Apartamento que serviria de “paiol” para ataque a Moro foi alugado por foragida
Mulher de integrante de facção preso em janeiro teve prisão decretada no início deste mês
Moradora que “nunca deu problema”, Andressa Leite Farias, 42, a locatária de apartamento mobiliado na Capital, alvo de buscas na Operação Sequaz, da Polícia Federal, na quarta-feira (22), é procurada pela polícia. Para a investigação, a unidade no Residencial Castelo de San Marino, no Bairro Pioneiros, poderia servir como “paiol”, para o armazenamento de armas necessárias aos planos de atentar contra a vida de servidores públicos e autoridades, como o ex-juiz federal e ex-ministro da Justiça, senador Sergio Moro (UB).
Esposa de Evandro Rubier Dias da Silva, 53, o “Trombada” do PCC (Primeiro Comando da Capital), Andressa teve a prisão preventiva decretada, no início deste mês, pela Justiça Federal de Rondônia, por supostamente fazer parte de núcleo da facção criminosa, com atuação dentro e fora dos presídios do País, que planejava ataques contra funcionários das penitenciárias federais de Porto Velho (RO) e Campo Grande (MS).
Pessoa acima de qualquer suspeita, Andressa alugou o apartamento há cerca de um ano, mas já havia deixado o condomínio, conforme apurado pela reportagem com outros moradores, que pediram para ter os nomes preservados por segurança. “Boa parte dos apartamentos aqui têm mobília. A pessoa só entra com a roupa. E as imobiliárias tomam todas as precauções, investigam o nome. Se estava tudo ok...”, comenta um dos entrevistados, de 43 anos.
No residencial, até onde se sabe, ela entrou muda e saiu calada. Não causou qualquer tipo de problema. “Essa organização está infiltrada no Brasil todo. Não é exclusividade de condomínios de baixa renda. E se você mora em condomínio, você está sujeito, ninguém sabe quem mora do lado. Quem vê cara não vê coração”, também opinou o morador.
A moradia já estava sendo monitorada pela PF e nesta quarta foi vasculhada, mas policiais federais deixaram o local de mãos vazias.
Apesar de vazio, apartamento continuava tendo os aluguéis pagos por Andressa, conforme apuração da Polícia Federal. “Importante destacar que como o apartamento continua locado e pago, é possível que lá existam armas e/ou um ‘cofre’, pois normalmente, após alguém ser preso, os criminosos somem com armas, munições e qualquer material que possa incriminá-los. Como no caso em tela o apartamento ainda está alugado, é possível que tenhamos êxito em encontrar armas e munições”, diz trecho do pedido de busca feito pela PF à Justiça.
Conexão MS e RO – O marido de Andressa é integrante do PCC preso. Ele foi pego em Rondônia no dia 27 de janeiro deste ano junto com Douglas Costa Alves, 27, conforme apurado por Josmar Jozino, colunista do Uol. A dupla tinha planos de matar um funcionário do presídio de Porto Velho no dia seguinte.
Em um dos celulares apreendidos com Douglas, contudo, havia também informações sobre um servidor da Penitenciária Federal de Campo Grande. Tudo indica que o agente estava sendo seguido, em maio do ano passado.
Mensagem do dia 18 de maio de 2022 dizia que o alvo saía de casa às 7h e retornava às 18h30 e tinha também informações sobre a rotina diária do policial penal. Afirmava, por exemplo, que o homem ia para o trabalho em carro de aplicativo e morava perto da base do Batalhão de Choque da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul), na Capital.
Ainda conforme a apuração de Jozino, a segunda mensagem se refere a outro servidor, que sai de casa às 8h, deixa o trabalho direto para a academia, onde fica até às 20h40.
Juntando peças – O pedido de buscas no apartamento não explica qual exatamente é a ligação entre os alvos da investigação da PF de Rondônia com a célula chamada de “Restrita 5”, formada por cinco integrantes da alta cúpula do PCC que teriam planos de matar Moro.
O que liga o endereço ao planejamento do atentado é o fato de um dos presos na Operação Sequaz, Janeferson Aparecido Mariano Gomes, líder “dos 5”, ter enviado à sua companheira, Aline Paixão, “dados financeiros dessa empreitada criminosa, utilizando o código “México” para se referir ao Mato Grosso do Sul, além da abreviação “dd” referente a “dedé” e a expressão “ferramenta bico e peq”, que são “gírias usualmente empregadas no meio criminoso para indicar fuzil e pistolas”, diz outro trecho do material ao qual o Campo Grande News teve acesso.