Alunos denunciam universidade por fraude no Fies e cobranças indevidas
Instituição lança no sistema do programa valores maiores do que a realidade e ainda cobra alunos à parte.
Alunos da Uniderp denunciam fraudes cometidas pela instituição junto ao Fies, programa em que o Governo Federal financia cursos em faculdades particulares e os beneficiados só pagam depois de se formarem. Os problemas apontados envolvem lançamento de valores maiores do que a realidade e cobranças extras feitas diretamente aos acadêmicos.
Uma das vítimas é uma mulher de 36 anos que faz Odontologia. Com medo de retaliações, ela pediu para não ser identificada. Ela descobriu a irregularidade por curiosidade, quando resolveu acessar o sistema do Fies e descobriu que a Uniderp tinha recebido do Ministério da Educação R$ 24.270,20 por aquele semestre, mas no ambiente da instituição de ensino constava o valor de R$ 22.857,65.
“Noventa e nove por cento dos alunos não olham isso. Eles simplesmente aceitam o aditamento porque precisam, querem terminar logo o curso. Então a maioria não vê, não percebe. E isso vem se alastrando, não é de agora, eles lançam errado há muito tempo. Quando a gente percebe e reclama, eles modificam”, disse ao Campo Grande News.
A estudante procurou a universidade para cobrar explicações. “Quando eu comecei a reclamar, que eles viram que outras pessoas estavam escutando, me chamaram para uma sala reservada, abafaram o caso”.
Segundo ela, a justificativa dada pela Uniderp foi de que houve um erro de digitação nos valores e a diferença foi devolvida para ela como créditos no qual foram abatidas taxas de liberação de documentos, multas de biblioteca, etc.
Contudo, segundo ela diz, os problemas dela estavam só começando. Tempos depois, a instituição começou a cobrá-la por serviços não solicitados. “Falaram que eu tinha cópias e impressões. Deram 200 folhas e eu nunca imprimi nada lá. E eles vão lançando. É de pouquinho em pouquinho e você vai ficando com vários débitos”.
Esses valores foram questionados pela acadêmica, mas a universidade garante que eles são verídicos e, segundo ela, se recusam a cancelá-los. Essa dívida aumentou ainda mais quando por um erro da coordenação, algumas disciplinas não foram lançadas no sistema do Fies dentro do prazo exigido pelo Governo Federal e começaram a ser cobradas diretamente da aluna.
A Uniderp até ontem exigia dela o pagamento de R$ 18 mil. Hoje, o montante saltou para R$ 41 mil. O nome dela foi incluído no cadastro de inadimplentes do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito). Isso está impedndo que ela consiga se matricular no semestre corrente.
“Estou impossibilitada de acessar o meu portal do estudante, porque eles dizem que meu débito é verídico, quando na verdade não é. Eles que não lançaram corretamente as matérias. Por conta dessa 'dívida', eu não posso pedir o material de consumo usado nos estágios, porque eu tenho que parceá-los e eles não fazem isso se eu estiver com nome sujo”, afirma a estudante.
Medidas - A mulher está assistindo as aulas mesmo sem ter o nome na lista de chamadas, mas foi informada que nos próximos dias a catraca da portaria irá barrar os inadimplentes.
Ela e um grupo de outros estudantes lesados procuraram o Procon e denunciaram o caso. Juntos, eles contrataram um advogado e devem entrar com uma ação contra a Uniderp com medo de que as irregularidades possam acarretar na perda do financiamento.
O caso é apenas um em centenas. Alunos de vários cursos têm problemas com a Uniderp envolvendo situações relacionadas ao Fies.
Somente o escritório do advogado Ale Nasis Salum está com seis ações abertas de beneficiários do programa do Governo Federal nessa mesma situação, todos do curso de Assistente Social. “Eles entregaram o aditamento para a instituição dentro do prazo correto, mas no sistema, diz que a pessoa está devendo o semestre”, afirma.
Ele pega casos como este há pelo menos quatro anos. “Teve um que chegou a render R$ 10 mil por danos morais. Às vezes, mesmo com as liminares eles se recusam a cumprir as decisões. Houve um caso que o juiz estipulou R$ 400 por dia em caso de descumprimento, caso não retirassem o nome do aluno do SPC. A Uniderp ficou 40 dias pagando multa”, lembra o advogado.
As situações mais graves são as que afetam os estudantes no fim do curso, que na maioria das vezes são impedidos de colar grau.
O Campo Grande News entrou em contato com a Uniderp por meio da assessoria de imprensa. A instituição se comprometeu a responder aos questionamentos na manhã desta sexta-feira, o que não aconteceu.