Alunos denunciam universidade por fraude no Fies e cobranças indevidas
Instituição lança no sistema do programa valores maiores do que a realidade e ainda cobra alunos à parte.
Alunos da Uniderp denunciam fraudes cometidas pela instituição junto ao Fies, programa em que o Governo Federal financia cursos em faculdades particulares e os beneficiados só pagam depois de se formarem. Os problemas apontados envolvem lançamento de valores maiores do que a realidade e cobranças extras feitas diretamente aos acadêmicos.
Uma das vítimas é uma mulher de 36 anos que faz Odontologia. Com medo de retaliações, ela pediu para não ser identificada. Ela descobriu a irregularidade por curiosidade, quando resolveu acessar o sistema do Fies e descobriu que a Uniderp tinha recebido do Ministério da Educação R$ 24.270,20 por aquele semestre, mas no ambiente da instituição de ensino constava o valor de R$ 22.857,65.
“Noventa e nove por cento dos alunos não olham isso. Eles simplesmente aceitam o aditamento porque precisam, querem terminar logo o curso. Então a maioria não vê, não percebe. E isso vem se alastrando, não é de agora, eles lançam errado há muito tempo. Quando a gente percebe e reclama, eles modificam”, disse ao Campo Grande News.
A estudante procurou a universidade para cobrar explicações. “Quando eu comecei a reclamar, que eles viram que outras pessoas estavam escutando, me chamaram para uma sala reservada, abafaram o caso”.
Segundo ela, a justificativa dada pela Uniderp foi de que houve um erro de digitação nos valores e a diferença foi devolvida para ela como créditos no qual foram abatidas taxas de liberação de documentos, multas de biblioteca, etc.
![Valor financiado pelo Fies, que aparece no sistema do programa do Governo Federal (Foto: reprodução)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2020/03/10/2dhk3k5t0ntt.jpg)
![Valor que aparece no sistema da aluna era menor do que o informado ao Governo Federal (Foto: reprodução)](https://cdn6.campograndenews.com.br/uploads/noticias/2020/03/10/k3hwq9yam2ay.jpg)
Contudo, segundo ela diz, os problemas dela estavam só começando. Tempos depois, a instituição começou a cobrá-la por serviços não solicitados. “Falaram que eu tinha cópias e impressões. Deram 200 folhas e eu nunca imprimi nada lá. E eles vão lançando. É de pouquinho em pouquinho e você vai ficando com vários débitos”.
Esses valores foram questionados pela acadêmica, mas a universidade garante que eles são verídicos e, segundo ela, se recusam a cancelá-los. Essa dívida aumentou ainda mais quando por um erro da coordenação, algumas disciplinas não foram lançadas no sistema do Fies dentro do prazo exigido pelo Governo Federal e começaram a ser cobradas diretamente da aluna.
A Uniderp até ontem exigia dela o pagamento de R$ 18 mil. Hoje, o montante saltou para R$ 41 mil. O nome dela foi incluído no cadastro de inadimplentes do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito). Isso está impedndo que ela consiga se matricular no semestre corrente.
“Estou impossibilitada de acessar o meu portal do estudante, porque eles dizem que meu débito é verídico, quando na verdade não é. Eles que não lançaram corretamente as matérias. Por conta dessa 'dívida', eu não posso pedir o material de consumo usado nos estágios, porque eu tenho que parceá-los e eles não fazem isso se eu estiver com nome sujo”, afirma a estudante.
Medidas - A mulher está assistindo as aulas mesmo sem ter o nome na lista de chamadas, mas foi informada que nos próximos dias a catraca da portaria irá barrar os inadimplentes.
Ela e um grupo de outros estudantes lesados procuraram o Procon e denunciaram o caso. Juntos, eles contrataram um advogado e devem entrar com uma ação contra a Uniderp com medo de que as irregularidades possam acarretar na perda do financiamento.
O caso é apenas um em centenas. Alunos de vários cursos têm problemas com a Uniderp envolvendo situações relacionadas ao Fies.
Somente o escritório do advogado Ale Nasis Salum está com seis ações abertas de beneficiários do programa do Governo Federal nessa mesma situação, todos do curso de Assistente Social. “Eles entregaram o aditamento para a instituição dentro do prazo correto, mas no sistema, diz que a pessoa está devendo o semestre”, afirma.
Ele pega casos como este há pelo menos quatro anos. “Teve um que chegou a render R$ 10 mil por danos morais. Às vezes, mesmo com as liminares eles se recusam a cumprir as decisões. Houve um caso que o juiz estipulou R$ 400 por dia em caso de descumprimento, caso não retirassem o nome do aluno do SPC. A Uniderp ficou 40 dias pagando multa”, lembra o advogado.
As situações mais graves são as que afetam os estudantes no fim do curso, que na maioria das vezes são impedidos de colar grau.
O Campo Grande News entrou em contato com a Uniderp por meio da assessoria de imprensa. A instituição se comprometeu a responder aos questionamentos na manhã desta sexta-feira, o que não aconteceu.