporã na época, Antônio Cordeiro Neto, no Distrito Federal e emprestou a caneta para Geisel. Varanda conta que o cunhado foi convidado para a assinatura e tinha direito a levar dois acompanhantes, e Ferreira foi um deles. “Não lembro quem era o outro”, comentou.
A caneta em questão é uma Parker 51, feita em Dourados, segundo a história de Varanda. “Teve um coquetel, foi um dia bem confortável no palácio do governo. Quando foi para assinar, o presidente perguntou quem tinha uma caneta pra emprestar. Eu estendi minha caneta pra ele assinar”, conta.
Entusiasmado com essa história, o promotor de Justiça de Dourados, João Linhares, resolveu divulgar o fato e vai até fazer uma caixa de acrílico e deixar a caneta exposta no prédio do Ministério Público da cidade. Varanda lhe presenteou com o objeto recentemente.
“Dias atrás, ganhei-a de presente do Varanda e acho que a sociedade merece, neste momento tão significativo, saber um pouco mais e conhecer essa caneta e essa história tão interessante e significativa de nosso povo”, destaca o promotor.
Sobre a caneta ter ficado “escondida” por tanto tempo, Varanda diz que não dava a devida importância a isso e que apenas entendeu o tamanho do peso histórico ao comentar o fato com o promotor. “Não pensava que ia dar uma repercussão desse tamanho”, avaliou o produtor rural.
Controvérsias – Já se passaram 45 anos desde a criação de Mato Grosso do Sul, comemorada hoje (11). Nomes importantes do Estado e que poderiam ter testemunhado esse fato, como o historiador Paulo Coelho Machado ou mesmo Pedro Pedrossian, já faleceram.
O Campo Grande News, no entanto, procurou checar mais a fundo e foi indicado, pela assessoria do deputado estadual Londres Machado (PP) e também pelo sociólogo Paulo Cabral a procurar a filha de Paulo Coelho Machado, Marisa Machado. Ela informou que seu pai nunca lhe contou essa história da caneta Parker 51 e que o responsável por providenciar o equipamento na ocasião era Marcelo Miranda, então prefeito de Campo Grande.
“Na verdade, não sabemos o que foi feito dessa caneta”, comentou. Marisa, em 1977 estava com 18 anos e junto com sei pai, acompanhou a assinatura em Brasília. “A Liga Sul Mato-grossense pró divisão de que meu pai era presidente, fretou um avião e fomos pra Brasília. Foi emocionante”, afirmou.
Sobre o momento da assinatura e mesmo o pedido de caneta feito por Geisel ela diz que não se lembra. “Só me lembro que quando foi cobrada a existência da caneta, para ser guardada pelo Estado, o Marcelo Miranda disse que havia entrado ladrão em sua casa e levado a caneta”, sustenta, sem saber confirmar se a história de Varanda é real.
No ano passado, ela tomou conhecimento da caneta Parker 51, quando esteve em Dourados para um evento. Na ocasião, o promotor João Linhares lhe mostrou a caneta e contou a história. “Eu não tenho certeza dessa história”, avalia.
A reportagem tenta contato com o ex-prefeito e ex-governador Marcelo Miranda através de seu neto, o deputado estadual João Henrique Miranda Soares Catan, desde semana passada, mas não obteve retorno.